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MARINA TRICÂNICO

nasceu em Piracicaba e radicou-se em São Paulo.  Professora,  jornalista, advogada (bacharelou-se em 1947). Tem vários livros publicados, entre outros: "Madrigal" e "Receita para o Amor". Farta obra sobre literatura infantil. Fundadora da "Casa do Intelectual", na capital paulista. Faleceu em 1989.

 

“Os caminhos da Poesia são calçados com brilhantes. Esses cristais, porém, têm agudas pontas cortantes como espadas. É, pois, a angústia e o martírio da criação que os lapida. Se o caminho é rutilante, a caminhada é um calvário. / Os que vão por ele, como minha amiga Marina Tricânico, vão cercados pela minha estima. Como é pesada a cruz do Sonho! / Na sua crente marcha rumo seu ideal de beleza encontrará na estrada, como nas lendas, muitos bardos tombados. Ela, porém, é jovem e confiante e em si carrega a alegria matinal de um pássaro...”  MENOTTI DEL PICCHIA

 

TRICÂNICO, MarinaMinaretes do sonho.  Versos.   São Paulo:  Edições e Publicações Brasil Editôra, 1958.  169 p.  14x19 cm.  Capa: Orlando Mattos. “ Marina Tricânico “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.

 

AQUELA MESA...

Aquela escrivaninha onde eu sonhava,
Aquela mesa amada e pequenina.
Era só nela em que me refugiava
Para compor meus versos de menina.

E, debruçada sobre ela, eu ficava
Envolta pela noite peregrina.
Cheia de sonho, ingênua, acreditava
Na cigana que lera a minha sina...

Ah! Se eu pudesse achar aquela mesa,
— Minha ternura— tenho bem certeza,
Ao começo da vida voltaria...

E chorando qual tímida criança,
Eu dela cobraria uma esperança,
E a volta dos meus sonhos, pediria...

 

MENTIRA

— Quem és? Eu lhe pergunto emocionada,
Os seus olhos fitando sem receio.
— Sinto-me só na longa caminhada,
Quero a verdade, que a mentira odeio!

— Conta-me a tua história!  Alvoroçada,
Vejo-o sorrir... E julgo que ele veio
Confessar o segredo à sua amada...
E fico a ouvi-lo num sublime enleio...

Há no ambiente, doçura e encantamento...
E aquela voz — meu sonho e meu tormento! —
A dominar-me, enquanto devaneio...

E a vida continuou: a fantasia.
Na qual acreditei — por que seria? —
A mentira sublime na qual creio...

 

FESTA NO CORTIÇO

Dia de festa
Lá no cortiço.
Já de manhã,
Que reboliço!

Faz frio: é junho.
Mas ninguém sente.
E todo o mundo
Está contente!

Casinhas pobres
Tornam-se ricas.
É certo, olvidam,
Suas futricas.

E num delírio,
A criançada
Lá no cortiço,
Está assanhada!

Cruza-se gente
Num vai e vem.
Quanta alegria
Que todos têm!

E se reúnem,
Fazem enfeites.
Tantos festões
Para os deleites!

A preta velha,
Das mais velhinhas,
À moda antiga
Faz cocadinhas.

— Olha os suspiros!
— Cadê o cuscuz?
Sinhá Ditinha,
Frita os beijus!

Esperto, um moço,
Cara matreira,
Apronta a lenha
Para a fogueira.

É Santo Antônio
O padroeiro.
Está no altar,
Lá no terreiro.

Das casadoiras,
Há recadinho.
E o santo esplende,
Enfeitadinho!

Vem muita gente
Para a festança.
Depois dos comes,
Virão as danças.

*

Dia de festa
Lá no cortiço.
Já de manha,
Que reboliço!

 

Página publicada em abril de 2015.

 

 


 

 

 
 
 
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