MAGALI DE OLIVEIRA FERNANDES
Magali Oliveira Fernandes é paulista, paulistana. Autora de Olho nu – poemas (2000) e Sins – poemas para não ler (2006). Faz alguns anos, Magali trabalha com edição de livros e revistas. Seu mestrado, na ECA-USP, resultou no livro Vozes do céu – os primeiros momentos do impresso kardecista no Brasil; e seu doutorado, em Comunicação e Semiótica, na PUC-SP, foi levado a público com título: Chico Xavier – um herói brasileiro no universo da edição popular (2008).
Vale ressaltar os prefaciadores dos dois livros de poesia de Magali. O primeiro deles: Boris Schnaiderman, que diz a respeito de Olho nu: “Este livro marca bem a presença do olho nu em face do universo (...) Algumas das imagens que assim aparecem têm algo alucinante – a poesia mostrando nos objetos aquilo que não é percebido pela visão cotidiana”. O segundo prefácio é de Jerusa Pires Ferreira que diz: “Prefiro aqui, e a respeito deste livro, não falar de literatura ou poesia feminina mas de um livro de mulher, em que a construção do erotismo é tão explícita quanto velada, do referido ao alusivo, resvala pelo político, se envolve na consideração da condição humana (...)”.
De
Magali Oliveira Fernandes
OLHO NU
São Paulo: Ateliê; Com-Arte -ECA-USP, 2000.
ISBN 85-85851-91-0
Soneto insólito
lógica excludente
ata o coração do mundo: vida
ardida em berro explícito
de horror na rua, na estrofe.
estrelas nuas roem
lixeiras, cheiram sonhos, pedras
comem plásticos recicláveis
arrotam fumaça e violência.
acordam os meus ais
mansos, anestesiados de cansaço
em noites de medo e danças macabras.
sob o brilho insólito
e seco de olhos escancarados
sem utopia: estéril canto em decomposição.
A porta
estreito o espaço de passagem
que tapa uma futura imagem
quadrada é a forma que te prende
no meio de dois fatos separados.
perigo em outro mundo que não vejo
ou a espera de um amigo que desejo.
é forte a presença desse corpo
sem chave para eu poder respirar.
compreendo o teu jeito de censura
porque tua alma deve ser dura
dura como a vida já sem vida
dura como ponto de partida
De
Magali Oliveira Fernandes
SINS
(poemas para não ler)
São Paulo: Annablume, 2006.
ISBN 85-7419-664-9
Sins
amor soa sins
e tateia eus
na gratuidade
do corpo.
é folha de livro
que (lida ou quase)
se desfaz no tempo.
fica somente o perfume,
um outro texto, submerso
na imensidão do ar.
homem
no homem me interessa menos o seu corpo,
quero dele o que não se sabe ainda, a outra
parte: o sol saindo das orelhas-borboletas e
voadoras de um elefante leve, quente e feliz.
reza
rezo encantamento pelo mundo
tão perto que dentro
(e eu não consigo mais dormir).
suo em corpo aberto palavras.
Página publicada em maio de 2010 |