ROBERTO DO VALLE
(1934-2011)
Roberto do Valle (São José do Rio Preto, 26 de fevereiro de 1934 – Santos, 02 de julho de 2011) foi professor, poeta, historiador e jornalista, considerado um dos grandes escritores rio-pretenses.
Publicou diversas obras, entre as quais o livro de contos As leopardas, em 1976, O homem cercado, em 1969, A caneca, em 1978, Arte hoje, em 1969, Rio Preto na Revolução de 32, em 1982. Autor de contos na Revista Cuentos, do México, ao lado de Gabriel García Marquez e Carlos Fuentes. Recebeu 12 prêmios nacionais de literatura. (wikipedia)
VALLE, Roberto do. A caneca. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1979. 77 p. (Coleção Poesia Hoje, volumen 33) 14x21 cm. Capa: Dounê. “Prêmio INL de Poesia Inédita 1978” “ Roberto do Valle “ Ex. Bibl. Antonio Miranda
“Votei no livro A caneca para o Prêmio Literário Nacional do INL, 1978, na categoria de inéditos. Creio que esse livro sintetiza de modo convincente as tendências da maioria dos bons livros candidatos ao prémio. / Essas tendências podem ser resumidas no que o marxista Henri Lefebvre classificou — já se vão 20 anos — como romantismo revolucionário.” FERNANDO MENDES VIANA
É VAIDADE
volvo esquivo
e investigo
o suborno
da vaidade
durante o lance.
depois a fossa, a caixa
de ferramenta ouro antigo
como autonovela e cantos
de amargor, mas a frase cai
no chão como um trapo
depois dela proferida
depois da sub-ornamentação
e eu fico sozinho desnudado.
autonovela compacta termina
e resta uma como
lâmina nefasta.
P
No penhasco incursionam
as palavras
e o risco é muito.
Visgo na carne das palavras
e elas raspam na parede
deste entendimento escuro.
A ilusória anestesia do escuro
a foto anónima das palavras
perto dos olhos
de meu tempo.
Caneta, poeta, dieta desfeita
no talvegue deste risco.
Mas eu vejo a mão e ela
não me acode.
ESTUDO DIRIGIDO
as telas reverberam cores
mas pelo quintal da pele este receio
de que existe o que eles chamam de
defasagem.
Não há evacuação que resista a uma salada
mista de sangue seco e turíbulos retidos,
ou, como queiram,
de ideia lavada e passada e os canais
de comunicação.
Não há um só homem no mundo
que não seja por dentro assimétrico
e por fora métrico.
Exceto os antiloucos, mas esses
estão fora de circulação.
Vamos então falar da frescura da manhã
que um emprego exige teorias mórbidas
passeando pelo ventre em modorra,
pela tripa forra. Fácil achar néctar simbólico
ou procurar pombas implodidas, aí fora.
Se eu não tomar cuidado com este estudo
dirigido, que passeio poderei fazer
sobre o espetáculo?
Página publicada em julho de 2015
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