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POESIA AFRO-BRASILEIRA

 

Foto extraída de http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores

 

OSWALDO DE CAMARGO

 

Poeta e escritor e jornalista nascido em Bragança Paulista, São Paulo, no dia 14 de outubro de 1936.

Escreveu seu primeiro livro de poesias aos 16 anos — Vozes da Montanha.

Jornalista e revisor do jornal O Estado de S. Paulo, quando publica o livro de poesias Um homem que tenta ser anjo e O Estranho (poemas); Publicou também contos e uma novela.

 

 

 

Meu grito

 

                Para Eduardo Pinheiro

 

Meu grito é estertor de um rio convulso...

Do Nilo, ah, do Nilo é o meu grito...

E o que me dói é fruto das raízes,

ai, cruas cicatrizes!,

das bruscas florestas da terra africana!

 

Meu grito é um espasmo que me esmaga,
há um punhal vibrando em mim, rasgando
meu pobre coração que hesita
entre erguer ou calar a voz aflita:
Ó África! Ó África!

 

Meu grito é sem cor, é um grito seco,
é verdadeiro e triste...

Meu Deus, por que é que existo sem mensagem,
a não ser essa voz que me constrange,
sem ecos, sem lineios, desabrida?
Senhor! Jesus! Cristo!
Por que é que grito?

 

                                  (De 15 poemas negros, 1961).

 

 

Canção amarga

 

Eu venho vindo, ainda não cheguei...
Mas vive aqui meu velho pensamento,
que se adiantou, enquanto demorei...

 

Na mornidão de um solo bem crestado
(é o território estreito de meu corpo),
eu venho vindo, sim, mas não cheguei...
Pois, rasgo a minha sorte, ponha a vida
sobre esta aguda lápide de abismo;
um dia nesta pedra enterrarei
a minha carne inchada de egoísmo...
Eu venho vindo, ainda não cheguei...

 

Recolho o pensamento e me debruço
nesta contemplação, assim me largo...
E, preso ao ser que sou, soluço e babo
na terra preta de meu corpo amargo...
Porém na hora exata cantarei...
Eu venho vindo, ainda não cheguei...

 

                                               (De 15 poemas negros, 1961).

 

 

 

Em maio

 

Já não há mais razão de chamar as lembranças
e mostrá-las ao povo
em maio.

Em maio sopram ventos desatados
por mãos de mando, turvam o sentido
do que sonhamos.

Em maio uma tal senhora liberdade se alvoroça,
e desce à praça das bocas entreabertas
e começa:

"Outrora, nas senzalas, os senhores..."
Mas a liberdade que desce à praça
nos meados de maio
pedindo rumores,

é uma senhora esquálida, seca, desvalida
e nada sabe de nossa vida.
A liberdade que sei é uma menina sem jeito,
vem montada no ombro dos moleques
e se esconde

no peito, em fogo, dos que jamais irão
à praça.

Na praça estão os fracos, os velhos, os decadentes
e seu grito: "Ó bendita Liberdade!"
E ela sorri e se orgulha, de verdade,
do muito que tem feito!

 

        (De: Cadernos negros: os melhores poemas, 1998)

 

 

 

 

 

 

 

Página publicada em setembro de 2020


 

 

 
 
 
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