ROBERTO MOREIRA DOS SANTOS
(l887- 19??)
Nasceu em Casa Branca a 7 de março de 1887. Jornalista, orador, poeta, ensaísta, biógrafo. Escreveu o livro de versos: "Estuário". Foi deputado federal e dirigente de diversas empresas industriais.
Extraído de
WORMS, Pedro de Alcântara, org. 232 poetas paulistas. Antologia. Rio de Janeiro: Conquista, 1968. 403 p. 13,5x20,5 cm. Capa: Célio Barroso.
FATALISMO
Pois que o fado assim quis, cumpra-se o fado!
Não te acerques de mim, vive distante,
Longe de teu olhar, já fatigado
De ver-te esquiva, tímida, hesitante.
Viverei neste afeto e exulcerante,
Como na escura cela o condenado;
Desejando fugir a todo instante,
Temendo ser um dia libertado.
Venha, sombrio e mudo, o isolamento!
Do ciúme venha a onímoda tortura!
Estranho sibarita do tormento,
Hei de, rindo, tragar toda amargura...
Pois no amor, onde tudo é sofrimento,
Mais que a ventura, é doce a desventura...
*
Meu velho pai já sentia
Que neste mundo de abrolhos
Se a boca às vezes mentia
Não mentiam nunca os olhos.
MEUS OLHOS
Naqueles tempos, idos e saudosos,
Em que, amena, a existência me corria
Em sonhos, esperanças, alegria,
Eram meus olhos claros, bonançosos...
Depois, eles te viram, descuidosos...
E era tanta a paixão, que os acendia,
Que neles, abrasada, — parecia —
Chispava a chama de mil sóis gloriosos.
Hoje, refúgios tristes da saudade.
Nebulosas de fria luz dormente,
Insensíveis à cor de à claridade,
Meus olhos já não vivem... Entretanto,
Brilham às vezes, brilham, mas somente,
Turvos, magoados, húmidos de pranto...
Página publicada em maio de 2017