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PAULO VANZOLINI
Paulo Emílio Vanzolini nascem em São Paulo SP em 25 de Abril de 1924. Filho de um engenheiro, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro RJ, quando tinha quatro anos. De volta a São Paulo em 1930, cursou o primário no Colégio Rio Branco e fez o ginásio numa escola publica, terminando o curso em 1938. Quatro anos depois entrou para a Faculdade de Medicina, passando a freqüentar as rodas boêmias de estudantes e a compor seus primeiros sambas. Saiu da casa dos pais em 1944 e começou a trabalhar com um primo, Henrique Lobo, na Rádio América (programa Consultório Sentimental, de Cacilda Becker), sendo logo depois convocado para o Exercito, o que o obrigou a interromper os estudos. Dois anos depois, retomou o curso de medicina, começou a dar aulas no Colégio Bandeirantes e foi trabalhar no Museu de Zoologia, da Universidade de São Paulo. Formou-se em 1947, casou no ano seguinte, e foi para os EUA, onde se doutorou em zoologia, na Universidade de Harvard.
Em São Paulo em 1951, compôs o samba Ronda, por essa época, e publicou um livro de versos, Lira. Convidado por Raul Duarte, passou a trabalhar na TV Record, de São Paulo, em 1953, produzindo os programas de Araci de Almeida. Ainda em 1953, Bola 7 fez a primeira gravação de Ronda, acompanhado por Garoto e Meneses, nas cordas, Mestre Chiquinho no acordeão e Abel na clarineta. Mais tarde, em 1959, ofereceu seu samba Volta por cima à cantora Inezita Barroso, que não quis gravá-lo. Por influencia de seu amigo José Henrique (violonista e dono da boate Zelão), voltou a mostrar o mesmo samba ao cantor Noite Ilustrada, que o lançou pela Philips em 1963, com grande sucesso. Nesse ano tornou-se diretor do Museu de Zoologia. Continuou acumulando composições inéditas, conhecidas apenas por restrito grupo de boêmios, principalmente os freqüentadores da boate Jogral, onde costumava cantar.
Em novembro de 1967, seus amigos Luís Carlos Paraná (dono da boate Jogral) e Marcus Pereira (então dono de uma agencia de publicidade) resolveram produzir um LP com músicas suas – 11 sambas e uma capoeira – interpretadas por vários cantores, entre os quais o próprio Paraná (Capoeira do Arnaldo), Chico Buarque (Praça Clóvis e Samba erudito) e Cristina (Chorava no meio da rua). No ano seguinte, com Toquinho, seu único parceiro, inscreveu a música Na boca da noite no II FIC, da TV Globo, vencendo a parte paulista do concurso. Com Toquinho compôs, ainda, Boba e Noite longa, ambas em 1969. Só teve, porém, novas músicas gravadas em 1974, ano em que Cristina lançou Cara limpa no seu primeiro LP, e Marcus Pereira, agora dono da gravadora de mesmo nome, editou um segundo LP – A música de Paulo Vanzolini – com músicas interpretadas por Carmen Costa e Paulo Marques, entre elas Mulher que não da samba, Falta de mim, Teima quem quer. Em 1997 foi homenageado, na USP, com show em que foi apresentada uma nova música sua, Quando eu for, eu vou sem pena.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira / Art Editora e PubliFolha
De
TEMPOS DE CABO
DE PAULO VANZOLINI
Ilustrações de Aldemir Martins
Edição fac-similiar
São Paulo: Imprensa Oficial, 2009 ISBN 978-85-7060-702-7
Um edição primorosa, de bom gosto e qualidade gráfica,
com o mérito de resgatar esta obra prima da poesia do
nosso grande letrista.
QUEM ME VIU E QUEM ME VÊ
Quem me viu e quem me vê
ha de dizê certamente
que hoje me vê diferente
Se essa vida é mesmo um circo,
paiaço dela sô eu.
Destino se riu de mim,
me deu muler que eu não quero,
muler que eu quero num deu.
Uma, coitada, me adora.
Se eu passo e num ligo, chora.
Sempre eu passo, nunca eu ligo.
