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PEDRO MEIRA MONTEIRO
Graduou-se em Ciências Sociais (1994) pela Unicamp, tem D.E.A. em História Sócio-Cultural pela Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines (2000), mestrado em Sociologia (1996) e doutorado em Teoria e História Literária (2001) pela Unicamp. Ainda na Unicamp, fez pós-doutoramento na Faculdade de Educação (2010).
É doutor em teoria literária pela Unicamp e professor de literatura brasileira da Universidade de Princeton. Editou a correspondência de Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda, publicada pela Companhia das Letras.
Pedro Meira Monteiro é Professor da Universidade de Princeton, Department of Spanish and Portuguese Languages and Cultures.
VERSAL – Revista de Poesia. Ano 1, Número 2, Agosto 1997. Campinas, SP. Editor: Gabriel Antunes. 14,5 x 20,5 cm. Tiragem: 100 exemplares. Ex. bibl. Antonio Miranda
A um velho espelho
Era um espelho
Luzidio e claro como todo espelho.
Há tempos abandonado,
Num pobre canto de uma velha loja
Não reflete mais a beleza de outrora.
Em dias mais ditosos, fôra todo conselhos.
Enchera o olhar de muito rapaz,
Animara a silhueta de muita moça e
Afogara os sentimentos de muito desesperado.
Hoje porém abandonado.
Só o procura, num momento sem glória,
A moça trabalhadora, feia e desditosa.
Não lhe pede conselhos, apenas vence sem jeito
O desalinho dos próprios cabelos.
Antes brilhante,
Seduzira tanto sedutor!
Dera esperança
A quem não a tinha.
A um canto da loja, a moldura já gasta e sem moda,
Pouco faz, reflete o comércio apenas
Dos bens usados.
Deixado à sorte, envelhece só,
Vai perdendo o brilho, descurado.
Mas fôra já fonte de desvelos,
Pouso de anelos
Que se esconderam em olhares
Um dia...
Hoje um espelho entristecido.
Teima em alegrá-lo, ainda triste,
O olhar baço da pobre moça, que
Fixa os cabelos, ensaia o sorriso,
E o prende, como se o guardasse para um dia...
Página publicada em setembro de 2019
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