JOÃO RIBEIRO
(1860-1934)
João batista Ribeiro de Andrade Fernandes, jornalista, crítico, filólogo, historiador, pintor, tradutor, nasceu em Laranjeiras, província de Sergipe e faleceu no Rio de janeiro, onde fez carreira depois de cursar Medicina, sem concluir o curso, na Bahia. Por concurso público, trabalhou na Biblioteca Nacional e depois no renomado Colégio Pedro II, na cadeira de Português. Estudioso de filologia, o que o levou a ter um papel decisivo nas reformas da própria língua nacional. Chegou a fazer estudos de pintura na Europa e a expor seus quadros mas foi no jornalismo e na literatura onde recebeu o reconhecimento por sua contribuição. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.
Obra poética: Tenebrosa lux (1881), Dias de sol (1884), Avena e cítara (1885) e Versos (1885).
MUSEON
II
Helés, a formosíssima das gregas,
Róseo trecho de mármor sob escombros
Dum Panteon que as divindades cegas
Soterraram depois de tê-lo aos ombros,
Helés, um dia, sobre a praia chegas ...
Inclinam-se extensíssimos os combros
E o vento alarga em frêmitos de assombros
Da túnica do mar as verdes pregas.
E tu reinas, tu só! Debalde, vagas
Sobre outras vagas se atropelam, correm,
Uma por uma, indiferente esmagas:
Como as paixões na tua vida ocorrem,
Uma e mais outra, nas desertas plagas
Chegam e morrem, e chegam e morrem.
IV
Este vaso quem fez, por certo fê-lo
Folhas de acanto e parras imitando.
É de ver-se a asa fosca o setestrelo
De saboroso cacho alevantando.
Que desejo viria de sorvê-lo
Os gomos todos um a um sugando,
Quando, contam, dos pássaros o bando
Do céu descia prestes a bebê-lo.
Examina este vaso. N'um momento
Crê-se vê-lo a voar, o movimento
D'asa soltando, como aéreo ninho ...
Será verdade que este vaso voa
Ou porventura à mente me atordoa
Seu capitoso odor de antigo vinho?
VIII
Foi com esta maçã d' oiro polido
Que as ambições movendo de Atalanta,
Pôde Hipomenes alcançá-la. E quanta
Vitória a essa em tudo parecida!
Ao ideal aspira! à estrela aspira! à vida
Aspira ó nada, ó turba agonizante,
Ou chores quando a terra alegre cante
— Ou cantes quando a lágrima vertida
Desça-te à boca. E bastaria, apenas,
Para galgar essas regiões serenas,
A maçã de Hipomenes, flébil, louro ...
E chegarás ao ideal e à vida, O pomo
Áureo atirando à própria estrela, como
Lá chega a l,:!z - por uma escada de ouro.
XI
Do mar e das espumas tu nasceste,
Ó forma ideal de rodas as belezas,
lnda teu corpo, mal vestindo-o, veste
Um colar de marítimas turquesas.
Milhares d'anos há que apareceste,
Outros milhares d'almas-sempre acesas
No teu amor, lá vão seguindo presas
Da rua garra olímpica e celeste.
Beijo-te a boca e sigo embevecido
Ondas sobre ondas, pelo mar afora,
Louco, arrastado qual os mais têm sido.
Ora te vendo as formas nuas, ora
Toda nua e sentir-te em meu ouvido
Do eterno som dos beijos meus sonora.
TEXTO EN ESPAÑOL
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traducción de Jaime Tello:
SONETO
Del mar y las espumas tu naciste,
Forma ideal de todas las bellezas,
Mal cubriendo tu cuerpo, aun la viste
Un collar de marítimas turquesas.
Millares de años ha que apareciste,
Otros miles de almas que embelesas
Con tu amor, allá van siguiendo presas
De esta tu garra, olímpica y celeste.
Tu beso y continuo embebecido,
Olas sobre olas, mar afuera, ahora
Loco, arrastrado como el mal ha sido,
Ora formas desnudas viendo, ora
Desnuda toda oyéndote en mi oído:
De mis besos el son te hecho sonora.
*
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
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