A outra, veja você,
destino brinco comigo,
nem finge que não me vê,
si ri pra mim tudo dia,
não sorriso de bondade,
nem de amor nem de amizade,
de maldade e de ironia.
Quem me viu e quem me vê
hoje me vê deferente.
Onde eu to tem tempo quente,
tem tiro, tem punhalada,
tem sangue, tem entrevero.
Diz que eu não sô bom de gênio,
dissesse que é desespero.
Quem conhece um pouco a vida
Vê meu destino traçado:
vô acabá de madrugada
espichado numa carçada,
morrendo de morte matada.
E nesse dia de sangue
essa muler que eu não gosto,
me vendo morto se mata.
E essa que gosto, essa ingrata,
não ha de chorar por mim,
só ha de dizer assim,
com seu geito de princeza :
— Era nego muito salafra,
morrendo até foi limpeza. —
VANZOLINI, Paulo. 5 carreiras de cururu. Paulo Vanzolini & Aldemir Martins. São Paulo: Grafix – Artes Gráficas, 1954. “Ano do IV Centenário”. Livro inconsútil. Inclui pentagrama musical da música “Cururu“.Tiragem: 150 exemplares assinados pelos autores. Ex. bibl. Zenilton Gayoso.
(uma carreira:)
na carrêra do divino
Agora têmo aqui pr’urtima veis
cantano na carrêra do Divino
e eu acho que já tá chagano a hora
de pensa em i simbora
de já í se dispidino
Ei-lá de pensa em í simbora
ei-lá de já í si despidino
que as coisa por mais que elas seja boa
chega num ponto que enjoa
que já vai disiludino
Pro cantado é coisa muito triste
quano o povo num resiste
e acaba tudo durmino
Passêmo junto argumas boas hora
vanceis e eu e mais esses minino
Louvêmo quem tem seu merecimento
discutimo uns argumento
verso nunca repitimo
Ei-lá discutimo uns argumento
ei-lá verso nunca repitino
Fizemo um pôco de marcriação
mai tudo sem má intenção
só brincano e adivertino
Fizemo argum bom verso de sustento
porem teve argum momento
que fiêmo o fio bem fino
Agora Paulo vai les confessá
que foi seu pai quem le deu esse ensino
que enquanto espera a veis ou tá cantano
seus óio vai ensaminano
os sembrante feminino
Ei-lá seus óio vai ensaminano
ei-lá os sembrante feminino
Morena no meio da sala cheia
ou meus óio vorta e meia
tava lá te persiguino
E se num tô errano por vaidoso
os teus óio buliçoso
dos meus num tava fugino
Gostei dos seus cabelo cachiado
gostei do seu pésinho pequinino
gostei muito de seu rosto inocente
mai gostei principarmente
foi desse óio ladino
Ei-lá mai gostei principarmente
ei-lá foi desses óio ladino
e como recebi essa impressão
e só hóme de ação
eu agora tô agino
Eu amanhã le faço uma visita
vancê espere bem bonita
com seu vestido mais fino
Ei-lá vancê espere bem bonita
ei-lá com seu vestido mais fino
Vancê tenho argum noivo ou namorado
dê o rapais por avisado
que percure ôtro destino
Pois Paulo num suporta concorrencia
ele é curto de paciência
pode fazê um desatino
Agora vô dizê pro vosso Pai
no causo de ele tá aqui me ôvino
que quano eu paracê ká na estrada
vá prendeno a cachorrada
e os parentes arreunino
Ei-lá vá prendendo a cachorrada
eil-lá e os parentes arreunino
porque Paulo pertende seriamente
entrá como pretendente
como genro í saíno
Se o véio fô no seu agí correto
vai o seu nome num neto
no causo de sê minino
Agora que tratei da minha vida
eu posso continua me despidino
se dei no meio das frasia bonita
argúa palavra mardita
mir descurpa tô pidino
Ei-lá de argúa palavra mar dita
ei-lá mir descurpas tô pidino
só farta agradecê mai uma veis
a bondade de vanceis
tanto tempo nos ôvino
E agora cada quar vai pro seu lado
vanceis vão acompanhado
pelas benção do Divino
Página publicada em junho de 2010; ampliada em junho de 2016
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