OLIVEIRA RIBEIRO NETO
Pedro Antônio de Oliveira Ribeiro Netto (São Paulo, 20 de janeiro de 1908 - São Paulo, 1989) foi diplomado em letras e em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade do Largo de São Francisco, promotor público, juiz, adido cultural do Itamaraty, membro e presidente da Academia Paulista de Letras, jornalista, crítico literário, escritor, poeta e tradutor brasileiro.
Oliveira Ribeiro Neto foi membro da Academia Paulista de Letras, cadeira
nº 26, durante 35 anos, tendo sido eleito presidente três vezes. Presidiu a União Brasileira de Escritores por algumas vezes, substituindo presidentes que se afastaram do cargo, e cumpriu o mandato remanescente de Afonso Schmidt, que faleceu em 1964. Ocupou a presidência durante o período da ditadura militar, quando enfrentou a situação de ver vários escritores da UBE detidos pelo Departamento de Ordem Política. Ficou na presidência até 1967, quando foi substituído por Raimundo de Menezes.
Fonte da biografia: wikipedia
CARNAVAL
A velha nuvem, grotesca,
teimava, gorda e ranzinza,
em jogar o confeti cor de cinza
da garoa fina e fria
na Terra carnavalesca.
A Terra nem respondia...
Súbito, a chuva cedeu.
Foi quando a Terra, vaidosa
a uma risada vermelha
do sol, jogou para o céu,
em redemoinhos azuis,
as sete cores do arco-íris
numa faixa esplendorosa
de serpentinas de luz.
BOLHAS DE SABÃO
Queima o sol do meio-dia.
Feitas de espuma fria
sobem bolhas de sabão
luzentes como estrelas…
E vendo o neto fazê-las,
chora-lhe de saudades o coração.
Em tempos há muito passados,
quando era pequenina,
seus olhitos espantados
viam as bolhas amarelas
como as asas daquelas
borboletas dos prados.
E a bolha refletia
os seus sonhos de pequena:
— um gato branco (que mia),
e uma boneca morena
com grandes olhos de louça…
Mais tarde, quando era moça,
a bolha maravilhosa
não tinha a cor amarela
das borboletas de ouro;
— era toda cor-de-rosa
qual seus sonhos de donzela…
Então via um príncipe bem loiro
de brilhantes coroado
e um castelo encantado!
Depois, já cansada a vista
e a cabeleira prateada,
a bolha de sabão triste ela via
da cor saudosa da ametista…
… Não mais uma boneca ela queria,
ou um príncipe armado duma espada:
— Hoje, o espelho de ametista refletia
um céu azul e mais nada…
SINFONIA VERDE
Calor tropical. Horas paradas
das tardes brasileiras.
Lançando-se no espaço, os leques das palmeiras
são bandeiras verdes, desfraldadas.
Campos verdes. Grilos verdes a cantar
na cúpula verde, gigantesca,
que se estende no ar.
Uma cortina de cipós,
agreste e pitoresca
fecha o cenário
dando eco
de parasitas pelos troncos. No sacrário
da floresta é tudo verde.
Apenas
um pedaço de céu espia num recanto.
De repente, como por encanto,
assustado, prorrompendo em gritos
debanda, num ruflar de penas,
um bando verde de periquito.
um pedaço de céu espia num recanto.
CANÇÃO DO QUE PASSA
Eya! Eia!
O carro de bois vai gemendo pela estrada
estreita e empoeirada.
Vai carpindo a saudade do caminho que deixou,
— na ânsia de vencer o caminho que virá.
Eia! Eia...
Rola o grito do carreiro de quebrada em quebrada.
Eia! Eia...
O carreiro há quanto tempo vai chorando
a saudade do que ficou para trás,
lá longe, na curva do caminho,
e que os seus olhos já não podem ver.
Eia! Eia...
— Meu coração!
Tu sentes mais do que o carreiro:
— a saudade prematura do que tens e perderás,
a saudade futura do que terás de hás de perder.
Página publicada em junho de 2020
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