ORLANDO MARTINS TEIXEIRA
Orlando Martins Teixeira nasceu em São João da Boa Vista, a 27 de agosto de 1875, e faleceu em Sítio, Minas Gerais, a 25 de fevereiro de 1902. Compôs, além de sonetos famosos, uns versos a Vênus, declamados com ênfase pelo ator português Dias Braga quando fazia o papel de Nero num drama extraído do romance "Quo Vadis?".
Extraído de
WORMS, Pedro de Alcântara, org. 232 poetas paulistas. Antologia. Rio de Janeiro: Conquista, 1968. 403 p. 13,5x20,5 cm. Capa: Célio Barroso.
AZUL
Chapéu azul, vestido azul, de azul bordado,
Azuis o pára-sol e as luvas, senhorita,
Como um lótus azul por um deus animado,
Passa toda de azul, por mil bocas bendita.
Há um bálsamo azul nesse azul que palpita,
Misticismos de um mundo, há muito em vão sonhado,
Azul que a alma da gente a idolatrá-la incita,
Azul claro, azul suave, azul de céu lavado.
Deixa na rua um rastro azul que cega e prende,
Não sei quê de anormal, de fantasma ou de duende,
Que prende os pés ao solo e ao mundo os olhos cerra;
Vendo-a, não se vê nada que o azul, tonteia...
Como num sonho azul, logo nos vem à ideia
Como um pedaço de céu azul passeando a terra.
A QUE NUNCA SERÁ MINHA
Dona Alva, minha senhora,
que tanto amor inspirais,
Hei de querer-vos embora,
Dona Alva, não me queirais;
Pois o querer-vos agora
Eu prefiro a tudo o mais,
Dona Alva, minha senhora,
Que tanto amor inspirais.
Dona Alva, minha senhora,
Dona de risos fatais;
Alegre, gárrula, mora,
Como um bando de pardais,
Nos vossos olhos a aurora;
E em treva me mergulhai,
Dona Alva, minha senhora,
Dona de risos fatais,
Dona Alva, minha senhora,
Senhora de olhos mortais.
Tanto esta alma vos adora
Tanto me desadorais...
Seja! Esse amor não descora
Muito embora o maldigais,
Dona Alva, minha senhora,
Senhora de olhos mortais.
Página publicada em maio de 2017