OTONIEL SANTOS PEREIRA
(Ibirarema, São Paulo, 1940- )
wc
Sentado em cima do mundo
(anatômico)
o homem se des/faz
da mundana carga
carga
carga
Depois, frio, sem pânico
aperta o botão atômico
E, obra prima, belo
brota no deserto
a flor de um cogumelo.
WC'& outros poemas, 1972
Poder
fazer da morte uma nação e dividi-la
em sul e norte, fazer da vida uma
negociação que se oxida e se exila,
fazer do homem uma arma que resuma
granada, obus, metralhadora, mão armada,
fazer do tiro no ar uma constelação
e constelar o inimigo e seu cão
da fome, fazer pesar a industria pesada
de matar e desenvolvê-la, fazer do impacto
de uma explosão explodir uma estrela,
fazer da ponte e da casa a bomba e o gás
no horizonte, fazer um corte exato
no rnapa de óbitos, fazer a morte e fazê-la
em paz.
Poética
Palavras cercadas
por um mar branco,
eis o poema.
Não as palavras.
O mar branco.
De ANTOLOGIA POÉTICA DA GERAÇÃO 60. ÁLVARO ALVES DE FARIA; CARLOS FELIPE MOISÉS, organizadores. São Paulo: Nankin Editorial/ Instituto Moreira Salles, 2000.
PEREIRA, Otoniel Santos. A Pedra na Mão. São Paulo: Massao Ohno, 1964 s.p. 13x17 cm “ Otoniel Santos Pereira “ Ex. bibl. Antonio Miranda
FLOR E BOI
acaso em descobrir:
um boi rumina a flor
que outro, em manha, dormira.
que verde os aproxima
e exibe, amor
ou mina?
a flor no boi
colhe a boca, a saliva,
e o dente que a vincula
ao novo campo, móvel
e ao capim se mistura.
onde estrelas cantam.
e dormem.
os grilos brilham.
de manha quem os exige?
e flor
e boi
se encampam
A MÃO, FRAGMENTOS
a mão tem, de
esfacelada,
o vinco de várias facas
a mão esfrega os olhos
e desce suja de lágrimas
e quando é farta e lavra a pele
do amor, é dogmática.
a mão perde, em seguida recobra
o sentido de viver
e, se pudesse,
morreria.
a mão tem um lastro de gelo
e tem uma lâmina
a mão reprime o riso
e
cobra inseto lagarto cousa viscosa
sorri de baixo, para dentro,
gozando a palavra
mão
Página publicada em setembro de 2009. Ampliada e republicada em janeiro de 2015.
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