MANOEL HERZOG
Manuel Herzog nasceu em Santos, Estado de São Paulo, a 14 de setembro de 1964. Autor dos livros Dec(ad)ência (Romance - Patuá, 2016), Sonetos D’amor em branco e preto (Poesia, 2016 - Prêmio ProAC 2015); O evangelista (Romance - Patuá, 2015), A comédia de Alissia Bloom (Poesia - Patuá, 2014) e Companhia Brasileira de Alquimia (Romance - Patuá, 2013), Manoel Herzog nasceu em Santos a 24 de setembro de 1964. Em 1987, estreou com a publicação do livro de poemas Brincadeira Surrealista. Cursou Direito na Faculdade Católica de Santos. Foi finalista, com o romance Amazônia, do Prêmio Sesc 2009. Coordena oficinas de literatura em Santos, na Estação da Cidadania, pelo projeto Ponto de Cultura. Em janeiro de 2012 publicou o romance Os Bichos, pela Editora Realejo. O romance Companhia Brasileira de Alquimia foi premiado pelo FACULT. Também escreve quinzenalmente uma crônica literária na coluna Cais das Letras, no site Cinezen: http://cinezencultural.com.br/site/
O romance Companhia Brasileira de Alquimia foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom 2014. O livro de poemas A Comédia de Alissia Bloom ganhou o 3° lugar do Prêmio Jabuti de Poesia.
HERZOG, Manoel. A Comédia de Alissia Bloom. São Paulo: Editora Patuá, 172 p. 14x21 cm. Editor: Eduardo Lacerda. Projeto gráfico e capa: Leonardo Mathias. ISBN 978-85-8297-152-9 Tiragem: 100 exs. Ex. bibl. Antonio Miranda
“(…) este livro é um romance. Em forma de versos, mas um romance.” (…) Não é apenas de enredo que se trata, mas de como ele seduz. “ SERGIO FANTINI
Em versos dantescos.
CANTO TERCEIRO - De como Alissia, ajudada por seu bondoso vizinho Anacleto, teve abertos os olhos quanto ao mal que lhe jogava algum invejoso, mal este que a Vó Barbarella, reconhecida feiticeira, havia de transmutar.
...Pra que tu morreu, Carlos, desgracento?
Tinhas um bom calibre, e eu com essa bimba
Do japa, que nem com lente de aumento
Faz cócega ou me tira da pinimba,
Sem descontar o fato que é viado.
Minha vida virou-se, uma catimba,
Macumba forte que algum desgraçado
Invejoso jogou por sobre a gente.
Mas deixa estar, malvado excomungado,
Todo o mal que se joga, de repente
Volta no lombo de quem mandou dar -
Tu inda vai se lascar completamente.
Eu vou num centro, preparo alguidar,
Farofa amarela com frango preto,
Nos búzios vejo quem quer me acabar.
Foi assim que meu vizinho Anacleto,
Espírita e ex-amigo da cachaça,
Contou-me que conhecia, num gueto
Italiano, pelas bandas da praça
Dom Orione lá no velho Bixiga,
Um centro dos melhores. Na manguaça
Afundado, e envolvido na intriga,
Se havia visto salvo pela Vó
Barbarella, uma bruxa das antigas,
Abria caminho e desatava nó.
Me garantiu que ela desmancharia
O mal que me mandaram e o ebó.
Por certo que o feito não voltaria:
Carlos morreu, foi pra casa das picas
Mas, perdido José, fica Maria.
Eu era viúva, só que bela, rica,
Jovem, sabida e bastante tesuda.
Mulher feito eu, me garantiu, não fica
Sozinha nesta vida. Era classuda,
Logo, logo arrumava um novo amor,
Vai ver só, Alissia, tua sorte muda.
Este Anacleto foi meu benfeitor,
Me levou pra São Paulo no seu carro.
Sujeito tão decente, rejeitou
Minha intenção de pagamento, um sarro
que eu pretendia, no coche, discreta,
tirar, enquanto na estrada de barro
Vicinal. Eu faria uma pepeta
até a gente chegar na Via Anhanguera.
Dali pra frente, iria na punheta.
Mas, ele refugou, é que fizera
Voto de castidade em gratidão
Por ter largado da bebida. Ele era,
Agora, exemplo de homem, bom cristão.
Batia seu bumbinho em horas vagas
Mas, putaria, minha filha, não.
Guardei o meu desejo e roguei pragas
Por nunca conseguir um que me coma -
Anacleto, seu porra, tu te cagas
De medo dos espíritos, que broma.
Mas, deixa estar, leva eu pra Capital -
Vó Barbarella arruma quem me coma,
Faço um trabalho e arrumo um bom dum pau.
HERZOG, Manoel. Sonetos de amor em branco e preto. São Paulo: Patuá, 2016. 160 p. Capa, projeto gráfico e diagramação: Leonardo Mathias. Editor: Eduardo Lacerda. Apoio: Proac- SP, Governo do Estado de São Paulo. ISBN 978-85-8297-300-4
RANCOROSO, MA NON TROPPO
Do nosso amor restou belo monturo:
Garrafa pet, pneu velho, entulho,
Os urubus, pombos do amor, num arrulho
Dançam sobre esta cama, e o barro escuro
Que viraram os sonetos e os "eu juro".
Nosso fubá está cheio de gorgulho,
Pra merda alguma serve o teu orgulho,
Me vejo só na cama, e de pau duro.
Ressentimento, mal-estar, ciúme,
Engulho, lembranças de grandes fodas,
Punheta fria, gozo frio, negrume,
E a depressão que aos versos incomoda.
Meses de fronha suada e barba hirsuta –
Volta pra mim, sua filha duma puta!
PRO IRMÃO CAMINHONEIRO
dedico este soneto ao gentil piloto do Volvo Branco que quase me matou a mim e a duas crianças na rodovia BR-116 entre Curitiba e São Paulo.
Oh, anónimo guerreiro que vagueias
Do sertão fundo ao Paranapiacaba
Sem fazer conta das estradas cheias
De perigos, do travesti que enraba
Depois de prometer boquete. Apeias
Do bruto raramente, levas naba
Na estrada e em casa a mulher te corneia.
"Sem caminhão o Brasil para, acaba."
É em nome do Brasil que te agradeço,
Irmão caminhoneiro, humilde herói,
Por ti nós todos temos grande apreço.
Cabra politizado, como sói
Às grandes almas ser, como eu te entendo:
Nego passeando e tu lá, se fodendo.
Os poetas Alberto Bresciani, Antonio Miranda e Manoel Herzog no Sebinho, Brasília, dia 03 de fevereiro de 2017 no lançamento do livro acima.
Metadado: poesia erótica e pornográfica
Página publicada em janeiro de 2017; ampliada em fevereiro de 2017.