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JAIME NORBERTO DA SILVA

 

Nasceu em Riachão do Dantas, Sergipe, no dis 15 de agosto de 1949. Fez o curso técnico agrícola em Aracaju e completou o curso na Universidade Rural, no Rio de Janeiro.

 

 

 

                CANTARES DE POETAS

 

Poeta, cante a saudade

cante o amor
cante a mulher               

cante a cidade
cante...
cante sobretudo o direito do homem à vida

 

Poeta, seja romântico

seja metafísico
seja concretista
seja marginal
seja...
seja sobretudo comprometido com a vida

 

 

Poeta, ouça o silêncio

ouça as estrelas
ouça o vento
ouça as flores
ouça...
ouça sobretudo os sentimentos do homem

 

                                (de Atrás do olhar – 1986)



 

MEU CANTO

 

Não carrego na garganta

a palavra rasgada.

Meu canto é língua de fogo,
é fruto maduro,
é terra molhada.

Estou preso à vida

        como a sombra ao corpo,
como a presa ao laço,
como o vinho ao cálice,
como o cão à carne.

 

Não priorizo na linguagem
sua face lúdica,
sua veia lírica,
seu olho de vidro,
seu noturno vôo.

 

De azul e silêncio,

de pedra e sono,

de suor e palavra,

de sal e argila,

de cais e planície,

de vinho e verde

vesti as metáforas do meu canto

imaginando domar

os olhos felinos do medo.

face a face,

de mãos dadas

com os meus companheiros.

 

Tecendo e sonhando
vou construindo um canto
que me permita (re)inventar
a floração do trigo
e os girassóis de Pasárgada.
Um canto com olhos de lince,
sem raízes superficiais,
que sinta o mundo

para além dos muros
e que na hora
de dar nome aos bois
transfigure a mística lucidez
da loucura e a inútil
vigência do ódio.

 

 

SILVA, Jaime Norberto da.   Atrás do olharSão Paulo: EDICON, 1986.   48 p.

Ex. bibl. Antonio Miranda  - Doação do livreiro Doação do livreiro Jose Jorge Leite de Brito

 

CONTRASTE

 

Nuvens claras
Passeiam
Pelo céu azul
Da manhã transparente,
Levadas pela mão
Da brisa serena.

Nuvens cinzentas
Galopam
Pela mente turva
Do homem angustiado,
Fustigados pelo vendaval
Que agita
Agruras e incertezas
Do viver
Dilacerado
Entre o Ter e o Ser.  

 

 

 

E QUE ADIANTA?

 

E que adianta bendizer a justiça?
E que adianta bendizer a paz?
E que adianta bendizer o amor?
E que adianta abominar o racismo?
E que adianta abominar a violência?
E que adianta abominar o armamentismo?
E que adianta abraçar a ecologia?
Se matamos os sonhos,
Se massacramos o outro,
Pouco a pouco, no dia-a-dia.

 

*

 

*

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Página publicada em agosto de 2021

 

Página publicada em janeiro de 2020


 

 

 
 
 
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