OLGA VALESKA
Olga Valeska Soares Coelho - Possui Graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1994), Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998), Estágio de Doutorado em Estudos Literários-Doutorado Sanduíche -UFMG/COLMEX - Colegio de México-COLMEX (2002) e Doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003).
Atualmente é professora credenciada no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, na qualidade de Membro Fundador. Exerceu a função de coordenadora do Curso de Mestrado em Estudos de Linguagens ao longo dos três anos de sua implementação. Atua como pesquisadora, sendo membro das seguintes associações: ANDA (Associação Nacional de Pesquisadores em dança; ABRACE (Associação Nacional de Artes Cênicas). No CEFET-MG coordena dois grupos de pesquisa certificados institucionalmente: "Discurso, Cultura e Poesia" e COMTE (Corpo Movimento e Tecnologia). Além disso, participa como vice-lider do grupo Concepções Contemporâneas em Dança-CCODA, na Universidade Federal de Minas Gerais.
Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Estudos de Linguagens, interessando-se principalmente por pesquisas envolvendo Semiótica e estudos de Poesia, Dança, Teatro e Poéticas do corpo e do movimento, com interface tecnológica. Fonte da biografia: www.escavador.com
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 35 – Ano 17 – 2010. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, 2010. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Miragens
(a Adrián Muñoz)
Quando eu percebi
que o mar era profundo demais,
tive medo por seus olhos
que miravam, fixos, o horizonte
como quem espera suma sereia.
E eu vi que eles
procuravam
algo tão simples
que ninguém imaginou
que estava ao alcance das mãos.
Os sonhos
misturavam-se com as ondas,
com as nuvens,
modelando formas...
tão imensas!, que eu tive medo
que, em algum momento,
fossem reais.
Muros de vento
(a Doña Dulcinea del Toboso)
eu também
construí muros
e protegi,
do vento,
o meu moinho
horizontes frágeis
no amanhecer cantado
por pássaros
obscuros
um mundo
cercado
por nadas
que nada sabem
da dor de um louco
que tenta
salvar palavras
encravadas
nos penhascos
claros
de um abismo
O nome
(a meus ancestrais)
Nome que invade
e alimenta
o fluxo louco dos rios
Rios que mancham e
marcam a terra
que lavram
Nome tão estranho
que acaricia
e fere o corpo
e se deixa cair
(soletrado)
como um pingente
grotesco
Vejo esse nome estrangeiro
preso em mim
não sei por qual
vontade
E que devolve o meu olhar
de espanto
como se não soubesse
dizer mais...
nada!
VALESKA, Olga. Mundos e mutações. Livro I. Livro II. Belo Horiizonte: anome livros, 2010. Dois livros interligados por uma capa interna. O primeiro contém texto, o segundo ilustrações em cores. 14x20 cm Editor Wilmar Silva. Col. A.M. (EE)
SOBRE LOBOS E PASTORES
a A. Cueiro
Ele guarda os rebanhos.
Eu os fustigo
para que mordam
berrem, matem, e se
desesperem
Ele pensa com um toque de dedos.
Eu corto, cruel,
as fatias entre o corpo e a mente
encurvando astúcias
e curtindo as certezas
dos impiedosos
Ele canta, de corpo inteiro,
a realidade que nada lhe diz
Eu despejo palavras enlouquecidas
no fundo do meu próprio ouvido.
E grito feroz contra rochas surdas.
Ele sabe o sentido da vida.
Ao sabor de passos peregrinos
ele segue o vento...
Eu resisto.
E sopro contra as tempestades.
Ele repousa.
E eu desfruto
(inútil)
a exaustão dos renegados.
VIOLÊNCIA
a Jussara Santos
Houve o silêncio que
quebrava as esquinas
da cidade
posta em sonho
denso e pegajoso
como o afago
de um gato pardo à noite
E o vento não soprou esse silêncio
(que o mundo não quis escutar)
rosnado crispado arrastado e
a mão armada
CENA poética 8 , incluindo contos. Editor: Rogério Salgado. Belo horizonte, MG: RS Edições & Baroni Edições, 2022. 200 p. 14 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Do tempo
Suas mãos
procuram as minhas
bem devagar
como se não existissem
mãos
(nem tempo)
só almas
escorrendo...
e se misturando
na poeira da noite
fazendo a terra
ranger
estalar
como uma cama velha.
Na distância
Vejo gente na janela
(solidão seca e fosca)
Esboços de gestos
treme
luzindo no vidro sujo dos quartos.
E ruídos
rompendo em estrondo
o silêncio estagnado
da noite
...na distância...
(In: Mundos e Mutações)
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Página ampliada e republicada em outubro de 2022
Página publicada em janeiro de 2013; Página publicada em setembro de 2018
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