THEREZINHA TADEU
Nasceu em São Paulo (Brasil), e reside em Santos.
É Assistente Social, Professora de Educação Artística, Atriz, Artista Plástica e pós-graduada em Práxis Artística e Terapêutica/Interfaces da Arte da Saúde, pela Universidade de São Paulo – USP.
É também idealizadora e Diretora da Cia. Retratos de Arte, que tem como proposta inserir a poesia nos diversos segmentos da arte.
CADERNOS NEGROS. Volume 23. Poemas Afro-Brasileiros. Organizadores: Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. Capa: Foto J.C. Santos. São Paulo: Quilombhoje, 2000. 120 p. 14 x 21 cm.
ISBN 85-87138-02-2 Inclui os poetas: Cristiane Sobral, Cuti, Elivelto Corrêa, Esmeralda Ribeiro, Fausto Antonio, Jamu Minka. Jonatas Conceição, José Carlos Limeira, Landé Onewale, Sidney de Paula Oliveira e Therezinha Tadeu.
Ex. bibl. Antonio Miranda.
Escolhemos os seguintes poemas:
MIRONE
Por caminhos estreitos chegastes,
manso, carente, com passos vacilantes,
quentes, ternos, ungidos
Chegaste tarde, talvez...
e a brisa fantasmagórica não dilui
o sabor de lágrimas em minha boca morna
Esperei-te por mil anos, ainda que não soubesses,
sem saber a cor dos teus cabelos, o som da tua voz
o calor do teu falo, gemidos, quimeras e espumas
E agora chegas, corro assustada, mirone
borrada de batom cinzento, desapiedada de mim
Colibri, triste, amarga,
refugio-me nas sombras das árvores frondosas
e inutilmente me buscas...
HÁ QUANTO TEMPO NÃO VEJO MEUS LOUCOS
A alma vai aos bocados plasmando-se atrás das portas,
nas camas, nos corredores...
A morte engomada, disfarçada, degusta a vida
Não tema, a hora é marcada nas mãos trêmulas
Sirenas de hora em hora,
esperanças em drágeas coloridas
na boca sem festim. A hora é chegada!
Dos tetos, as lágrimas caem no meio do bolor,
e as aranhas tramam suas teias
nas peninhas secas da lacraia
Anjos de branco enxugam mortos andarilhos
e terapeutas, psicólogos,
penduram máscaras, réplicas do que já são
Mãos compassadas latejam. O sino toca!
Esgota-se a ilusão nos retângulos
retalhos se dilaceram após a potência do grito
Carinhos de mãos obscuras
no vaivém ritmado dos corpos
tentam recompor harmonia,
mas se evaporam nas trevas
de mãos dadas com o destino, em busca do infinito
PÁSSARO FERIDO
Pássaro ferido caído do ninho
pio de olhar murcho para o nada
pernas bambas, balanço...
Outros pássaros piam e voam
Ando trôpego tentando alçar voo
as asas ensaiam, não consigo!
O tempo escoa e a dor me dói
no mole molhado do corpo miúdo
Pássaro sou
à espera de um deus
ou de um garoto bom
que me leve de volta ao ninho
Página publicada em abril de 2020
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