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S E G I S M U N D O  S P I N A

 

Ao longo de sua longa e fecunda carreira de professor dos cursos de Letras da Universidade de São Paulo, Segismundo Spina soube fundir harmoniosamente as suas duas paixões dominantes : a Língua Portuguesa, de que foi e é mestre insigne, e a palavra poética.

         O seu numeroso alunado teve o privilégio de assistir às suas aulas sobre  poesia trovadoresca, Os lusíadas, poética renascentista, poesia barroca e poesia romântica, mas só alguns poucos leitores conheciam o poeta que se ocultava por trás do intérprete das letras portuguesas. ALFREDO  BOSI

S E G I S M U N D O S P I N A

De
Segismundo Spina

POESIA
Anexo: Exegese da poesia mais controvertida
de Gregório de Mattos: o "Marinicolas"
São Paulo: Ateliê Editorial, 2008
ISBN  978-85-7480-400-2

 

 O PRÊMIO

                                               Une tua boca à boca do teu homem.
                                                              Coelho Neto, Rapsódias

         Ao colega Domício Silveira.


Já detrás dos outeiros, merencórea
No azul sublime a lua se desliza;
Junto dela, sentado, alguma história
Vamos cantando, enquanto bate a brisa.

E ela me diz então: “ que maior glória
já se deu à mulher, a pitonisa,
Do que fazer da ciência tão notória
Uma prece de amor que se improvisa?!...”

E falou-me de Cesar, de Tibério,
Que a uma mulher dispunham todo o império,
E d’outros reis e gênios, que hoje dormem;

E mais que todos, e maior que Dante,
Eu lhe disse, agora triunfante:
“Une tua boca à boca do teu homem!”

 

1939

 

NA OFICINA DOS VÍCIOS
        
                                     Oh! Cidade, cidade, que transbordas
                                       De vícios, de paixões e de amarguras!
                                               Alexandre Herculano, Poesias, 58

         Ao meu Professor de Geografia Ovídio Payon

 

Levantaste uma trágica existência:
No vício – o pão, do lar – a criatura;
E aquele que ergue sua alma à Providência,
Ensinaste baixá-la à sepultura.

Oh! oficina fatal, roubaste à ciência
Tantos gênios, e às mães – tanta ternura!
Escabuja-se toda a consciência
No agônico estertor de uma loucura.

Tu praguejas a Deus, que são teus hinos,
Quando gargalhas louca nos cassinos,
Onde o prazer mais torpe desenterra

Os gozos maus, as dores, o desgosto;
És o vício cruel e mais oposto
Da virtude maior que o Amor encerra!

 

 

         Página publicada em maio de 2010     
        

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