LUIZ CARLOS MATTOS
(São Paulo, Brasil)
ANTOLOGIA DOS NOVÍSSIMOS, São Paulo, Massao Ohno Editora, 1961. “Coleção dos Novíssimos”, vol. 9. Capa de João Susuk. . 14x21 cm. Edição fac-similar, exemplar único, realizado por Carlos Felipe Moisés para a biblioteca de Antonio Miranda, incluindo um “Histórico”, em que Carlos Felipe elucida a polêmica sobre a inclusão e exclusão de autores na edição original.
Réquiem para um rei
Rios fluem maresias,
e tudo passa tão de noite, tão de dia.
A rosa no ramo de riga
roda
rod
e esmaga o dia
a dama
o rei.
Metamorfoses tossidas à mesa.
(0 rei rema contra a maré,
as mãos rijas esmagam os remos.)
Longe as vozes e os ventos.
Sua alma já é maior que a noite
mas seu tardio despertar
da lua fez ruínas.
Perdido entre dunas insondáveis,
sem cantos novos
vertigens
ou voragens,
ele segue aos tombos os ecos de antigas falas;
falhas e alucinações não o deixam mais cantar.
Ele fundou as praças e inventou os pássaros.
(Mas está triste.)
Ele atravessou a ponte quebrada
de dois continentes quebrados.
Quando cavalgou o corcel
Existem mil fuzis à sua espera em cada esquina.
E ele sente que tudo passa,
[tão de noite, tão de dia...
( Poema original do livro Ex-exercícios, 1966)
Lapidárío de Marília
(Lira 5)
no grande estaleiro
das naves antedescobertas
ficaram velas longes
despedidas
são navios
que os conheço
mesmo inarquitetados por mim
— Marília?
—águas
casco corte dos navios
que as conhece
(que não as conheço)
—e as me?
—Marília?
o eco minha voz
—onde?
—Marília?
são estes navios
é este estaleiro
e a viagem que não sei.
(Poema original de Lapidárío geral, 1978)
Página publicada em dezembro de 2019)
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