WHISNER FRAGA
Whisner Fraga é mineiro de Ituiutaba, tem três livros publicados, todos de contos: Seres & Sombras, Edição do Autor, 1997; Coreografia dos Danados, Edições Galo Branco, 2002; A Cidade devolvida, 7Letras, 2005. Publicou poesia e ficção em diversos jornais e revistas, entre os quais Correio Braziliense, Revista Cult, Revista E, Rascunho, Revista Brazzil, Revista Literatura e Iararana. Ultimamente vem escrevendo resenhas para o Jornal do Brasil, Estado de Minas e Rascunho.
Na Internet mantém dois sites, um de minicontos: http://www.fimdamente.org/minicontos e um blog de divulgação de seu novo livro: http://www.cidadedevolvida.blogspot.com. É cronista quinzenal do jornal Primeira Página, de São Carlos. Atualmente mora em Ribeirão Preto, SP.
Receita para dividir o vento
Tornar a mim e recuperar a inquietação
Reter no peito as mechas bruxuleantes da aurora
Depois correr apanhando o futuro
acariciando o bojo da manhã:
fosse ontem.
Desalinhar os ninhos de bem-querenças
Abraçando as horas alçando mãos ao amigo
Enganar o arco-íris
Roçar as coxas em tropel e vasculhar sussurros
Dedilhar carinhos
Destapar a moradia das nuvens.
Tecer insetos, remoer assombros urdindo peitos
Escorar sorrisos em cercas ilesas
Ordenhar giralua feito brumas de cantigas
escorridas em devaneios
e cansar em beijos.
Resgatar a brisa, contendo-a em sacos de fé
e chegar-se ao rosto da terra
e soltá-la, disparando ao regaço dos homens.
Crescer sem correria do amanhã
Desenterrado de ausências e nada invejar
Silenciar o fel dos punhos
Inaugurar cismas.
Ultrapassar o vento:
escapasse.
Roteiro para empreender a fuga
Reter o vão
Chacoalhar guizos de canduras
Afivelar saudades
Olhar derradeiro as disposições dos trigos
Recolher as tranças das rosas
Beirar a ânsia de conter o então
E depois.
Ajeitando o cerco com urgências
E fechaduras.
Repisar o charco
Levasse um naco de alma
Reinventar companhias
Calcular senões
Improvisar amor
Refundir amálgamas de pedras
E vegetais.
Levar também a chave
Para o caso de querer retornar.
Receita para respirar encantos
Cataventos de desertos e ondas
De cujas fendas refulgem fumaças
E o sincero odor de oásis e ilhas
Dançar bailarinas e caprichos
Ao nascer do inesgotável
Inquietar as formas das amarras
Manchar as febres de candeios
Perceber a floração dos equinócios
E extrair das palmas o sacro
Esgueirar-se pelos cerros
Entre pantalhas e lençóis.
Fluxograma para compilar borboletas
É urgente boicotar o festim dos risos
O atrevido balé das cáries
E coreografar o retrato da esperança desviada
A vicissitude do grito confinado
Bagunçar o cartel de begônias
E estercar as fronteiras
Se derrotar as hordas de bufões
E semear a lástima herdada
Urgente a ignorância das lesmas
E o suco das traças
Que o céu que entoar o vermelho mais dissimulado
Que honrarias tragarão hostilmente
Depois abandonar à pele e ao vácuo.
As quatro poesias fazem parte do volume inédito “O livro dos verbos”.
FRAGA, Whisner. O Livros dos verbos. Poesia. São Paulo: Dulcineia Catadora, 2007. 32 p. capa cartão pintado a mão.
Para reconhecer arredores
Inocentar equações
Devolver ao mártir o enigma da dor
Convidar os livros ao absurdo das páginas
Imitar o alarido dos sinos
Divertido trinado de cigarras
Jardinar recreios
Abraçar o pátio
Recorrer às marés e naufrágios
Pulsar encantos
Socorrer colheitas e pequenezas
Agarrar a mão mais atenta
E inventar o próprio nome.
Caminho para pele e seios
Que próximo que
Vindima de delicadezas
Apanhar garoas e umbigos
Que cerrar que
Espiar janelas
E arroubo maior que maior
Que vigor que encima memórias
Entretanto e assim
Como dia seja
De assanhar o mármore
Inquietar de gafanhotos
Umedecer mercês que adornar
Ou o polme de verniz
Para não conter explosões
E como tudo: esquecer.
FRAGA, Whisner. O livro da carne. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010. 80 p. 13x20 cm. Capa: Larissa Salomé. ISBN 978-85-75787-655-1
Roteiro para edificar o nada
De romãs e jabuticabas
De traquinagens e pipas
A lápide grita nossos nomes grafites
E não fizemos que abandonar
Limpar as cinzas
Remeter compassos ao beijo retido
Implorar lembranças
E fui entre o barro e o cimento
Carpir abatimentos e derrotas
E suspirar
De tanto laço que é feita a perda
E a dor é erguer vazios
Entranhar dissonâncias
E é por isso
Apenas.
Para reconhecer arredores
Inocentar equações
Devolver ao mártir o enigma da dor
Convidar os livros ao absurdo das páginas
Imitar o alarido dos sinos
Divertido trinado de cigarras
Jardinar recreios
Abraçar o pátio
Recorrer às marés e naufrágios
Pulsar encantos
Socorrer colheitas e pequenezas
Agarrar a mão mais atenta
E inventar o próprio nome.
1o. Prêmio Cassiano Nunes - Concurso Nacional de Poesia - Seleção 2009. Antologia. Org. Maria de Jesus Evangelista. Brasília: Universidade de Brasília -Biblioteca Central- Espaço Cassiano Nunes, 2010. 152 p. 14 x 21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
ROTEIRO PARA ACOMPANHAR A PROCISSÃO
DE SOLUÇOS
Em Minas um boi cacareja a sua desconfiança de canário
Em Minas um pito estremece na boca despetalada do velho
(que nem supõe mais como ou quando morrer)
Em Minas o sol se melindra com a fecundidade esverdeada
das coisas
O trem apara a preguiça das serras
(enigmático como tudo se torna trem em Minas)
Um compêndio de curas nas rezas calejadas das mulheres
As tripas das paredes escapando da erosão dos rebocos
(Minas é um povo caducando nas horas desabitadas)
Já é impossível pescar em Minas em Minas
Libertar essa Minas de Minas
OU desonrar o ventre que traduziu em desassossego essa
rígida mineral
Um galo esporeia, com sua covardia amolada, os chifres
da morte
Enquanto uma rede nina uma selvageria de substratos:
Há um torrão de Minas engastalhado na minha garganta.
*
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Página ampliada e republicada em abril de 2022
Página publicada em abril de 2022
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