ZAQUEU MACHADO
Nasceu na cidade de São Paulo no dia 27 de outubro de 1975. É professor, poeta, dramaturgo, ator e diretor teatral. Mestre em Letras (Lìngua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana) pela Universidade de São Paulo. Em 2003, publicou Tempo dissoluto, pela Editora Zook.
TEXTOS EM PORTUGUêS - TEXTOS EN ESPAÑOL
MACHADO, Zaqueu. Poesia restaurada. São Paulo: Editora Patuá, 2010. 142 p. ilus. col. 14x21 cm. ISBN 978-85-64308-48-0 Editores: Aline Rocha e Eduardo Lacerda. Projeto gráfico, capa e ilustrações: Leonardo Mathias – flickr.com/leonardomathias. Tiragem: 100 exs. Col. A.M. (EA)
BEIJO
Foi um beijo de unidade.
Não o de um ser em outro ser,
mas o daquela tácita inocência
que ainda não estava morta.
Foi um beijo de música.
Não o de um corpo em outro corpo,
mas o daquela velha ternura
que ainda não estava morta.
Foi um beijo de espanto.
Não o de uma palavra em outra palavra,
mas o daquela frágil ingenuidade
que ainda não estava morta.
Foi um beijo de purificação.
Não o de uma alma em outra alma,
mas o daquela mãe despedaçada
que ainda acalentava o filho morto.
São Paulo, 25 de junho de 2008
DESLUMBRAMENTO
A Carla Marina
Assim que a noite desceu, há pouco,
com suas luzinhas pendentes,
percebi, com certa demora, confesso,
o que uma criança intui, sem o pensar,
e abençoei minha tristíssima felicidade.
A casa tomava o fundo, completamente,
esperando, quem sabe escondida ou fingindo,
a passagem do tempo e dos mosquitinhos de chuva.
- Janeiro caloroso, meu amor...
O quintal desenrolava-se como as ervas daninhas,
e o meu deslumbramento era perceber
o imenso pedaço de céu sobre o meu quintal,
sobre a minha vida...
São Paulo, 6 de janeiro de 2005.
MADRUGADAMAR
A Carla Marina
A madrugada apascenta os corpos
em sua triste solidão de amar.
Os corpos confundem seus odores
entre lençóis e queixumes.
Amar é lamber com a alma humílima
a concha divina do esquecimento de Deus.
A madrugada tem carne de silêncio
e sangue e seiva de ternura e frémito.
O amor é belo e suave como suave
o tigre mergulha na escuridão da floresta.
Os corpos se abandonam: são dois rios
de ígneo descanso e margens oblíquas.
Amar é deitar-se feito espuma e areia
sobre o espasmo mudo e o gozo de tudo.
O amor entende os navios absortos
sobre a cálida superfície do mistério.
A madrugada alinhava noite e manhã
na breve entrega de amar, de madrugadamar.
São Paulo, 3 de agosto de 2009.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
(originamente escritos en castellano por el autor)
CASIDA
¡ Amor, amor, amor!
Mi llanto es suave
como la sábana amorosa
de tus brazos extendidos.
¡ Amor, amor, amor!
Mi llanto es amargo
como la piedra ardiente
de tu vientre amanecido.
¡ Amor, amor, mi amor!
Mi llanto es suave y amargo,
profundo cauce de rio,
para tu sed de tierra y cripta.
San Pablo, 2 de mayo de 2008.
DUENDE
A Félix Muñoz
La guitarra tira
al aire
viejos dolores
conocidos.
- Son amores rojizos de vida y muerte.
La guitarra clava
en la tierra
alfileres en füego
conmovidos.
- Son amores blancos de plaza y luna.
La guitarra saca
de lo más hondo
las contínuas flores
del llanto.
- Son amores enlutados de tiniebla y aurora.
La guitarra vierte
¡ Ay guitarra del Albaicin!
um chorro de savia
y un grito de paloma.
- Son amores irisados de cristal y pena.
San Pablo, 11 de junio de 2008
POEMILLA DE LA SOLEDAD
A Valeria Theodoro
La soledad,
esta espantosa soledad
cuaja en el huerto seco
la sangre oblicua
de amargas anémonas,
la savia y la mar
de pena y olvido.
¡Ay, soledad,
dulce semilla podrida!
¡ Ay, corona de cardos
de este llanto oscuro!
¡ Ay, sombra de ramas,
duelo de mi canto!
¡ Ay, que grito de muerte
el de la flor destrozada!
- "Se ha roto el río",
Alberti, ¡ ay!
Se ha roto el río
y el blanco pecho
de una paloma.
- A lo lejos un buque inmenso se desploma bajo la luna marinera...
San Pablo, 26 de marzo de 2009
Página publicada em novembro de 2012
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