SIMBOLISMO - POESIA SIMBOLISTA
VENCESLAU DE QUEIRÓS
(1865-1921)
Venceslau José de Oliveira Queirós nasceu em Jundiaí, Estado de São Paulo, a 2 de dezembro de 1865. Estudou preparatórios no Colégio do Caraça, em Minas Gerais. Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1883. Por motivo de enfermidade grave só se bacharelou' em 1890.
Foi, ali, contemporâneo de Emilia Perneta, Luís Murat. Olavo Bilac, Dias da Rocha Filho, Rodrigo Otávio, Horácio de Carvalho, Assis Pacheco, Alberto Torres.
Foi juiz federal substituto, professor, deputado estadual, membro do Conselho Superior de Instrução Pública do Estado. Um dos fundadores do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, lecionando ali Estética.
Jornalista (diretor do Diário Mercantil, redator-chefe do Correiio Paulistano) e conferencista. Venceslau de Queiróss muito contribuiu para a formação, em São Paulo, do espírito simbolista, mercê dos seus versos impregnados de baudelairismo, e do seu ardor polêmico, exercido contra Vicente de Carvalho, Filinto de Almeida, Luís Pereira Barreto, Carlos Ferreira, César Ribeiro e outros.
"Baudelaire paulistano" chamou-lhe o poeta Ezequiel Freire, intitulando o seu artigo de junho de 1887 (Ezequiel Freire, Livro Póstumo, São Paulo, 1910, págs. 165-169), data anterior à da irrupção do movimento simbolista propriamente dito. Venceplau de Queirós a ele pertencia nitidamente, no que concerne à temática e à atmosfera afetíva do que dá testemunho o poema " Nevrose" (págs. 91 a 95 do livro Versos, de 1890, que enfeixa matéria de 1884 a 1888), um dos primeiros poemas simbolistas escritos no Brasil, contemporâneo dos de Medeiros e Albuquerque (mais autêntico de tom do que estes) e dos de Domingos do Nascimento.
Produziu depois relativamente pouco, mas os seus poemas de Rezas do Diabo, de
publicação póstuma, são ainda representativos do satanismo à Baudelaire, servido por
uma virtuosidade efeitista. Foi amigo de Emiliano Perneta, com quem tinha afinidades de temperamento evidentes, e a quem por várias vezes visitou em Curitiba.
Faleceu em 29 de janeiro de 1921^ na cidade de São Paulo.
Obras poéticas: Goivos, São Paulo, 1883; Versos, Lisboa, 1890; Heróis, São Paulo,
1898; Sob os Olhos de Deus, poemeto, São Paulo,; 1901; Rezas do Diabo, São Paulo,
1939; Cantilenas, inédito. Muito interessante a Introdução que escreveu para o já refe-
rido Livro Póstumo, de Ezequiel Freire.
TROVAS 5 - [Seleção de Edson Guedes de Morais] Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2013. 5 v. 17x12 cm. edição artesanal, capa plástica e espiralada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
*Pàgina ampiada e republicada em setembro de 2023
NEVROSE
(A TeófÍlo Dias)
Na voragem da infinita
Loucura que me suplanta
Há uma serpente maldita
Que me constringe a garganta.
A noite do agro remorso,
— Remorso que me fragoa,
(Noite em que choro e me estorço...)
De pranto e sangue gerou-a.
Corrompem-se-me os sentidos
Entre mórbidos miasmas:
—— Ouço na treva gemidos,
— Na sombra vejo fantasmas.
Tomam corpo e forma hedionda
Os sonhos meus mais secretos,
Como frenética ronda
De uma porção de esqueletos.
A fantasia nas garras
Leva-me a um páramo torvo,
Abrindo as asas bizarras
Nos céus azuis como um corvo...
N'alma roeu-me a apatia
As rosas do seu conforto.
Como a larva úmida e fria
Rói a carcaça de um morto
E o olvido (ai! corre-me o pranto.. . )
Vai sepultar-me os despojos,
Como farrapos de um manto
Que se espedaçou nos tojos.
Neste incessante destroço,
A razão mais se me afunda,
Como a luz dentro de um poço,
Numa inconsciência profunda.
Como nas noites polares,
De úmida treva retintas,
Farejam ursos nos ares
Abrindo as bocas famintas.
Surgi, visões do passado,
Nesta mudez que me cinge:
Eis o meu seio golpeado,
Sugai-o, lábios de esfinge. . .
II
Na tristeza em que me afundo
Nem ar, nem luz eu não sinto;
Há lia amarga no fundo
Escuro deste recinto.
