O PRÊMIO
Une tua boca à boca do teu homem.
Coelho Neto, Rapsódias
Ao colega Domício Silveira.
Já detrás dos outeiros, merencórea
No azul sublime a lua se desliza;
Junto dela, sentado, alguma história
Vamos cantando, enquanto bate a brisa.
E ela me diz então: “ que maior glória
já se deu à mulher, a pitonisa,
Do que fazer da ciência tão notória
Uma prece de amor que se improvisa?!...”
E falou-me de Cesar, de Tibério,
Que a uma mulher dispunham todo o império,
E d’outros reis e gênios, que hoje dormem;
E mais que todos, e maior que Dante,
Eu lhe disse, agora triunfante:
“Une tua boca à boca do teu homem!”
1939
NA OFICINA DOS VÍCIOS
Oh! Cidade, cidade, que transbordas
De vícios, de paixões e de amarguras!
Alexandre Herculano, Poesias, 58
Ao meu Professor de Geografia Ovídio Payon
Levantaste uma trágica existência:
No vício – o pão, do lar – a criatura;
E aquele que ergue sua alma à Providência,
Ensinaste baixá-la à sepultura.
Oh! oficina fatal, roubaste à ciência
Tantos gênios, e às mães – tanta ternura!
Escabuja-se toda a consciência
No agônico estertor de uma loucura.
Tu praguejas a Deus, que são teus hinos,
Quando gargalhas louca nos cassinos,
Onde o prazer mais torpe desenterra
Os gozos maus, as dores, o desgosto;
És o vício cruel e mais oposto
Da virtude maior que o Amor encerra!
Página publicada em maio de 2010