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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGLACY MARY

 

Aglacy Mary, mulher, negra, escritora sergipana, é também pedagoga e diretora de uma grande escola da capital de Sergipe.

 

POESIA NORDESTINA CONTEMPORÂNEA (metalinguagem e outras veredas). Christina  Ramalho;Éverton Santos, orgs.Aracaju:Editora ArtNer Comunicação, 2017.  173 p. (Série Acadêmica. Coleção Estudos Linguísticos e Literários, n. 6)        ISBN 978-85-69567-25-7  Autores dos textos: Cássio Augusto Nascimento Farias,  Christina Ramalho, Éverton Santos, Fabiana Ribneiro Carvalho, Maria Juliana de Jesus Santos, Marta Barreto, Michelle Pereira de Oliveira, Ralf Magno Barbosa   Pereira, Ricardo Itaboraí Andrade de Oliveira.  Poetas estudados nos textos: Lívio Oliveira, Adriano Espínola, Jeová Santana, Aglacy Mary, Frederico Barbosa, Arrieta Vilela e Gilberto Gil.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

         A LAVRA

         O que me delineia e localiza
         É seu olhar
         Seu não desvio da terra

Que desenha meu mundo

E me dá posse de bom punhado

 

Sei que sou

Porque me vê
Distingue-me da moldura
Das cenas circundantes
Descobre-me a pele
Toca-me a ferida
Recolhe-me o sangue

 

O que me multiplica e perpetua

É a lavra da pá

Submetida à intenção

Que se sabe nascida

E nunca se vê

Findada

Fincada

Recolhida

 

(MARY, 2008, p. 13).

 

 

 

LEMBRANÇA DO POETA

 

Assisto a você acontecer

Por uma vidraça embaçada

De uma janela de verão

Você passa

E eu suspiro

Chorando o limite

Que nos faz acontecer

Em terrenos diferentes

No meio do caminho do poeta

Havia uma pedra

No meio do meu caminho

Uma janela

 

            (MARY, 2008, p. 21).

 

 

 

MINHA PALAVRA

 

Sinto que desagradavelmente se surpreenda

Pois que escrevo para guardar a lembrança

Do que quisera que existisse um dia

Minha escrita é pausa

Ao requinte do silêncio de meus desejos

E me prefiro assim

Em rabiscos

Para não perder o gozo desta intimidade

 

Se meu sorriso insinua tristeza
Minha letra, mais livre, anunciará
Um fardo insuportável
Mas para vê-lo, caro amigo
Urge chegar mais perto
A não mais que um palmo
Do parapeito de minha janela
(aventura)

Ou espiar pela fresta aberta nas entrelinhas
Onde a palavra não insiste

 

         (MARY, 2008, p. 32).

 

 

 

         PROMESSA

 

Sinto os passos de seu perfume
E os sons alegres de seu canto
Ainda não se foi de todo a noite
E meu ar já se enche de cor
Na janela bate um ramo
Anunciando que não tarda
O acontecimento da flor

 

         (MARY, 2008, p. 33).

 

 

MEDIDA

 

Que tanto é um homem

Se me cabe nas mãos

No rigor e na leveza da palavra?

Se cabe no minuto do meu pensar

E na eternidade da minha dor?

Que tanto é um homem

Se me basta um meneio

Para percorrer seu corpo

E uma lágrima

Para penetrar as veredas de sua alma?

Que tanto é um homem

Se meu olhar vence a fronteira

Desverticaliza a cerca da diferença

E confunde sua certeza?

Que tanto é um homem

Se arde meu sangue em suas correntes

Carcereiras do discurso de sua memória?

Que tanto é um homem

Se de sua covardia

Faço as janelas que saem meu desejo?

Que tanto é

Que o meço assim

Em versos tão poucos?

 

         (MARY, 2008, p. 68).

 

 

 

Página publicada em novembro de 2017


 

 

 
 
 
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