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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HUNALD DE ALENCAR

 

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Letrista e compositor de música popular, tendo sido premiado em vários festivais. Jornalista ex-Diretor da Galeria de Arte "Álvaro Santos ". Professor de Literatura (hoje à serviço do Colégio Estadual Vitória de Santa Maria). Filho de poeta (Clodoaldo de Alencar), irmão de artista (Leonardo Alencar), jurista (Luiz Carlos Fontes de Alencar), intelectual (Clodoaldo de Alencar Filho). É bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Letrista e compositor de música popular, tendo sido premiado em vários festivais. Jornalista ex-Diretor da Galeria de Arte Álvaro Santos. Membro da Academia Sergipana de Letras. Várias obras publicadas, entre elas: Tempo de Leste, Oito poemas densos, Verde silêncio da semana, Poemas de kandor ou a escravidão dos deuses, Uma vez em dolduvai, Elogio dos peixes ágeis, A solidão das palavras, Verde silêncio da semente, Ária suspensa e também A vassalagens das pedras. Por este último ganhou o prêmio Santo Souza, da prefeitura de Aracaju.

 

 

ALENCAR, Hunald de.  Elogio dos peixes ágeis e outros poemas.   Aracaju: 1983.  83 p. 15x21 cm.   Capa prateada, letras em branco, em relevo.  Nenhuma informação sobre a impressão do livro, edição do autor.  Col. A.M. (EA)

 

elogio dos peixes ágeis

 

IX

 

A Vinícius de Moraes

 

São femininas as ondas

do mar que sempre conquistas;

mergulhador do efémero

é no eterno que habitas.

 

A fluidez dos instantes

navegas como se o tempo

não passasse pra os amantes.

 

Todas as horas revoltas

são poucas pr'as tempestades.

do amor de muitas ondas

das mui fugidias coxas.

 

Vens, mergulhador exausto,

ao silêncio de águas p ou cãs,

às praias em que te espraias,

repousar os tantos sóis

mastigados em tua boca.

 

E é nos sonhos que constróis

o desejo de voar

pra outro aquário maior,

para o azul por sobre o mar,

tal se parece o infinito

o mais pleno oceano

pra teu amar sobre-humano.

 

Dos teu s plasmas submarinos

queres voar e subir

até ao país de Altair

pelos espasmos mais lindos.

 

Mergulhador e acrobata,

amas em sonhos e sonhas

no amor que te arrebata

 

E as ondas e as nuvens

faz tua poesia infinda

cada vez mais femininas

 

No mergulhar, no voar,

vais recolhendo as estrelas

de água, fogo, terra e ar

pra no efémero perdê-las

mas no eterno surpreendê-las.

 

E contemplas as margens

que um dia foram viagens

no instante em que perduras

no infinito enquanto dura.

 

Sentimos então que tu amas

além da fêmea-universo

o mundo inteiro em tua cama

quando copulas teus versos.

 

Sentimos então que tu amas

além da fêmea-universo

o mundo inteiro em tua cama

quando copulas teus versos.

 

Entre ti e o espelho

tu colocas a mulher

pois amando a que te é bela

ficas moço e não velho:

 

o espelho não revela

as pegadas do caminho

pois que vês antes a rosa

e olvidas os espinhos.

O que não vês e não sentes

a ti faz-te um peixe-fênix.

 

Podes assim de alta voz

lançar teu canto varão

aos que no amor constroem

este mundo em construção...

 

 

 

 

ALENCAR, Hunald de.  Vassalagem das pedras.  Aracaju: Secretaria de Estado da Cultura,   2005.  118 p.  16x21 cm.   

Erik Satie

A vida, seu vário sentido:
dor ou apenas sustenido?

As fendas entre a lágrima e o riso
- harmonia dos guizos.

A morte, o costumeiro improviso.

 

O quinto

Por quatro solidões povoadas
permeias a fonte subterrânea dos fados
que o universo equilibra.

Noturnamente renasces
de algas sombrias a vestir
a clara roupagem dos dias.

Distante errante domicílio
em que te revisitas,
fisionomia de bruma,
será este o castigo?

Não sei se te busco. Não sei
se entre pessoas me perco.
- Finjo então que te conheço.

 

 

Gravura burguesa

 

O apito do guarda-noturno circula minha insônia.
Os cães mordem o silêncio dos gatos.

O poste da esquina alteia a luz doente.

Uma vaga geografia de quintais.

 

A lua hoje não passará por minha rua.
A noite dormirá em paz

nas dobras mornas dos telhados.
Habito no breu silencioso da janela.
Súbito o estampido:

uma mulher se desdobra em solfejo
na pauta vermelha do asfalto.
Janelas fechadas.

Os cães dialogam os espantos.
A morte quarando o abandono.
Casas sem janela.

A luz do poste ainda mais doente
apaga a geografia dos quintais.

O guarda, noturno, acende a madrugada.
A morta deve ter ido na última sombra.
Deito-me à beira da notícia.

Mãos

não sei de onde

passam em meus cabelos
a carícia de um outro dia
que chegou mais cedo.

 

 

Movie

 

                                   a Bruno

 

Autografados pelo tempo

os fotogramas no copião da memória.

 

Para que legendar a lágrima
ou o incidental sorriso?

 

Pelo travelling das horas

somos os mesmos figurantes
numa grande angular de esperas.

 

 

Ars

 

Todo poema é breve
a poesia eterna:
a água se reesculpe
com instantâneos de pedra.

 

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(Página ampliada por SALOMÃO SOUSA)

 

 

Hunald de Alencar

( Do livro inédito "ALVENARIA DA ÁGUA")

 

 

 

Senhora de Guadalupe

Era a lágrima da tarde:

Da janela se avistavam

Duas torres de saudades.

