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SELMA MARFIL
Nasceu em 05/10/1969. Natural de Mogi das Cruzes-SP. Teve algumas obras selecionadas, inclusive na Italia no // Convivio, com o contó Menina Ester. Em Sao Paulo com a prosa poética Minha Vovó Querida, em Roque Gonzales-RS com a poesia Frutos do Amanhá, em Santa Maria-RS com a poesia A Ventura do Homem, em Barra Bonita-SP com a poesia Manhá de Outono. Participou do 7- Encuentro Internacional Literario em Montevidéu-Uruguai. Obteve recentemente mengáo honrosa com a poesia Nele se esconde a vida pelo CEL (Centro de Escritores Lourencianos) de Sao Lourengo do Sul - RS. Atualmente cursa Letras na UBC.
LETRAS DE BABEL 3. Antología multilíngüe. Montevideo: aBrace editora, 2007. 200 p. ISBN 978-9974-8014-6-2
Ex. bibl. Antonio Miranda]
Transparência do meu ser
Revelo a transparência do meu ser
nos versos singelos deste poema,
poema que desnuda meu íntimo sofrer,
pelos erros do passado sofrer amargura!
Amargura sinto quando me vejo frente a ti,
como te entristeci, causando desconfiança
Não me isento de culpas, mas de malignidade!
Creia, meu bem, o mal não mora em mim!
Se choro, é porque me dói não poder fazer-te feliz,
não poder proporcionar-te uma segunda família,
família que abençoaria nossa união tão forte,
mas, mesmo sem ela, seguimos confiantes na luz!
Esta acendeu-se ao te conhecer e quase se apagou,
pois veio à tona o passado, maculando a imagem!
Imaginavas tu ser eu uma mulher sem máculas,
porém, descobriste tu em mim a insensatez no agir!
Pensaste, portanto, que fosse eu perversa, do mundo;
do mundo fui, e isto muito me entristece, me fenece!
No entanto, os vícios do mundo ruíram de mim,
de um mal maior isentando-me - a ignomínia!
Por isso, nem tudo é tristeza, e nem tudo se perdeu;
tenho hombridade de olhar em teus olhos sofridos,
olhos sofridos de mim a implorarem a verdade clara;
felicito-me em não carregar o fardo da perfídia!
Felicito-me em pulsar-me no eu a honradez por ti,
compleição que não mais se sujeitou à luxúria!
Sim, meu bem, esse brio pulsa forte em mim,
certeza - que só a ti pertenço desde entreolhar de mundos!
Por esta porta passarei
Por esta porta passarei, amantíssimo,
passarei com valentia e perseverança!
Não me fatigarei rumo ao Altíssimo,
pois Nele encontrei a bem aventurança!
Em sonhos vi esta porta fechada a mim,
não podia atinar o que havia por trás dela!
A obscuridade do futuro premia, assim,
sem a visão da vitória que podia ser bela!
O passado fustigante e cheio de amargor,
fazia-me cambalear ao menor sinal de dor,
Combatia esta batalha judiando seu furor,
mas ele sempre regressava com mais pavor!
Mas vi em sonhos a porta que esconde a luz,
a luz brilhosa do fim do túnel, a luz do saber!
Chegar-me a ela custar-me-á carregar a cruz,
porém a cruz que pesa em mim, faz-me viver!
Viver a vida que se eterniza no invisível céu,
céu de realizações benfazejas e glorificantes!
Encontrar-me-ei nele quando findado o fel,
o fel da vida terrena que traz provas constantes!
Ah! meu bem, o caminho, o caminho das pedras,
não é para qualquer um que se digna a percorrer!
É para os missioneiros fiéis as doutrinas etéreas,
estes se prestam a ardúos desígnios de tudo sofrer!
Sofrer injustiças e perseguições com galhardia,
com resignação alcançarei a caridade perfeita!
E com a caridade que vence o mal e a ignomínia,
vencerei eu também para transpor a porta estreita!
Isenção do «Eu»
Choro o egoísmo do amor próprio,
o ego ferido que aprisiona a alma.
Vejo a pieguice do meu ser, ópio,
ópio a deturpar o íntimo sem calma!
Firo minha virtude ao cair no ciúme,
ciúme por não compartilhar bem meu.
Vivo torpe mesquinhez com azedume,
azedume prestes a levar-me ao breu!
Breu de meu ser enerva-te querido vate,
se vês em meu semblante o crepúsculo!
Teus versos reagentes inundam o vale,
vale em busca de satisfações, o ósculo!
Sendo companheira de ti, grande poeta
cerco-te em tuas criações; é privilégio?
Sim, envolvo-me em imensurável tarefa,
que, sendo emotiva, torna-se sortilégio!
Nas palavras, nos versos de tua poesia
vejo-te mergulhar em teu eu sofredor
Sofres tu teu passado, e eu, tua elegia,
obra prima tua me traz grave furor!
Mas este furor se esvai com a vigência,
pois humildemente prezo o altruísmo,
que, mesmo ínfimo, é minha querência,
orgulho vil eu estirparei com heroísmo!
Outra vez mergulho em meu eu egoísta,
choro a imperfeição do espírito meu
Desperto, enfim, e sai de mim a artista,
atriz poetisa a lutar pela isenção do eu!
Página publicada em agosto de 2020
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