MARISA BUELONI
Marisa Fillet Bueloni mora em Piracicaba, é formada em Pedagogia e Orientação Educacional. É membro da Academia Piracicabana de Letras.
Lata
(Marisa Bueloni)
Refazer o mel
engendrar a abelha
na estrutura cósmica
da comida em lata
Doce veneno mortal
que as máquinas expelem
em jatos suculentos
de massas e bolos verdes
Súbito abridor de latas
que baila nos dedos
a dança macabra
da abertura final
Sirvam-se, senhores
dá para todos
(extraído de: http://www.primeiroprograma.com.br/)
BUELONI, Marisa. De tarde, o amor. São Paulo: Massao Ohno - M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, 1986. s.p. 15x22,5 cm . Capa: Piet Mondrian. Grafismos: Darcy Penteado. Foto da autora: Henrique Spaviéri. (Coleção Prata vol. 17) Col. A.M. (EA)
SAUDADE
Faz tempo essa saudade
que dura
dura
dura
dura
Não sei mais
se é velha
ou prematura
FREI ALEIXO
Quando eu tinha 15 anos
beijei Carlos,
um carioca,
rapaz bonito e danado.
Na pouca idade
e muita virtude,
achando que fora longe demais
com o beijo,
me confessei.
Frei Aleixo
— quanta bondade! —
aconselhou um exame
de sífilis.
Fiz o exame,
deu negativo.
A DOIS
Temos uma
diferença:
és todo
ateu
sou toda
crença
e quando
digo uva
entendes
chuva
nossa
convivência
é fé
e paciência.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista da Biblioteca Nacional do RJ. Ano 3 – Número 5 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626Ex. bibl. Antonio Miranda
Éden
E quanto mais tens fome e mais eu me afasto
Mais sou o animal que te devora o pasto
Mas não comi de tudo, deixei-te algum resto
A ração já me basta e te provo: não presto
Assim, eva-mulher na criação da vida
Maçã, romã, pagã, na força dividida
No arremedo de gente eu sou tão acabada
No barro de que fui um dia pré-moldada
Me veem sempre santa nos séculos de puta
Me comem sempre parto enquanto sou a fruta
De caldo, sumo, sangue, sempre esbagaçada
Nos dentes, língua e dedos, sempre tão triturada
No trigo, joio, leite, no mel e dedo em riste
E entre a puta e a fruta, ao menos fruta seja
No chão ou numa mesa, inda que fruta triste
Ao comensal que nunca conhecerá o sabor
Da árvore do mal, raiz de vida e amor
Integridade
Margarida passou por aqui
agorinha mesmo.
O riso faminto na boca sem dentes,
o olhar brilhando de esperança, miséria bem distribuída.
—Tem nada pra mim hoje, dona?
—Tenho sim, Margarida.
E uma blusa de lã das boas agasalha
o gesto de quem nasceu
para dizer obrigado.
— Vamo, fio, que a mãe tá cum pressa.
A fila de filhos escolta Margarida
rua abaixo. Margarida é o miolo; os filhos
as pétalas. Uma flor desce a rua.
Despetalada e íntegra.
Concurso
Recorte a embalagem
Escreva seu nome no verso
E mande quantas cartas quiser
Mas não se esqueça:
A promoção só vale para homem
E você é mulher.
Página publicada em dezembro de 2012. Página republicada em dezembro de 2017. Poesia erótica, poema erótico.
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