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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARCOS PACHI

 

Marcos Pachi.  Nascido em Jales, interior de São Paulo em 01/08/56, portanto 41. Estudou filosofia na USP, Administração na GV. Participou de algumas publicações universitárias e gastou sola de sapato em movimentos estudantis nos anos setenta. Começou a escrever em Jales, com 15 anos. Desde esta época escrevia uma coluna de crônicas e poesias no jornal local e trabalhava na Rádio como redator e programador.  Veio para São Paulo em 1974. Trabalhou como ator de teatro de 78  a 80. Trabalha na Folha de S.Paulo desde 1984. É Diretor da Upcomvisual.

 

Marcos Pachi é uma descoberta incrível. Pioneiro da editoração de livro alternativo... Depois da geração “mimeógrafo” e da arte postal com xerox, ele aparece com livro de autor impresso de forma independente. Ainda não existia o verbo “escanear” e quem fazia esta nobre atividade era um “micreiro”. Tanto é assim que ele registrou o nome da Andréia, “a moça do MacIntosh”. Era a glória na tecnologia, depois da famigerada “Reserva da Informática” ter um notebook, poder escanear e imprimir seu próprio livro! Ele fez isso. Mas, o mais importante, é que a poesia dele era melhor que tudo isso. “38 Lunares” já vivia no futuro, em edição com ilustrações em papel manteiga e versos criativos e inusitados. Modesto, em dedicatória a um amigo, considera um “livrinho tímido e notívago”. Mas já era vanguardista e inovador. Vale a pena conferir. ANTONIO MIRANDA

 

PACHI, Marcos38 Lunares. [ São Paulo ] :  Edição do Autor, 1993.  s.p.  15x21 cm.  “Deste livro for a tirados somente 20 exemplares. Toda a realização foi feita pelo autor em um notebook Facit com programa Word for Windows. Os desenhos com símbolos lunares foram feitos pela Marília , e scannneados pela Andréa, a moça do MacIntosh. A foto da criança na Plantação de Chá de Rwanda foi pirateada de Sebastião Salgado. Dezembro de 1993.”   Col. Bibl. Antonio Miranda 

i
estou com alguma coisa
parada aqui.

Deve ser algo que comi
quando nasci.

 

II
Há alguma coisa queimando
no cemitério do Brás.

Pode ser a grama verde
ou pode
ser algo mais.

 

iii

Ressaca

É difícil colocar
um
dia
atrás
do
outro.

 

VI
Na escuridção da kitinete
Três samambaias enforcadas
na janela.

vii
Os óculos num canto
do asfalto jogados
Olham de soslaio
o fim.


viii

Pois eu tanto preciso de
não me negues nem queiras me
Quando choro ninguém há de
consolar-me se
Minha dor é não poder te
E de tudo despojar-me sem
os vazios que se agregam em
abismos de rosas
meu amor abismo
de
rosas.

...

 

Restávamos sós, sóis, dois.
um homem e uma mulher no deserto
quase arrependidos de tantos recipientes
                                       desabitados
envergonhados de nossas formas múltiplas
                                       multiplicadas.
Vazios de tudo dizíamos: pão, leite, café, rochedo.
E nos debruçávamos no curso deste rio que
chamaríamos dúvida
se quiséssemos morrer de demência.

Este rio lunar que nunca existiu
E no qual ansiávamos em perdurar.

 

Xvi
o  Moribundo na sala

Quando morrer
Quero ser emparedado aqui.

A minha última vontade
é que a televisão fique ali.

 

xxi
Insônia

A privacidade
insuportável
do impasse.

 

xxvi
No quarto com luzes apagadas
Os livros escritos em negro
se reproduzem.

 

xviii


Ar rosado das madrepérolas
O seu sorriso de gueixa.
Minto: de ameixa.


xxx
Inventário da Alegria

         
Para Martinha

O primeiro olhar do dia.
Um homem lilás que bebe um caldo verde
Numa tarde cinza.
A família desmanchando-se
na mancha do sofá da sala de visitas.
A boca aberta que sonha com a língua.
O nome de Madeleine
pronunciado por um chinês estrábico.
Um lago que espelha o céu azul
e que se chama Passa Quatro.
O padre que estala a língua no altar
Quando celebra e vinho na missa.
O derrière des jeune-filles en fleur.
Os anjos que despencam das árvores
e despem o verde de seu começo.
O escândalo da clorofila
O silêncio das bananeiras.
O piriquito que aceita sair da gaiola
porque a fruta estragou.
A vergonha de tua mãe quando noiva
em chupar laranja na reunião dominical.
Um carro andando sem motorista
lentamente numa rua deserta
com a buzina disparada.
Um piano tocando Bach no entardecer
em Ouro Preto.
Os objetos que escorregam
e nunca caem.
Os cacófatos em cacos.
O meu avô que cantava uma cantiga
em sua língua natal e dizia já não se lembrar
do significado das palavras.
O moça pobre do interior
atingido por estilhaços de soutien.
O desespero da priminha
em botar o dedinho.
O pirulito duro
fazendo um duplo xixL
A densidade dos diminutivos.
O olhar dos tigres de Rilke.
A palavra obnubilado
que fecha todas as portas
antes de emitir o significado.
O barulho da casca do ovo que se quebra.
A forma do sapato na pele de boi.
A impossibilidade de habitar
as fotos dos hotéis.
Os brotos de samambaia que vivem
por furar a pedra.
A descoberta da ideia de tempo
nos tijolos gastos pela chuva.
O esquecimento falado
das coisas vãs.

 

Página publicada em abril de 2014.

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 


 

 

 


 

 

 
 
 
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