RICARDO MATTOS
Ricardo Mendes Mattos é poeta, ensaísta e psicólogo.... deambula em clarinetes entorpecidos, vomitando palavras sem sentido, sopradas em seu ouvido pelo Desatino travestido em alhures. já menstruou raízes de peiote e provocou aborto de 4 destinos abandonados no meio-fio. Interessa-se por suicídios malogrados e Orgias de acasos subversivos. Desencontra-se quase sempre, além de masturbar o equilíbrio de angústias no parapeito do Gozo. Admira-se por ser lido nas lúgubres alamedas do Abismo.
Conspiração concupiscente
Se alicias a lua
lobos lambem suas fendas
eriçam os pêlos de seu sexo
e sua VulVa pari o múltiplo
Paira no mar seu olho incandescente
suas pálpebras assimilam a linha do horizonte
e se piscas amanhece o dia
no fluir de seus braços rajam coriscos
racham a terra
emergem enigmas
a cada suspiro os astros mudam de direção
e se soluças tormentas acariciam os acasos
seus passos dilatam dilúvios
e seu hálito inaugura a brisa que nos alisa a face
quando morde os lábios e circulas sua língua
a existência inflama e delira
sua voz arrepia o vento
e daí se cria a música ao sabor do seu encanto
Se sussurras segredos
sobrevém o silêncio: matéria de toda poesia
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Infames embustes
É náusea que navega no sarcasmo
ao ver o trânsito mastigando idiotas
cuspindo os restos de ruas poluídas
nas ruínas da cidade moribunda
Abortos hipnotizam vitrines ventríloquos tagarelam mesmices
suntuosos prédios encarceram horizontes
uniformes originais na vereda do óbvio
É nojo que incendeia a face do sátiro que encena a comédia
ensurdecedora gargalhada vergonha desesperada
de quem vê os espectros da vida prostrada diminuída
Incestos, incêndios & demais provas de amor
Ao rufar de relâmpagos
funâmbulos encenam suas horas de obediência
ao som de escárnios ensurdecedores
Quero nosso momento mais infame
em que escândalos escarram enganos
e o próprio tempo se rege por lampejos da vertigem
no vórtice irremediável do acaso
com suas danças de demônios que devoram os destinos
Alaridos alados
A poesia assalta. A sombra e o susto. O toque gatuno no beco labiríntico que nos despe, tingindo a face rubra com o tom do desespero.
A poesia assombra. O salto e o surto num parapeito movediço, num lapso qualquer no espaço e tempo.
Movimento. O tremor de tudo o que é sedento. Corpo em transe.
Dissolução de toda fronteira, limite. O tal eu, trôpego, disperso no universo dos tropeços. Corpo elétrico no curto-circuito, escuridão e choque.
Há quem escreva, quem pinte.. que importa? O que exprimiria o êxtase? Apenas esboços, lampejos, destroços. A experiência mesma passa ao largo e se ri dos ledos esforços de fixar residência naquelas paradas selvagens.
Temido Tremor
Virulentos esclarecimentos através de escândalos
em que noites bocejam ardis juvenis
preparavas a mesa com esmero
leões passeavam elegantes no jardim
A monotonia estilhaça sua louça preferida
paredes vomitam o insosso jantar
Incontrolável sua cona alucina em devaneios indesejáveis
E quando o desejo cansar de seu desprezo
e arrebentar suas vísceras no furioso desespero?
Abrandaria o gozo com suas eternas desculpas?
A vida Kareta represa a correnteza do devir
acumula a agonia
forja a matéria do transgressivo que implode abrupto
em mudanças pessoais por meio de surtos
Sufrágio e quinquilharias
Flácidos talheres copulam nos pratos calvos da última ceia
Abortos açoitam janelas para melhor verem os obtusos ângulos da vida.
Era a hora da morte, sussurrando palidez nos ouvidos da noite.
Vira de soslaio as marcas do tempo no rosto do urro.
Ouvira os suores nas garras que esfacelam as fotos da infância?
Púberes árabes perdem digitais ao rodear os dedos violentamente em seus clitóris
As lágrimas dos muros produzem vis espingardas que disparam contra as agonias.
Escarram volúpia as línguas que me alucinam o caralho?
Escárnio: saber de si nas sombras dos copos que suicidam-se das mesas de bar
No fino da agulha passou uma avarento que comprou deus para trepar com a virgem. Pagaremos também pela morte do bastardo?
A culpa me chupa na alvoroçada suruba do Nada.
Lá se foram as fábulas que dançavam no meio-fio da angústia.
Ninarei meus filhos com a asfixia do travesseiro?
Página publicada em abril de 2011
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