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MARCOS HIDEMI
MARCOS HIDEMI DE LIMA (Atibaia-SP, 1967) é doutor em Letras pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e professor de literatura na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), de Pato Branco. Em 2005, com incentivo do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) de Londrina publicou o livro de poemas Dança de palavras e sons (AtritoArt). Lançou pela Eduel, em 2013 e 2015, os livros Mulheres de Graciliano, dissertação de mestrado, e Várias tessituras, coletânea de artigos sobre literatura. Possui alguns poemas divulgados em antologias do género e nos sites da Cronópios e do Blocos On Line. Participou da subcomissão de cultura da UTFPR de Pato Branco e foi um dos organizadores do Festival Universitário de Cultura e Arte (FUCA) da mesma instituição. Escreve resenhas sobre literatura para o Rascunho e crónicas semanais para o jornal Diário do Sudoeste (Pato Branco).
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HIDEMI, Marcos. Poesiar. Curitiba, PR: Editora Medusa, 2017. 112 p, 14x21 cm. ISBN 978-85-64029-27-9 Ex. bibl. Antonio Miranda
QUANDO EU ENTARDECER DEFINITIVAMENTE
Quando eu entardecer definitivamente
E for noite, um céu sem estrelas,
Podem imediatamente me esquecer.
Decerto não estarei em nenhum lugar,
Serei eterno passageiro
De uma viagem interminável para o estrangeiro,
Com passagem somente de ida,
Partindo desta estação que se chama vida ou nada,
Pouco importa.
Que levarei? Que não levarei?
Dispensável qualquer bagagem
Porque neste lugar aonde irei
Não existe saída, tampouco sei por onde entrarei;
Neste lugar eu permanecerei em forma de silêncio
E me dissiparei em garoa e esquecimento.
CRISÁLIDA
Esta manhã inédita:
pétala
latente nas folhas
secas
milagre que a lua
cheia
no silêncio morno
desperta
qual promessa grávida:
crisálida.
INÉRCIA
assim vão-se os dias
entre inércia e tédio
remendando novelas furadas, cerzindo telejornais
com as linhas da mesmice letárgica.
assim avançam os ódios
as bulas, a mornidão
o atrito de corpos secos
o ciúme padronizado.
assim vencem os que adiam
a saudade para depois de amanhã
os que engolem intragáveis palavras
liquefeitas nos pratos de anteontens.
sim, vão são os dias
entre a geladeira e o sofá
mal cabe nesse espaço a lua
musical; resta a banalidade do ócio.
POESIAR
Poesio-me
e poemo-te
da pãoesia
eu me nutro
para ao pó
não retornar.
Poecio-me
e poamo-te
da proesia
eu retomo
a palavra
poesiar.
LIMA, Marcos Hidemi. Dança de palavras e sons. Londrina, PR: 2005. 82 p. 15x21 cm. Capa: Atrito Art ISBN 85-906104-1-1 Ex. bibl. Antonio Miranda
CANÇÃO DE EXÍLIO
No mar de canções impossíveis
não há encontro
mesmo sendo nós idênticas notas
na clave de fá
na clave de sol.
Acordes dissonantes
degredados de nós mesmos
nós somos naus
que não seguem o diapasão
da vida.
Recifes frios como notas agudas
rasgam nossas carnes de pedra
mas nosso sangue não se mistura
seremos eternamente sós
e serenos
música insensível da distância entre nós.
SONETO DE CARNAVAL
Se porventura amar for desventura
Ou este eterno e amargo sofrimento
De viver dividido entre o tormento
De conjugar a vida com a loucura
Se amar for singrar mares da alma impura
Entre reveses mil do pensamento
Com a carne cheia de pressentimento
De tudo esboroar em poeira pura
Se amor for isto: entrega e tempestade,
Não ter jamais mágoa, ter só saudade
Da doçura que houve em cada instante
Pelo o que há em mim de mais puro, prometo
_ Minha canção, minha ode, meu soneto _
Que lhe darei meu amor mais constante.
O SORRISO DA LUA
A lua toda pudica
Que sorria para nós
Escondeu-se no olho da noite
Enquanto enluarávamos
Como se fôssemos dois
Cometas endiabrados
Por Baco.
Seu corpo de lua branca
Minha carne toda minguante
Eu a sinto toda crescente
Na lua cheia de minha vazante.
Página publicada em julho de 2017