O TEMPO AGORA Nº 3
O AGORA-PERFEITO DO FUTURO
Agora é o tempo da confissão, quando
a consciência traduz a realidade...
e assume o psicossomatismo do castigo
- da culpa, enquanto espera a futuralidade:
o veredicto de perdão das circunstâncias,
o edênico estado de bem-aventurança,
a perfeição da existência do "aqui-presente"
- entre o transcendente céu e o imanente inferno!
É o tempo das interrogações causais,
dos esquizofrênicos "porquês" que, autocêntricos,
o código da vida decifrar presumem
- o genoma psicofísico do humano,
à medida que disseca o "depois" e o "quando",
na autópsia que procura a solução do enigma:
se eu sou do "quando" o único sobrevivente,
se do "depois" nem eu sobrevivi - Quem sou?!
É o tempo do limite, da finitude,
quando, depois do auge, a matéria involui,
e o espaço físico converge ao geocêntrico,
e os anos-luz do eternal a visão alcança,
e o pensamento ausenta-se, o oxigênio escapa,
na trégua que a história sugere ao arbítrio,
ao destino propondo o "ainda-da-esperança"
e o "assim-que-da-morte" como compensação!
É o tempo da dinâmica racional
que imperceptivelmente sobrepuja o instinto
da animalesca paixão, ingênua vontade,
que viceja à flor da pele como uma síndrome
que embriaga a alma de ilicitudes graves,
tornando patológico o prazer sensório,
o clímax genésico em mórbido delírio,
e o dependente em uma vítima fatal!
É o tempo da autocrítica filosófica,
antipirético que humaniza o ego
contra a autodivinização, tendência inata
que um semideus supõe tornar a criatura,
diabólica ambição de quem sequer pode
ser mais humano que é, pois escravo fez-se
quando senhor de si mesmo tornou-se em nome
de uma falsa liberdade, autodestruindo-se!
É o tempo do manifesto, do protesto,
da apologética em favor dos excluídos,
antes do estado de calamidade pública,
catástrofe social - legado maldito
de intransferível e inalienável posse,
que os descendentes incrimina como bárbaros,
co-autores de uma hediondez sem-par:
serem da casta dos sem-pátria - sem-governo!
É o tempo do trabalho, do sacerdócio
que transforma um profissional em visionário,
testemunha da história, juiz, intérprete
do futuro... independentemente do ofício,
condicionado embora ao “modus operandi”:
se o seu fim é fazer da vida uma mensagem,
se o poder não torna-o dessemelhante ao próximo,
se a sua causa é a igualdade e a justiça!
É o tempo da moral - não do moralismo
que reprime o comportamento, na dinâmica
que é mais robótica do que transformista,
pois julga "produzir-em-série" um novo ser,
ignorando a individualidade - o eu
todo-pessoal, obra-prima divinal,
que por ter perdido a consciência do ser,
só uma alquimia metafísica pode!
É o tempo da teologia pragmática
- não do institucionalismo religioso
que transforma a profecia em signos lingüísticos,
de arqueológico estudo, sentido eclético,
inacessível aos humanos quando esotérica,
ou, quando não, histericamente formal
- de inspiração pagã, politeísta fé,
que faz de Deus uma entidade mitológica!
É o tempo da sociocracia política,
que pressupõe deveres, direitos - poderes,
que advoga o igualitarismo (e exige exercício!),
distribuindo os dividendos das "ações",
co-partícipes do lucro tornando a todos,
para que o público empreendimento pátrio
cuja matéria-prima é o cidadão,
torne-se justo, justificando o trabalho!
É o tempo do poder, da cidadania;
da constitucionalização do fato (a Lei!),
da identidade (que não é numerológica!),
da autonomia econômica (nacional!),
da independência civil (que não é xenófoba!),
da justiça social (que é democrática!),
da igualdade (que é anticapitalista!),
da liberdade (que é pró-socialista!).
ÚLTIMA ESPERANÇA
Quando explodir a densidade demográfica,
e a geografia urbana decretar falência...
do trânsito, que só produz mortos e inválidos,
da autômata industrialização poluente,
da animalesca ascendência da violência,
da aristocratização da habitação,
dos excluídos - em "estado-de-impotência"
diante do comércio informal de importados (...)
- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!
Quando, suicida, a sociedade implodir,
e a sociologia fizer a necrópsia...
diante do desemprego - tumor maligno,
da orfandade social - trauma psicológico,
da corrupção septicêmica - epidemia,
da macrobiose judiciária - infarto,
da impunidade criminal - enfisemática,
do neuropático escravismo trabalhista (...)
- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!
Quando a política autocêntrica tornar-se,
os sócios de um regime transformando em súditos...
diante do governismo - que autocratiza,
da inequação do capitalismo econômico,
do oligarquismo - que as leis corporativiza,
do unilateralismo multipartidário,
do fisiologismo - que o país privatiza,
do poder - que faz da consciência um império (...)
- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!
Quando ao materialismo a fé não opuser-se,
e a teologia tornar-se deicida...
diante do antropocentrismo científico,
da filosofia - que o eros idolatra,
da psicologia individualista – “euísta”,
da cultura - que tudo torna utilitário,
do mitologismo autófago da história,
do existencialismo - que a moral degenera (...)
- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!
Quando a miséria em uma casta transformar-se,
destino das vítimas do pós-guerra urbano
que ao terrorismo moderno sobreviveram
- do maldito legado social herdeiros,
cujo fenômeno uma certidão atesta...
que, antes de fato cidadão fazê-lo, o exclui,
desde então descidadanizando o indivíduo,
do "ir-e-vir" ao "ter-e-poder" restringindo (...)
- ainda haverá um povo:o princípio de uma pátria!