VICENTINA MESQUITA
(1890 – 1954)
VICENTINA MESQUITA VICENTE DE CARVALHO, filha de um grande poeta, nasceu em Santos, a 24 de junho de 1890. E cumpre assinalar que não abusou seu renome paterno. Cremos até que Vicente de Carvalho sentiria prazer em rever-se na delicada rimadora que não deixou de herdar-lhe umas tantas qualidades de lirismo.
Soneto XXII
Sorvi sequiosa a taça do prazer,
só lhe sentindo o bem que me sabia,
sem a preocupação de conhecer
o mal que ela, esgotada, me traria.
Desprezando o futuro, quis viver
o presente, que alegre me sorria,
sem nunca imaginar e sem prever
quanto custa um momento de alegria.
Logo, porém, o travo da amargura
mudou-me o riso em lágrima dorida,
pois a felicidade não perdura.
Só então percebi, arrependida,
quanto, por um instante de ventura,
hei de figar pagando toda a vida.
WORMS, Pedro de Alcântara, org.232 poetas paulistas. Antologia. Rio de Janeiro: Conquista, 1968. 403 p. 13,5x20,5 cm. Capa: Célio Barroso.
SONETO
Sinto que já se vem aproximando
O gélido crepúsculo da vida;
Extingue-se-me a vista amortecida,
E os meus cabelos já se vão prateando.
Despovoaram-me a alma dolorida
Os sonhos que sonhei de quando em quando,
Oásis na existência mal vivida,
De onde vai a esperança se afastando.
Quando o longo passado rememoro,
Sangra-me o coração cruel saudade;
Porém, desse passado, que deploro,
Menos que as horas de felicidade,
De tudo o que perdi, o que mais choro
É ter perdido a minha mocidade.
Página publicada em maio de 2017