 

Os cristais eram mais belos

Com os verões juvenis:

O piano tinha uma sala

Povoada de boleros.

 

Mas era a brisa das águas

O bosque dos pensamentos:

As correntezas morenas

Dentro da carne dos ventos.

 

E quando a noite moldava

Os azulejos sombrios,

Senhora de Guadalupe

Recolhia as torres tristes

Na orfandade do rio.

 

 

 

ALENCAR, Hunald.Verde silêncio da semente.  Aracaju: Edições Caiçara, 1967.  78 p.  14x22 cm.  Col. Salomão Sousa  (EA)

 

 

ESTANCIANA

 

Poema II

“Galopei naquela noite

pelo melhor dos caminhos”

LORCA

Venho de longe, amada, de muito longe

com duas estrelas mortas nos olhos

de tanto cavalgar a noite

 

Venho de longe, amada, de muito longe

com este correr de sangue em minha sombra

sem saber quem fui ontem

para que hoje pudesse morrer em meu cadáver

 

Ah, tropel de trevas pela terra

possam quedar-se as estrelas mortas

em teu corpo de renascida paisagem:

 

venho ver-te

venho ver-te com a secular aflição dos ventos

procurando uma forma nas montanhas

 

Ah, tropel de trevas pela terra,

noite amanhecida em tua presença carmezim

e alcançado destino em minha própria distância

possam existir outro galopar e outra terra

quando amanheceres úmida de mim.

 

 

 

Canção dos punhais apagados

 

Dentro do peito eu tenho

quarenta punhais apagados:

sementes de aço na carne

de fruto ou sol esperados

 

Eles nasceram das lágrimas

demais pra serem choradas

e no tempo é que fundiram

sua metálica geografia

 

Dentro do peito eu tenho

quarenta punhais apagados

tatuando de esperança

a pele das agonias

 

Eis que a hora de acendê-los

sabem os olhos guerrilheiros

abertos nos punhos fechados

Eis que a hora de acendê-los

revelarão os espelhos

do homem multiplicado.

 

 

ALENCAR, Hunald deDuo para Poesia e Teatro. Aracajú, 2011.  208 p. Impresso pela Nossa Gráfica. 15x21 cm. “Hunald de Alencar “    Ex.bibl. Antonio Miranda


 

Essas Horas

 

Após voltarem os rios às nascentes

E os ventos concertarem o silêncio,
Domestiquei as horas compulsivas
Com a monda dos púbis proibidos
Daqueles anjos que me foram súcubos.
Elipses que o tempo não desbasta,

Que ele só em si mesmo é que se basta,
Eu fiquei sempre à véspera do adeus
Como ensaiando um beijo para a morte.
Uma luz que alimentasse a penumbra,
Ainda fossem meus, alheios vórtices,
As horas se estancaram ensimesmadas

 

Tal um espelho vivo a cultivar

          Sua coleção de imagens congeladas.

 

Oficio

Cultivava canteiros de um jardim
Com uma hierarquia de soluços.
Mas nunca soube, sim, por que havia
Tanta preocupação com a paisagem
Se as flores que brotavam eram cegas.
Depois, então, as lágrimas dobrava
Como se a compulsão já fosse finda.
Mas eis iam comigo as flores tristes,
Fosse um jardim portátil dolorido
Essa vontade de repor os dias.
E, se era a tarde sempre a desfolhar
As sombras pela terra acumuladas,

          Assim neste meu pranto me entendi
          Ser a paisagem cega cultivada.

 

Casa-de-Farinha

Dentro da noite, a casa-de-farinha
Guarda, nas engrenagens em espreita,
A memória esfarelada das colheitas.


No canto poento da sombra, o sono
Da areia, a mandioca ainda encerra;
É a casa-de-farinha que sonha
Moer o próprio tempo pela terra.

 

Lápide

Anônimas palavras desgarradas -
Perdida a frase, a lápide silencia,
Que os versos são poeira já levada,
E é, destas mãos, a mímica somente
Do vento, a escultura fugidia:
Se ao que eu sou, nem fui o que sabia,
Como enterrar as rimas passageiras
Tal se plantasse apenas a poeira,
Mas que brotar quisesse a presença
De tudo que, por medo, eu carpia:
Instantes dos enganos tão somente
Neste xadrez do vento com o tempo, |

          Se nem existem rotas nem derrotas,
          Mas fluidez dos gestos, simplesmente.

 

ALENCAR, Hunald de.  Os maguinus. Era uma vez o amor... Quem matou o público? Três peças de teatro de Hunald de Alencar. Aracaju, SE: 1987.  126 p.    Capas: Leonardo Alencar.

 

(fragmento)

 

Personagem: DOZINHO

 

 

Nóis semo assim nessa terra.
Pra tudo temo remédio.
Semente de mirassol,
casca de alho e mostarda

e da galinha o cocô
fazemo o difumador (Olha para o padre)
Mas não dizer à pessoa

que teve a tal congestão:

fica no vento o segredo,

fica nos olhos o medo

e um amém de devoção

por esta vida roubada

cada pegada na estrada,

na cara moça enrugada,

no sangue de nossa urina,

que adoça o mel da usina

pois esta merda que tenho
quem me cagou foi o engenho,
desde o tempo dos avós
 magros e nus e tão sós
bebendo o próprio suor.

Mas até quando será

que a raiz de vassourinha,
flor de laranja de umbigo
vai salvar a criancinha?
Mas até quando será

que o rosário de castanha
vai impedir de crescer
essa isipela tamanha?
(Para o padre)

Me responda seu padre,
rezando?

 

  

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2012, ampliada e republicada em setembro de 2012, ampliada e republicada em dezembro de 2015.

 

 

 


 

 

 
 
 
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