WALDEMAR GASPAR JÚNIOR
Waldemar Gaspar Jr. Nasceu e reside em São Paulo.
Poeta, jornalista, turistólogo e publicitário. Dirige uma revista nesta cidade, e reponde (em 1980) como Diretor Responsável pelo jornal
“O Migrante” e Diretor de Relações Públicas da AVIM (Associação de Voluntários pela Integração do Imigrante).
A seguir, uma seleção de poemas do autor extraídas do livro Quadrívio:
QUADRÍVIO: Fernando Aruta, Ivana de Arruda Leite, José Luiz Aidar, Waldemar Gaspar Jr. Desenhos de May Shuravel.
São Paulo: Massao Ohno Editor, 1980. s.p. 18x27 cm.
Col. bibl. Antonio Miranda.
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ESPAÇONATO
entre a realidade efêmera e o sonho eterno
o vácuo da existência
MALOGRO
A tonalidade do destino
é incolor
como o olor do ar
que se dilui com o próprio.
Respiram-se as nuanças
na expectativa de um fado colorido,
mas tudo é diluído.
O homem não encontra
a translucidez da tinta,
e na opacidade da soma
borra-se o branco.
DESCENSO
Embaixo dos pés do homem da casa:
o carpete.
Embaixo do carpete dos pés humanos da casa:
o sinteco.
Embaixo do sinteco do carpete da casa:
o cimento.
Embaixo do cimento do assoalho da casa:
as pedras.
Embaixo das pedras da casa:
o homem.
Embaixo d homem da terra da casa:
os vermes.
Embaixo dos vermes do homem da casa:
o mesmo homem.
SIMBIOSE
A alma é absconsa.
Existe na profundidade infindável
de um suspiro.
A alma é das trevas,
e suspira o alívio
do noturno
por medo de se conhecer
no claro
através da sombra
do seu próprio invisível
A alma é do homem
e do homem é gêmea.
CASUS BELLI
A orla do apocalipse:
a periculosidade dos braços cruzados.
A leve brisa é um bruto empurrão.
HÓSTIA HOSTIL
Pomba órfã,
por que me encaras
com esse olhar enfurecido?
Não fui eu quem assassinou teus pais.
O pároco reconstruiu modernamente
sua avelhada paróquia
com os benesses do Vaticano
dos fiéis e dos infiéis.
E os novos sinos dourados
— modernos bronzes doirados —
baladaram, badalaram, badalaram;
altitonantes,
na altiva torre paroquial.
Caçaram o catolicismo
da orquestra sinfô
GAIOLA DAS FERAS
Hematomas vivos de suplícios
em corpo morto de assassínio.
A dor evola-se com o espírito,
nem fica para a autópsia
se o gemido já não geme
e o temido nunca teme.
O resultado é sem autocídio.
Desenho de MAY SHURAVEL:
Mais poemas de
WALDEMAR GASPAR JUNIOR
PLEITO ELEITORAL MEDO
Os sufrágios das urnas
conservam o venturo eleito
feito picles em vinagre e azeite.
Curte-se o couro do povo
na inviolável futuridade.
O saibo do escrutínio,
será azedo
como será ácido o escarro
na cuspideira.
MEDO
Ter mania de roer
unhas e cutículas
quando o nervoso eletriza
os dentes do seu sistema.
Ter pilhas e baterias
carregando de íons e elétrons
a sofreguidão sistemática dos dedos.
Só não ter mais os dedos.
ABERTO ATÉ A MEIA NOITE
Já velhinho muito velho
mais velho do que
o mais velhinho dos velhos
— de roupa rubicunda
cabelos e barbas brancas
cara rechonchuda e coradas bochechas —
transporta em seu trenó lendário
a lenda do saco distributivo
de presentes e brinquedos.
Indústria & Comércio
elegem Noel "O homem do fim de ano"
agradecendo a colaboração
da mamãe virgem-Maria
do papai donzelo-José
do resplandecente filho de Deus
e principalmente dos três Reis Magos:
reais inventores das despesas.
Extraído de
ENSAIO IV. GRUPO POECO- SÓ POESIA. São Paulo: Massao Ohno Studio, 1980. s.p. 14x21 cm. Capa: Ibiraci Vieira Pinto. Antologia de poesia. Inclui textos dos poetas André Luis Chufuli Amoroso, Celso de Alencar, Furval Mokarzel Guimarães, Fernando Aruta, João Ricardo Scortecci de Paula, Ligia Pones, Maira Luiza Mendes Furia, Milton Célio de Oliveira Filho, Moses Dodo, Renato Gonda, Sandro Capestrani, Thereza Christina Rocque da Motta, Vera Helena Ribeiro dos Santos, Waldemar Gaspar Junior, os convidados Antonio Carneiro Portela, Dora Ferreira da Silva, Lindolfo Bell, Marly de Oliveira, Olga Savary e Renata Pallotini. Col. A.M. (EA)
Página publicada em fevereiro de 2012; Página publicada em julho de 2020.
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