RIQUE FERRÁRI
Autor do livro Rocket Man, Rique Ferrári nasceu em São José dos Campos (SP), em em 14 de junho de 1985. em 14 de junho de 1985 ersão beta de um sujeito nem aí. É empresário, sommelier, professor, especialista em arte pré-colombiana, filósofo, neologista na língua portuguesa e espanhola, dançarino, colecionador de pedrinhas da rua, campeão gaúcho de skate amador, mágico, churrasqueiro, piadista, voluntário de ONG, dupla de bocha do Adair, marido de aluguel, jardineiro, poeta, beijoqueiro, mentiroso e tal. [Texto extraído da página dehttp://www.editorapatua.com.br]
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FERRARI, Rique. Rocket man. São Paulo: Patuá, 2017. 162 p. ilus. col. ISBN 978-85-8297-479-7 Ilustrações internas: Marcelo Dalbosco, Marcella Alves, Victor Octaviano, Victor Montaghini, Lincoln Lima, Dani Bianco, Felipe Melo, Wina Brasil, André Ziloti, Thiago Mello, Léo Valquilha, Jefferson Margutti, Luiza Domingues, Arthur Lopes, Felipe Santos,, Marco Medeiros (tatuadores brasileiros) . Tiragem: 100 exs. Ex. bibl. Salomão Sousa. Poesia brasileira.
Haicais na pequena floresta de Imbituba
I
daltônico inseto
morreu voando ao azul-céu
no curry amarelo
II
o bambu esguio ao vento
entre os manequins terrenos
nenhum mais transante
III
padre ao pescador:
— tá feliz por pegar peixe?
— tô por pescar
IV
granizo cai do alto
cai sobre o ombro descansado —
mensagem/tatuagem ?
V
janela em vogais
nem há mais bela paisagem:
criança banguela
VI
cuco grita cuco
a menina geme um ahh!
todos ouvem: cuca!
VII
nossa ânsia de verão +
peso da chuva no inverno =
giro do planeta
a viagem
primeiro corra até a janela, olhe através do vidro, a cidade em fogo-luz acanhados quartos de pontos velados, raízes de velas ao chão
o serviço da chuva em almofadinhas de vento - faz frio penso que desastre total das concepções
isto de nos vermos nos espelhos mas nos enxergarmos nas janelas; no colégio nunca comentaram a respeito
agora vá um pouco mais, para o lado de fora da janela
psicografando os restos de brisa, as fornalhas dos condescendentes e mutantes painéis de luz; mantenha o equilíbrio, ora na constelação de janelas ora no deserto de céu - e que tanto
como as harpias
destemidos do gélido e do fogo, iríamos chegar neste ponto, você sabe, é um convite:
pule
com sua face completamente escancarada na conjunção dos átimos de segundos, vislumbrando a génese e os saltimbancos letreiros, os faróis trilhados e então a coragem
te leva
até a janela daquele amigo amedrontado pela leitura dos sinais presentes
até a rua onde franciscanamente você subiu/desceu raspando o limo dos muros,
quando criança;
lembra?
seus pais batizaram-no e deram um nome: - filho e então sua avó ganhou um pequeno deus
as portas estão abertas
volte sempre
transmutação (+ humano)
somos negros
horizontais na grande redoma do pitoresco diário
e é bonito quando as lâmpadas adoecidas de verão desiludem-se
em sintonia conosco: sim, é quente, estamos vagarosos, fechados
como túmulo
onde cochilam nossas pequeninas células exaustas
enquanto no Nevada bolsos postiços engolem bananas de ouro sabemos pelas cotovias viajantes; vai começar o espetáculo!
como num arroto levantamos dispensando sapatos
um restinho de musselina nos cobre, amém
e nosso ninho de lábios abre lentamente para balbuciar o dia
oi, dia!
aos poucos, um rubor reportado do leste traz o tempo primaveril dos nossos deuses os quais criamos desde pequeninos
raios!
ondula o céu lavrado por um estivador cadente
e como ficam distantes os dias do ano passado enquanto observamos os ballets das cotovias em partida para algum lugar, sonho talvez
somos vermelhos
somos laranja
e estão somos amarelos
a lagoa e o mar dão as mãos ao chegar o astro-rei
luzes florescem junto ao estrume das nossas ânsias transpassadas
Página publicada em abril de 2018; ampliada em maio de 2018.
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