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WILSON GORJ


Wiison Gorj (Aparecida, 1977) é autor do livro Sem Contos Longos, composto por

100 micronarrativas. Teve contos e poemas premiados em concursos literários, alguns, inclusive, publicados em antologias, como Contos de Algibeira (editora Casa Verde - RS), Entrelinhas (editora Andross - SP) e Literatura - Revista do Escritor Brasileiro (editor Nilto Maciel - CE). Administra o blog: http://omuroeoutraspgs.blogspot.com/. Colabora com o jornal O Lince, no qual mantém urna coluna mensal dedicada á microficção.

 

Disparos

Cai a chuva na vidraça
como balas atiradas
pelo vento.

Inofensivas,
frágeis.

Incapazes sequer de
varar a janela,
quebrar o tédio,
derrubar a tristeza
ou matar a saudade.

Balas que só ferem o silêncio.


Chaga

O Homem
é a chaga de Deus.}

“Veja, Tomé!
Se ainda não crê, toque-a...”

A chaga sangra.
Deus nos lambe como um cão.


Ponto final

A morte é um bonde
que não tem hora para passar.
A vida,
todos já sabem,
é passageira.

 

Pássaro ausente

Da gaiola do nosso relacionamento
                   em algum momento,
                       o trinco se abriu:
                          o amor fugiu.
         Por hábito, continuamos
                   a trocar a água
           e a renovar o alpiste.
Mecanicamente, cuidamos
                   de uma ave
          que não mais existe.

 

Extraídos de
XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE)
organizado por Priscila Lopes e Aline Gallina
Florianópolis: Letras Contemporâneas,2009.  157 p.
ISBN 978-85-7662-044-0

Gentilmente enviada pela Priscila Lopes



POETAS DE HOJE EM DIA(NTE).  Org. Priscila Lopes e Aline Gallina.  Florianópolis: Letras Conntemporâneas, 2009.   157 p.                    Ex. bib. Antonio Miranda

 

1964

Em terra de cego
quem descobre a cura da
cegueira
misteriosamente
fica mudo.

Em terra de cego
não adianta clamar por justiça.
O rei tem um olho,
realmente,
mas é surdo.



Disparos

Cai a chuva na vidraça
como balas atiradas
pelo vento.

Inofensivas,
frágeis.

Incapazes sequer de
varar a janela,
quebrar o tédio,
derrubar a tristeza
ou matar a saudade.

Bala que só ferem o silêncio.



Chaga

O Homem
é a chaga de Deus.

"Veja, Tomé!
Se ainda não crê, toque-a..."

A chaga sangra.
Deus nos lambe como um cão.



Ponto final

A morte é um bonde
que não tem hora para passar.
A vida,
todos já sabem,
é passageira.



Pássaro ausente

Da gaiola do nosso relacionamento
em algum momento,
o trinco se abriu:
o amor fugiu.
Por hábito, continuamos
a tocar a água
e a renovar o alpiste.
Mecanicamente, cuidamos
de uma ave
que não mais existe.


*

 

 

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Página publicada em agosto de 2022


Publicada em junho de 2009

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