Foto: https://photos1.blogger.com/blogger/3254/1470/320/PA020005.jpg
TONHO FRANÇA
Tonho França é pseudónimo de José Antonio Muassab França, paulista de Guaratinguetá, nascido sobre o signo de Áries. Profissionalizou-se participando de oficinas literárias, saraus, e eventos afins.
Participação em diversos concursos, destacando: "IV Festival Carioca de Poesia -Prémio Lya Luft", 3° lugar poema "Morto"; 1° Lugar com o poema "Calvário", Osasco/SP, 3o lugar Nacional, "8" prémio Missões RS", poema "Morto", por duas vezes finalista no "Mapa Cultural Paulista" e diversas menções honrosas. Destaque para a premiação do Rotary Club de Guaratinguetá, onde recebeu, em 2005, o troféu "Intelectual do Ano" — modalidade Poesia.
Em 2006, obteve da Editora Literis o prémio de 2° lugar Nacional com o poema "Sobre o Amor", e o Io lugar no "I Concurso Carioca de Poesia", organizado pela Abraci e Fenac, com o poema "Blues à tarde (com flauta doce)".
Tem três Livros solos publicados,: "Entre Parênteses", "Sinos de Outono" e "Blues à Tarde". É membro da U.B.E e da A.P.P.E.R.J.
Tem sido crescente o interesse da mídia local pela sua obra, estando o poeta sempre em rádios, e emissoras de TV da região, divulgando a poesia, e também dando orientações a principiantes.
POESIA DO BRASIL. Vol. 5. XV CONGRESSO BRASILEIR0 DE POESIA. Org. Ademir Antonio Bacca. Bento Gonçalves: Proyecto Cultural Sur - Brasil, 2007. Ex. bibl. Antonio Miranda
Rosas de San Vicente.
Trago versos e cicatrizes
Das rosas de vidro de Guadalupe
Rios de cantos negros
Rios de cantos, à boca da noite
Tecendo anjos mulheres e homens de luzes
Meninos sopranos de mel
cantando à lua
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu de San Vicente
Tenho o cheiro dos cortes das rosas
Tatuados na alma
Pétalas das melodias
candeias de estrelas cadentes
apagando as noites suaves
criando manhãs sonoras
auroras bordadas véus
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu...
Sobre o amor
Todo amor é cíclico, de fases, como a lua.
Todo amor morre, todo amor mata
Todo amor tem cios, como a natureza,
Como as fêmeas, como a terra.
Todo amor começa e encerra.
Todo amor tem alma, tem pele, tem cor,
Todo amor inala e exala, amor.
Precisa de cuidados, de versos, de estrelas,
De contos, de surpresas, de sereias.
De sanidade, de sair às ruas, de se atrever,
De ser Cervantes, Neruda, Picasso.
Todo amor antes é pedaço.
Todo amor conspira, delira, vagueia.
Todo amor comunga, tem fé, Santa Ceia,
Tem brilho profundo, sem fundo, maré cheia.
Todo amor é improviso, é sem aviso, é fato.
Todo amor é inexato, é todo, é tato.
É convulsão, confusão, extrapola a medida,
Todo amor é chegada e partida
Todo amor é intuição, carinho, doação,
É caminho, é espinho, é infusão
É mais que um, é comum.
E ao mesmo tempo é solidão.
Todo amor é sagrado, é bendito, é bem-feito,
Todo amor é pródigo, é filho, é pai, é perfeito
É congruente, inerente, é transparente, é a razão,
De sermos, de vivermos, é de Deus, é coração.
Mares.
Os barcos que deixam o cais,
Aventuram-se e deixam o cais,
Nas ondas inseguras, deixam o cais,
Levando as desventuras, deixam o cais,
Nas noites tão escuras, deixam o cais,
Deslizam entre espumas e corais,
Limpando suas dores, funerais,
Entrando em alto mar, seus cabedais,
Quem me dera deixasse o cais
A tristeza e me perdesse entre águas e florais,
Quem me dera desprendesse dos arvais,
E levasse entre as velas, as dores nunca mais,
As dores nunca mais, as dores nunca mais,
Um ponto no horizonte, as dores nunca mais,
Quem me dera pudesse, o adeus do cais...
Blues à tarde (com flauta doce...)
Pausa à tarde ecoa flauta doce
Pelos canteiros da avenida
Brilha um alecrim-de-angola distraído
O charuto cubano mantém-me sóbrio
Apesar do cheiro de anis
(não aspiro à pressa dos prédios e dos homens)
Os elevadores presos no subsolo
Deixam-me com sensação de liberdade e improviso
(lembram-me blues, solos de blues)
Ainda tenho uma ampulheta,
Uma estatueta de louça
Fotos onde amarelam sorrisos brancos
de tantos amigos
(todos ali estáticos como se não houvessem partido)
Um sax americano dos anos sessenta
E alguns selos antigos
(o camelo da esquina vendia-me até sonhos...)
mas o charuto cubano é legítimo
essa lágrima que verte sozinha, é legitima
o verso que hoje não escrevi
fez-se por si e é legítimo
e essa pausa na tarde que ecoa flauta doce,
faz o sol pôr-se em mim, sol em mim
solos de blues,
solos de blues,
solos de mim...
Ilha
Você vem a passos largos
Em uma das mãos o vento
Na outra, o quadrante perfeito do tempo.
Nos olhos um tom de mel, sem culpas, sem flores
No peito sangram nuvens de dores.
E como prece murmura o amor
E goza entre salmos e anjos
Depois, calada, em lágrimas ora.
Enquanto meus versos inquietos
Desnudam a aurora
E riscam o céu num tom de vermelho-pecado
Sou ilha, cercado de você por todos os lados.
Grávida
a moça cálida passeia
a vida adorna o vestido — lua cheia.
Página publicada em outubro de 2020 |