João Freire Ribeiro, mais conhecido como Freire Ribeiro, nasceu em 4 de setembro de 1911, no Sítio São José., em Aracaju, sendo seus pais José Augusto Ribeiro e Erundina Freire Ribeiro.
Faleceu em Aracaju, no dia 24 de janeiro de 1975.
T R O V A S
Tens crepúsculos de sonhos
que fazem doces desmaios
nos dois poentes tristonhos
dos teus olhares malaios.
Teu beijo morno e dolente,
de volúpia ardente e louca,
faz-me crer constantemente
que tem ópio a tua boca...
Teus olhos lembram cigarras
de luz - cigarras pagãs.
Teus olhos são cimitarras
brilhando ao sol das manhãs.
Não há no mundo um pedaço
de continente, talvez,
que não deva um culto ao menos
ao valor do português.
(Extraído de http://falandodetrova.com.br/joaofreireribeiro)
ELOGIO DE ORFEU
Dedicado a Hermes Fontes
Áureo templo de luz o Parthenon sagrado
Das deusas siderais, do deus Amor, falenas,
Num mistério de dor, ficou só, mergulhado
Na partida de Orfeu, - inspiração de Atenas.
Inteira a Grécia toda, a Hélade formosa,
Canaã secular dos luminosos deuses,
Entoou ao luar qual matrona chorosa
A menina mais sutil dos hinários do Elêusis.
Na floresta do amor, radiosa, a Manhã
Adormeceu também, abandonando Pan
As ninfas divinais de solitário lago,
Ofertando a Orfeu adormecido e excelso,
Imagem tutelar do sonho preexcelso,
Sua flauta pagã, - melodia
Também quando partiu o poeta da Fonte
Em demanda do Azul, abandonando a Terra,
O Sol do apogeu não mais beijou o monte,
Nem a lua surgiu, iluminando a serra.
Terna mãe piedosa, a Terra, sempre boa,
Que nos guarda o horror do derradeiro anseio,
De ‑ ores boreais lhe teceu a coroa
Dos grandes imortais da luz da Glória em meio.
E ele dormiu assim, sublimado e contrito,
Ente os braços da Terra que o abrigo lhe deu,
A Terra, - do Espaço, – um pequeno finito,
Maior do que a Terra, – Hermes Fontes, – o Orfeu.
Poetas que passais e sofreis pelo mundo
As dores tão cruéis da sorte mais ingrata,
Vinde ver na floresta, em murmúrio profundo,
A fonte que ficou desditosa, na mata.
Vinde ver e chorai... A eterna constância
Da Fonte a soluçar, melodiosa e calma,
Parece nos falar dessa segunda infância
Que o Poeta nos diz, com queixumes na alma,
Vinde ver e chorai! Fazei odes anacreontes
Proclamando ao luar da suprema agonia
Aquele que se foi, o Orfeu – Hermes Fontes, -
Herma de Pensamento, – Fonte de Poesia! ...
SOB A LUZ DO MEU CÉU
Sob a luz do meu céu, num silêncio divino
Consultei certa vez o meu grande destino,
O destino cruel que martiriza a vida
Dos que vivem a sonhar na quadra reflorida
Da primavera em flor, de excelsa mocidade
Banhada pela luz de estranha claridade.
E esperei o falar dos astros sibilinos,
Peregrinos do azul e no azul peregrinos ...
E uma estrela falou na altura iluminada
Mostrando o amanhã incerto do meu Nada:
—Hás de ser um Poeta. Um divino tristonho
Procurando na vida o mistério de um sonho,
De um sonho que virá dentro da tarde morta,
Na hora vesperal que a existência conforta,
E esse sonho, essa luz que te prediz a sina
Há de ser a mulher, a rosa purpurina
Do jardim eternal do supremo desejo
Onde a mágoa se esvai na volúpia de um beijo.
Mas a estrela mentiu... Hoje em dia, na terra,
A minha alma a sofrer constantemente erra
À procura do bem que me deu o Destino,
Sob a luz do meu céu, num silêncio divino...
QUANDO NASCE O LOIRO DIA...
Quando nasce o loiro dia
Das manhãs de Portugal,
A lua ainda alumia
O campo, a serra e o val.
A paisagem é linda e bela
Tão formosa e tão louçã,
Tomando cores de estrela
Sob o luar da manhã.
Nessas horas assim calmas
É que Junqueiro escrevia
A epopeia das almas
Festas de luz e harmonia.
Dessas almas sonorosas
Dos sublimados heróis,
Das caravelas famosas
–augustas noivas dos sóis.
Página publicada em janeiro de 2020