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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



MARIANO DA ROSA  


Articulista – Ativista Político – Pensador – Ensaísta – Cronista – Poeta (Membro da União Brasileira de Escritores – SP)

E-mail: marianodarosaletras@hotmail.com
E-mail: marianodarosaletras@uol.com.br
 

Poemas extraídos do livro “O Todo Essencial” (publicado em Portugal no final do ano passado e lançado no Brasil na XIX Bienal Internacional do Livro de São Paulo): 

 

 

ROSA, Mariano da.  O Todo essencial.  Lisboa: Universitária Editora, 2005.  167 p.  12,4x20,5 cm.  Capa e diagramação: J. Wayne Formiga.  ISBN 972-700-557-8  

 

 

PATOGENIA DE UMA AUSÊNCIA 

 

Nem a solidão toda a tua ausência pode (...),

nem toda uma saudade o lembrar justifica

- é mais do que um auto-expressar-se da memória,

é mais do que uma doença psicossomática,

o asfixiante nó que, nevrálgico, explode

diante do aborto cirúrgico da história!

 

É todo um querer de ser-o-que-não-se-soube (...),

de sentir tudo quanto - quando - não se pôde:

uma síndrome de abstinência psico-física

que absorve - da derme ao cerne, do corpo à mente (...),

que reclama o objeto, enfim, tanto quanto o verbo,

que forma-se no Indicativo (e no Presente!).

 

Não é um religiosístico arrepender-se (...),

que absolve a alma humana - e o ser diviniza,

restituindo toda a autoconsciência!...

Éuma liturgia autogestativa

que o dualismo antagônico sacraliza,

ambos, macho e fêmea, tornando homogêneos!!!

 

Ah ! É o irromper de um vulcânico vazio:

uma abissal fome (...), uma desértica sede (...) ;

uma hemorrágica sensação de não

que faz do sonho um órfão, do desejo um náufrago (...)

- sintomático destino: amorose aguda

(patogenia de uma ausência – inesquecida!). 

 

 

O TEMPO AGORA Nº 3

O AGORA-PERFEITO DO FUTURO

 

Agora é o tempo da confissão, quando

a consciência traduz a realidade...

e assume o psicossomatismo do castigo

- da culpa, enquanto espera a futuralidade:

o veredicto de perdão das circunstâncias,

o edênico estado de bem-aventurança,

a perfeição da existência do "aqui-presente"

- entre o transcendente céu e o imanente inferno!

 

É o tempo das interrogações causais,

dos esquizofrênicos "porquês" que, autocêntricos,

o código da vida decifrar presumem

- o genoma psicofísico do humano,

à medida que disseca o "depois" e o "quando",

na autópsia que procura a solução do enigma:

se eu sou do "quando" o único sobrevivente,

se do "depois" nem eu sobrevivi - Quem sou?!

 

É o tempo do limite, da finitude,

quando, depois do auge, a matéria involui,

e o espaço físico converge ao geocêntrico,

e os anos-luz do eternal a visão alcança,

e o pensamento ausenta-se, o oxigênio escapa,

na trégua que a história sugere ao arbítrio,

ao destino propondo o "ainda-da-esperança"

e o "assim-que-da-morte" como compensação!

 

É o tempo da dinâmica racional

que imperceptivelmente sobrepuja o instinto

da animalesca paixão, ingênua vontade,

que viceja à flor da pele como uma síndrome

que embriaga a alma de ilicitudes graves,

tornando patológico o prazer sensório,

o clímax genésico em mórbido delírio,

e o dependente em uma vítima fatal!

 

É o tempo da autocrítica filosófica,

antipirético que humaniza o ego

contra a autodivinização, tendência inata

que um semideus supõe tornar a criatura,

diabólica ambição de quem sequer pode

ser mais humano que é, pois escravo fez-se

quando senhor de si mesmo tornou-se em nome

de uma falsa liberdade, autodestruindo-se!

