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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

JANE RIBEIRO LISBÔA

 

Nasceu em Aracaju em 30 de setembro de 1950. Fez o mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e inicia sua carreira docente na Universidade Federal de Sergipe.
Livro de poesia: Além do Vitral (1994).

 


FULô

 

Fulô é mulher moderna
trabalha por todo o dia.
De manhã cozinha e varre
a casa do seu Sinhô.

 

Bela Fulô! Bela Fulô!

De tarde cultiva um ócio
lava, passa, faz a ceia.
À noite perfuma a roupa
e é toda do Sinhô.

Bela Fulô! Bela Fulô!

Fulô deu de encrencar
abandonou o tricô
matriculou-se no inglês
aborreceu o Sinhô.

Essa Fulô! Essa Fulô!

Aderiu aos congelados
contratou uma diarista
inventou de estudar
no horário do Sinhô.

 

Ah, Fulô! Ah, Fulô!

Fulô é mulher moderna
já tem o grau de doutor
trabalha por todo o dia
e despediu o Sinhô.

 

Ah, Fulô! Ah, Fulô!

         

 

 

         ROSÁLIA

Quando Rosália enlouqueceu,
Ninguém quis acreditar...
Via um José no céu,
Via um José no mar.

No sonho em que se perdeu,
Ninguém a pôde salvar...
Queria o José do céu,
Queria o José do mar.

        Até que um dia os dois
Se fundiram no luar...
E Rosália encabulada,
Foi vestir o penhoar.

 

 

ESPONSAIS

 

Ama o poeta devagar.

Saboreia o sumo no ardor da sede.

Ronda o raso, o rio, vertentes.

 

Ama o poeta o vagar da língua
ao explorar o céu antes da boca
ao degustar estrelas
antes do céu.

 

Da afoiteza da juventude
não lhe restam travos nem travas.
Tem a certeza do corpo único
par e ímpar

aberto em gomos e gumes
mais secretos.

 

O poeta olha-o e olha devagar
cada curva, cada fresta
que explorou no sonho
e já não precisa sonhar.

 

Aprendeu com tantos a indefinição das rotas
o cio das correntes, o esgarçar dos ventos...
Curva-se aragem sobre a terra quente.

 

Ama o poeta devagar

(tão devagarmente!)

o texto reclinado nos lençóis da mente!

Na seda pele, palmo a palma,

adensa o denso

até fazê-lo concha na própria mão.

 

Ama o poeta elastecer o instante.
Na plenitude do gozo sobrevoa o ninho
gemendo harpas e cítaras devagarinho.

 

 

Página publicada em janeiro de 2020


 

 

 
 
 
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