Acima se os olhos volvo,
Acho treva, e cai-me o pranto;
Suga-me a dor, como um polvo,
O sangue, neste quebranto.
Os beijos que dou nos lábios
Vermelhos da minha amada
Têm os cáusticos ressábios
Da blasfêmia envenenada.
Se toco o pé de uma rosa,
Muda-se em lábio sangrento,
Que me diz, em voz chorosa,
A imprecação de um lamento.
Alguém que me segue o passo
Rouba-me toda a alegria...
Se canto, silva no espaço
A farpa de uma ironia.
Nos astros — laivos de sangue
Eu encontro, quando os olho,
E entre eles perpassa, exangue,
Um anjo, torvo o sobrolho...
Outro anjo, e mais outro eu vejo
Atrás seguirem, tristonhos,
E mortos, nesse cortejo,
Passam-me os anjos dos sonhos...
Os braços ergo às estrelas
Num gesto súplice, e logo
Apagam-se todas elas,
Como a luz de um fátuo fogo.
— Dúvida, morde e remorde
As fibras de um peito exausto:
Lira,* num último acorde,
Quebra-te nesse holocausto
* Está Sem a virgula.
(Versos, págs. 91-95.)
NOSTALGIA DO CÉU
Ei-lo que sonha, triste e só. . . Que estranho augúrio
A alma te agita, Arcanjo Negro? Que magia,
Que sortilégio, à dura abóbada sombria,
No Orco, te prende o chamejante olhar sulfúreo?
Que encantamento cabalístico assedia
Tua cabeça? Em que palácio, em que tugúrio,
À evocação de Grande Mago, no perjúrio
Presa ficou tua infernal figura esguia?
Nada de mais. . . Lembra Satã a imensa Queda
No boqueirão da Eterna Sombra que lhe veda,
Eternamente, eternamente, ver os céus. ..
Punge-o a saudade, a nostalgia, a funda mágoa
De estar (Satã já tem os olhos rasos d'água!)
Longe da Luz, longe do Azul, longe de Deus!
(Rezas do Diabo, pág. 1-1.)
IRREPARÁVEL
Impressão de uma água-forte —"A Bebe-
dora de Absinto", — de FÉLICIEN ROPS, um dos
"malditos" iniciados no espiritualismo da lu-
xúria de BAUDELAIRE : — o Satanismo.
Boca sanguínea e quente — golpe vivo
De uma gélida lâmina acerada! -—
Como uma flor de vinho e fel, queimada
No fogo estéril do seu beijo esquivo...
Verdes olhos de pérfido atrativo,
Que, saturando como o absinto, em cada
Olhar, deixam de tédio a alma gelada,
Sem um consolo, sem um lenitivo. ..
Mãos de Febre e de Sonho, transparentes,
Afeitas a cerrar os olhos crentes
Dos que desmaiam no seu frio seio...
Ventre infecundo mas voluptuoso
Que a Loucura propina com o Gozo...
— Eis a mulher que eu amo e que eu odeio!
(Ibid., pág. 69.)
Extraído de:
MURICY, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro. vol.I Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1952. p. 204-208
TEXTO EN ESPAÑOL
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traducción de Jaime Tello:
BEATA BEATRIZ
Dicen que eres santa y pura
Y, ciertamente, quien te viera
El rostro… el mirar… la figura
De santa de altar, no pudiera
!Por Dios! negarlo; más bien jura
Que eres santa y casta, y te besa
Con untuosa compostura
La mano franca que embelesa…
Mas que el Señor me hiera en celo
El corazón, sí, en largo anhelo
De una brutal pasión espuria.
Tu cuerpo en mi abrazo fornido
No palpitó oyendo el berrido
!Del cabro vil de la lujuria!
TEXTO EN ESPAÑOL
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traducción de Jaime Tello:
BEATA BEATRIZ
Dicen que eres santa y pura
Y, ciertamente, quien te viera
El rostro… el mirar… la figura
De santa de altar, no pudiera
!Por Dios! negarlo; más bien jura
Que eres santa y casta, y te besa
Con untuosa compostura
La mano franca que embelesa…
Mas que el Señor me hiera en celo
El corazón, sí, en largo anhelo
De una brutal pasión espuria.
Tu cuerpo en mi abrazo fornido
No palpitó oyendo el berrido
!Del cabro vil de la lujuria!
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VEJA e LEIA outros poetas de SÃO PAULO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/sao_paulo.html
Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
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Página publicada em janeiro de 2011
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