 

É o tempo do manifesto, do protesto,

da apologética em favor dos excluídos,

antes do estado de calamidade pública,

catástrofe social - legado maldito

de intransferível e inalienável posse,

que os descendentes incrimina como bárbaros,

co-autores de uma hediondez sem-par:

serem da casta dos sem-pátria - sem-governo!

 

É o tempo do trabalho, do sacerdócio

que transforma um profissional em visionário,

testemunha da história, juiz, intérprete

do futuro... independentemente do ofício,

condicionado embora ao “modus operandi”:

se o seu fim é fazer da vida uma mensagem,

se o poder não torna-o dessemelhante ao próximo,

se a sua causa é a igualdade e a justiça!

 

É o tempo da moral - não do moralismo

que reprime o comportamento, na dinâmica

que é mais robótica do que transformista,

pois julga "produzir-em-série" um novo ser,

ignorando a individualidade - o eu

todo-pessoal, obra-prima divinal,

que por ter perdido a consciência do ser,

só uma alquimia metafísica pode!

 

É o tempo da teologia pragmática

- não do institucionalismo religioso

que transforma a profecia em signos lingüísticos,

de arqueológico estudo, sentido eclético,

inacessível aos humanos quando esotérica,

ou, quando não, histericamente formal

- de inspiração pagã, politeísta fé,

que faz de Deus uma entidade mitológica!

 

É o tempo da sociocracia política,

que pressupõe deveres, direitos - poderes,

que advoga o igualitarismo (e exige exercício!),

distribuindo os dividendos das "ações",

co-partícipes do lucro tornando a todos,

para que o público empreendimento pátrio

cuja matéria-prima é o cidadão,

torne-se justo, justificando o trabalho!

 

É o tempo do poder, da cidadania;

da constitucionalização do fato (a Lei!),

da identidade (que não é numerológica!),

da autonomia econômica (nacional!),

da independência civil (que não é xenófoba!),

da justiça social (que é democrática!),

da igualdade (que é anticapitalista!),

da liberdade (que é pró-socialista!). 


  

ÚLTIMA ESPERANÇA

 

Quando explodir a densidade demográfica,

e a geografia urbana decretar falência...

do trânsito, que só produz mortos e inválidos,

da autômata industrialização poluente,

da animalesca ascendência da violência,

da aristocratização da habitação,

dos excluídos - em "estado-de-impotência"

diante do comércio informal de importados (...)

- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!

 

Quando, suicida, a sociedade implodir,

e a sociologia fizer a necrópsia...

diante do desemprego - tumor maligno,

da orfandade social - trauma psicológico,

da corrupção septicêmica - epidemia,

da macrobiose judiciária - infarto,

da impunidade criminal - enfisemática,

do neuropático escravismo trabalhista (...)

- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!

 

Quando a política autocêntrica tornar-se,

os sócios de um regime transformando em súditos...

diante do governismo - que autocratiza,

da inequação do capitalismo econômico,

do oligarquismo - que as leis corporativiza,

do unilateralismo multipartidário,

do fisiologismo - que o país privatiza,

do poder - que faz da consciência um império (...)

- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!

 

Quando ao materialismo a fé não opuser-se,

e a teologia tornar-se deicida...

diante do antropocentrismo científico,

da filosofia - que o eros idolatra,

da psicologia individualista – “euísta”,

da cultura - que tudo torna utilitário,

do mitologismo autófago da história,

do existencialismo - que a moral degenera (...)

- ainda haverá um povo: um princípio, uma pátria!

 

Quando a miséria em uma casta transformar-se,

destino das vítimas do pós-guerra urbano

que ao terrorismo moderno sobreviveram

- do maldito legado social herdeiros,

cujo fenômeno uma certidão atesta...

que, antes de fato cidadão fazê-lo, o exclui,

desde então descidadanizando o indivíduo,

do "ir-e-vir" ao "ter-e-poder" restringindo (...)

- ainda haverá um povo:o princípio de uma pátria!



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