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CARMELITA FONTES
(1933- )
Carmelita Pinto Fontes nasceu em Laranjeiras (SE) a 01 de fevereiro 1933. Licenciada em Letras e pós-graduada em Linguística, Literatura Francesa, Literatura Hispano-Americana. Professora, poetisa, contista, cronista, jornalista e teatróloga. Em 1962, tornou-se co-fundadora da Academia Sergipana de Jovens Escritores. Carmelita também fez parte do Conselho Estadual de Cultura, do Conselho Estadual de Educação, e Diretora da revista da UFS, tendo desenvolvido várias atividades referentes às culturas.
Carmelita Fontes também fez parte do Conselho Estadual de Cultura, do Conselho Estadual de Educação, e Diretora da revista da UFS, tendo desenvolvido várias atividades referentes às culturas.
Sua maior obra é considerada o livro de poemas Tempo de Dezembro, lançado em 1982.
INCERTA CERTEZA
Já não se se te amei como devia
Já não sei se te quis como eu queria
Sei que te amei bem mais de que podia
Mais tempo do que eu tinha para amar
Não sei se me esqueci pra te lembrar
Não sei se me perdi pra te buscar
Sei que te busquei mais do que sabia
Menos do que se sabe pra encontrar
Não sei se te venci ou me venceste
Não sei se te perdi ou me perdeste
No jogo que arrisquei pra te querer
Só sei que te perdendo sem cessar
Um dia deixarei de te lembrar
Um dia cansarás de me esquecer.
TRÂNSITO
A multidão
Acendeu os olhos
Na pista dos meu sonhos
E engoliu as curvas dos meus passos
— O tempo desbotou o verde
deixado nos faróis.
E eu estou parada
Na noite
Acendendo em cada esquina
Um sinal vermelho.
AS CASAS
Fechadas
Caladas
..........................
Sementes de gritos
Que não brotam
E se congelam
Suspensos
Sob telhas mortas
Abertas
Vazias
.....................
Jazidas construídas
De mágoas coaguladas
Despejadas
Na foz
De cada rua
SILÊNCIO
de onde vem este silêncio
que se interpõe entre nós?
Da vida
misteriosa
que se apaga
mal se acende?
de onde vem este silêncio
que nos fez perder a voz?
desta pedra
que tapou o mundo
e abafou
nossas palavras?
de onde vem este silêncio
que nos congelou aos dois?
deste vento frio
que nos envolveu
e estando vivos
parecemos mortos?
de onde vem este silêncio
que nos fez chegar sem termos prosseguido?
desta desolação
que nos deixou perdidos
e estamos sós
sem haver deserto?
de onde vem este silêncio
dissolvendo o mundo que mal começamos?
deste agora morno
em que navegamos
se as nossas vozes
só cantavam: sempre?
(De Baladas do inútil silêncio - 1965)
POEMA DO IMPOSSÍVEL
trincam cadeias no espaço dos teus passos
e teus gestos se quebram na crise de entre-horas
tua face pesada dorme na pálpebra
do meu desejo infinito de despir-te entre auroras
e beber a luz que vaza de tuas esferas invisíveis
tudo em ti é abandono
tecem-se os fios de palavras sobre tua ausência de vaga em
retirada
e os símbolos se acendem no bojo deste verbo impossível
brincam raios em tuas formas de estrela evadida
e meus dedos tropeçam em círculos concêntricos
envolvendo tuas garras metálicas
tudo em ti é incêndio
sobe o mar em teu peito de ondas famintas
e eu escalo o dorso dessas vagas elétricas
dormem sonhos em tua ânsia de paz violentada
e meus gestos arquejam sobre abismos de calma
esmagados na praia de horizontes perdidos
tudo em ti é ocaso
(De Tempo de dezembro - 1982)
INCERTA INCERTEZA
já não sei se te amei como devia
já não sei se te quis como eu queria
sei que te amei bem mais do que podia
mais tempo do que eu tinha para amar
não sei se me esqueci pra te lembrar
não sei se me perdi pra te buscar
sei que te busquei mais do que sabia
menos do que se sabe pra encontrar
não sei se te venci ou me venceste
ão sei se te perdi ou me perdeste
no jogo que arrisquei pra te querer
só sei que te perdendo sem cessar
um dia deixarei de te lembrar
um dia cansarás de me esquecer
(De Verdeoutono - 1982)
Página publicada em janeiro de 2020
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