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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto:  wikipedia

 

MARIA JOSÉ GIGLIO

 

 

Maria José Giglio, tendo estreado em livro em 1958, com Versos a um Polichinelo, comemora este ano seu jubileu literário. São cinquenta anos de rica poesia, avessa ao conformismo, voltada para a experimentação, tentando o novo – nunca, porém, como exercício de puro virtuosismo, antes como quem desbrava caminhos. Pérolas reunidas num colar harmonioso – perto de uma vintena de publicações poéticas, com as qualidades que fazem da autora um nome a irradiar de São Roque para todos os pontos do País onde a poesia ainda seja um valor, e não apagada referência. Sobre um ou outro de seus trabalhos lembro-me de ter emitido algum comentário. É o caso de Para Violino Solo, de proposta polissinestésica admiravelmente resolvida, e Não, a que dediquei resenha titulada com o oximoro “O Sim do Não”, na qual sublinho concisão e contundência, refinamento intelectual aliado a poder emocional, ludismo e denúncia social.  (2008)
De:
http://www.casadoescritor.org.br

 

 

 

Thanatos: Quatro estações


I

Suicido-me todos os dias 
indiferente aos apelos 
de meu corpo. 

Lento e fundo 
respira a lagartixa 
esta manhã de junho. 

Sinuoso 
range-range de folhas 
movimenta o jardim. 

Pelos poros da matéria bruta 
a casa exsuda. 

Cansa viver. 
Assisto com enfado 
a intérmina reprise. 

INVERNO outra vez 
a paisagem embaça. 

Álgido arrepio 
resseca os ramos 
para a ruína das sementes 
no asfalto. 

Das árvores desfolhadas 
pendem como lágrimas 
os frutos temporãos. 


II

As chuvas chegaram. 
Igual peixe no aquário 
vejo o mundo liquefeito. 

Mais que os brotos verdolengos 
é PRIMAVERA 
a algazarra dos pássaros. 

Porque os Ipês 
aveludam vagens 
e os mornos xaxins 
exuberam orquídeas 

teço signo e fibras 
esse nunca 
que anulará. 


III

Acontece 
o ballet das andorinhas: 

Silencioso 
o alado círculo 
revolteia 
em torno a árvore. 

Com olhar opaco ____ espio. 
Com sentidos frágeis ___ capto. 
E não entendo. 

VERÃO, agora, é isto: 
tropel de nuvens, ventania 
chuva, granizo, e cansaço. 


IV

Planto três SSS 
no limiar deste OUTONO 
apesar da terra árida 
e o tempo escasso. 

Estação das cigarras 
da carnação dos frutos 
do afã dos casulos 
sob as folhas ásperas. 

Intermezzo 
que fecha o ciclo, e reinicia. 

No monturo 
dos anos gastos 
viceja, sim, rasteira 
a melancolia.

 


GIGLIO, Maria José.  O Labirinto.  São Paulo: Massao Ohno Editor, 1964.  s.p. 
14,5x21,5 cm.  Planejemento gráfico e ilustrações de Tide Hellmeister.  Col. A.M. (EA)


 

primeiro

 

I

 

Existe um trem

a correr, a correr

nos trilhos da memória

 

e aquela mão

pousada em minha mi anciã

 

Existe um trem

a correr, a correr,

traçando o labirinto,

 

e aquela mão

recuando ao infinito

um cassado

que não sei.

 

Existe o trem

e a mão

no portal da ilha

onde mora o Mistério,

 

e o Labirinto sou eu.

 

 

II

 

Esse trem

a correr, a correr,

avança

e me devora

 

e grita, meu grito

nas estações do além.

 

Depois, sonoro,

abre mil janelas,

voo por todas elas

perdida de mim.

 

E o trem

a correr, a correr

para o fundo

de um tempo vendado

 

de um sono encantado

onde despertarei

 

 

III

 

Existe aquela mão

— o bem? o mal?

não sei.

 

Existe a mão

erguida

no cimo da procura.

 

Não decifro

o que dizem os dedos

apontados

a um rumo vazio

 

Existe a mão

escancarando a porta

 

mas quem virá

abri-la depois?

 

 

IV

 

Se eu não entrar

quem me dirá

o que perdi?

 

Se me detiver

entre o medo e a dúvida

serei mais um rastro

mostrando o caminho.

 

Mas se chegar ao termo

com quais apelos

vencerei

o urro do sangue?

 

 

V

 

Não sei

aguardo

suspensa

entre a queda e o voo.

 

Estas paredes

entrelaçadas

sabem o segredo

daquilo que sou.

 

Prestes sulcos

enovelados

em meus próprios passos

me perderei.

 

Se não houver retorno

que esta partida

valha-me a vida,

a glória e o amor.

 

 

POIÉSIS  Literatura, Pensamento e Arte.  Ano XIII – No. 136 – julho de 2007 – Saquarema, RJ: Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda.  Editor Camilo Mota.

 

[Barroco, rococó]

 

Barroco, rococó
palavras que se aparentam
pelo mofo de seus os.

Quebra a língua
e a voz
o danado quiproquó.,

Além de forma e sentido
também decide
subjetivo
o ouvido.


 GIGLIO, Maria José.  Alastrar de agorasFlorianópolis: Edições SANFONA, 1989 [folha  dobrada em quatro páginas]   São  14 folhetos em uma caixa de plástico)  Tiragem 200 exemplares.  
Ex. bibl. Antonio Miranda
 

 

1

MÍSTICA PROFANA
SP, 1966

Quantos de nós em mística profana?
Velados deuses percorrendo a passos
esquecidos caminhos donde emana
a trêmula carícia de outros braços.

Em áureas de brocado se engalana
a entrada antiga, o friso dos terraços
Num cravo impressentido uma pavana
redescobre em mesuras alvos braços.

Galopa a senha o dorso da miragem.
Cenários desaguados na plumagem
possessa de intenções, e continua

além da esfera donde a vida roda.
Emburilado dia esculpe a boda
sobre o portal da inércia, a data nua.


3
EGO-ESFINGE
SP  1965

 

Quem a figura à sombra de meus olhos?
Mal presa pelas pálpebras descidas
igual no vale os espinhais aos molhos
sob um lerdo enflorar de margaridas.

Quem se nutre na farpa dos restolhos
e vem tecer-me faces comovidas?
Laçam maré na estilha dos escombros
em apliques de sal, dedos suicidas.

Entidade velada por dilemas
perfil de névoa orando nos meus temas
— quem a gerou, de quem nasceu, quem é?

Ícone informa.  Devoção. Segredo.
Oculto sortilégio. Mais que enredo:
alma linguagem vida, morte até.

 

7
ALASTRAR DE AGORAS
SP  1966

 

Quem nunca em nós o encontro destas horas
em rodízios de fuga e desafio:
pensa-nos flores, alastrar de agoras
revoado de memórias pelo estilol

Velho tema segredo donde moras.
Retarda o bronze em clave de arredio
o crescendo emotivo nas demoras
sobre um surdo compasso de vazio.

Quando escarlate o dia se recorta
torre purpúrea assente sobre o monte
a tarde branca é uma menina morta.

Rompe noturno a trave das molduras
e sendo gota e mar à mesma fonte
ceva de orvalho estas manhãs futuras.

 

VEJA E LEIA outros poetas de SÃO PAULO em nosso Portal:

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Página ampliada em outubro de 2021

 

 



 

 


 

 

 
 
 
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