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MICHEL TEMER
Michel Temer nasceu em 23 de setembro de 1940 em Tietê, interior do estado de São Paulo, e foi criado em um ambiente rural.
“ANÔNIMA INTIMIDADE” DO POETA MICHEL TEMER
por Antonio Miranda
Encontrei este livro de Michel Temer, em 2015, numa estante da Livraria Cultura, de Brasília. Estou sempre buscando livros novos para atualizar o Portal de Poesia Ibero-americana (www.antoniomiranda.com.br), mas fiquei intimidado: era do vice-presidente da República!
Evitei-o. Preconceito? Em verdade, temi vir a me interessar pela poesia dele e, se viesse a publicar algo, podia ser confundido com um oportunista. Depois deparei com uma resenha bastante positiva de meu colega Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, que assina uma coluna no site Musa Rara; também se melindra, como eu, para justificar sua resenha sobre o livro “ Anônima intimidade” por tratar-se do político em evidência na cena brasileira. E ressalta: “ Contrariamente, me surpreendi com alguns recursos poéticos utilizados por Michel Temer, bem distantes das belas letras, recursos que o aproximam mais da poesia contemporânea que do Congresso. Nacional” E arremata afirmando tratar-se de um poeta que “tematiza duas crises caras à poesia pós-moderna, a crise do sujeito e crise da representação”,. (In: .http://www.musarara.com.br/anonima-intimidade).
Pouco tempo depois, Michel Temer tornou-se o presidente em exercício do Brasil. Reencontrei um novo exemplar, na mesma livraria. Folheei-o e encontrei os termos fraternos e inteligentes de Ayres Brito, autor que eu admiro, e decidi ler os poemas. Adquiri o exemplar e escolhi alguns poemas, confessionais mas nunca banais, que apresentam o perfil humano da, hoje, figura máxima na hierarquia do poder republicano. Impossível dissociar o texto da figura humana do criador.
Manuel Mujica Láinez, o autor do célebre romance “Bomarzo” declarou que tudo o que ele escrevia era autobiográfico, inclusive seus personagens mais bizarros como o célebre Príncipe Orsini, figura escatológica. Na mesma direção, Temer adverte-nos que seu livro de poesia é “obra de ficção”. Disfarce, jogo de palavras. Na página anterior, ele se contradiz: “Ao leitor, ofereço o meu retorno aos 15, 16 anos.”
Carlos Nejar, imortal da Academia Brasileira de Letras, na orelha do livro, esclarece: “Michel Temer não quer somente a Anônima Intimidade”, quer ter a certeza de ocultar, discretamente, o autobiográfico no obscuro vulto coletivo”. Isso mesmo! “A estranheza do que é anônimo e do que é mais íntimo permeia este texto (...)”. Ou seja, como atesta o (também poeta) jurista Ayres Brito, no referido prefácio, “é o político partidário que não deixou morrer o jurista que nele coabita, assim como este mesmo jurista não deixou que sua inteligência racional embotasse a sua inteligência emocional e, por desdobramento, a sua inteligência espiritual (que prefiro chamar de consciêncial). E vem a confissão do poeta Temer: “Escrever é expor-se./ Revelar sua capacidade / Ou incapacidade / E sua intimidade. / Nas linhas e entrelinhas.”
Evito adjetivos no presente texto, quero apenas compartilhar esta experiência, de estranhamento, mas também de superação.
A seguir alguns poemas do livro, como demonstração do supradito:
TEMER, Michel. Anônima intimidade. Prefácio de Carlos Ayres Britto. Ilusttrações de Ciro Fernandes. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012. 164 p. Ilus. 16x22,5 cm. ISBN 978-85-7475-215-0 “Michel Temer” Ex. bibl. Antonio Miranda
OUTRO
O outro sou eu.
Assim. Triste. Desarticulado. Desejoso. Choroso.
Alegre, às vezes.
Romântico. E terno. Necessitado de ternura. Carente.
Criança. Que, crescendo, assustou-se. E volta a ser
criança.
Neste livro. A recuperar-se. Traçar o rumo que desejei.
E não consegui.
Para vencer o medo, encorajei-me. Combati. Com
firmeza.
Determinação. Contido. Para não chorar.
Argumentando, sempre.
Ao invés da lágrima, o músculo retesado. E o
enfrentamento.
O debate. E a vitória.
Para quê? Reduzi a miséria no mundo? Material,
Pessoal, espiritual?
Não. Vivi o eu aparente. Apenas. Mas eu sou o outro.
Este, que está nestas páginas.
EU
Deificado.
Demonizado.
Decuplicado.
Desfigurado.
Desencantado.
Desanimado.
Desconstruído.
Derruído.
Destruído.
ELE
Está sempre ausente.
Em todas as conversas.
É ele quando dele se fala.
Faz a sua presença quem dele fala.
É dependente de quem dele se lembra.
Não existe por si, mas pela lembrança de outro.
Não é como o eu, o tu, o nós, o vós.
Presenças, sempre.
O ele é ausência, sempre.
POR QUÊ?
Por que não paro?
Por que prossigo?
Por que insisto?
Por que lamento?
Por que reclamo?
Por que ajo?
Por que me omito?
Por que desabo?
Por que levanto?
Por que indago?
Por que questiono?
Por que respondo?
Por que este infindável
Por que?
RADICALISMO
Não. Nunca mais!
OUTRA VEZ
Faço.
Refaço.
Penso.
Repenso.
Vejo.
Revejo.
Considero.
Reconsidero.
Que desastre seria
Se não houvesse
O RE.
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