R. F. FRANCO
De
FRANCO, R. F. Nossas pálpebras. Fotos de Maycon Lima. São Paulo: Iluminuras; Museu Lasar Segall, 2010, s.p. ilus. col. ISBN978-85-7521-316-4
Poemas e imagens do livro resultantes das oficinas de escritas e de fotografia do Museu Lasar Segall.
(fragmento)
No ciclo dos corpos
sangue é vegetal
animal líquido
por onde gravitam
no volátil minério do chão
a cidade réptil
e seus rústicos vãos.
A SOMBRA
É QUANDO
OU QUEM
A COLHE
LACERAM
OMETAL ARENOSO
AS CORES DE ABRIL
CIDADE-CHÃO
I
O chão da cidade
traspassa a cidade
fissura seus moldes
e fossos
e ratos
fratura quais guetos
rumores
e matos.
Sinuoso invade
com seus viscos
os grãos
formigueiros
de jardins e salas
e as magrezas quase invertebradas
das favelas salgadas.
Nas artérias
do chão da cidade
mais sangue que no peito das mães
mais vida que nas filhas das árvores
e na folhas das mães
mais peso irrigando de chão
o púrpura do chão.
Desconfia-se de menos tristeza
na cidade mesma
que em seu chão.
Onde o chão da cidade ausculta
sob sol
o solo dos sós
ele perfura
solas, escaras, verrugas
(em fim de feira, verdura)
plana dureza de tétano
e virtudes em dor —
uma dor, palácios de dor
amarguras a cimento afeitas
vidas-dejeto de mulheres
e homens
e seres
cidadãos do chão.
Página publicada em novembro de 2011
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