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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LINO GUEDES

(1897-1951)

 

UNO PINTO GUEDES Usou o pseudónimo de Laly e nasceu em Socorro (SP), a 24 de junho de 1897. Descendia dos ex-escravos José Pinto Guedes e de Benedita Eugenia Guedes. Estudou em Campinas, diplomou-se pela Escola Normal António Álvares, dessa cidade. Na capital Foi jornalista, chegando a chefe de revisão no "Diário de São Paulo". Faleceu em São Paulo (Capital), a 4 de março de 1951.

 

Publicou:  Canto do Cisne Preto, Ressurreição Negra, Urucungo, Negro Preto Cor da Noite, Vigília do Pai João, Mestre Domingos, Ditinha. É considerado o precursor da "Negritude" no Brasil.

 

A RAZÃO DA CHAMA. Antologia de poetas negros brasileiros.  Seleção e organização de Oswaldo de Camargo.  São Paulo, SP: GRD, 1986.  122 p.  11,5x20,5 cm.  “ Oswaldo Camargo “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

DEDICATÓRIA

 

Oh, negrada distorcida!

que não quer não outra vida

Melhor que esta de chalaça;

 

Pra você, negrada boa,

que chamam de gente à-toa,

alinhavei tudo isto.

 

O que aqui está escrito

Não conseguirá saber

porque ninguém sabe ler...

Isto muito desconsola,

Oh, getulina pachola,

que transforma o velho Piques

na estranha zona dos "chies"

 

dos truco-fechas, dos bambas

e dos sarados nos sambas.

Para você, oh negrada,

Carro de preso não é nada,

Nem assusta a Resistência!

Zé-povinho sem tenência;

toma, gente do barulho,

 

este livrinho — um entulho

à sua malemolência,

o qual falará da dor

desta infeliz gente negra,

gente daqui da pontinha,

desgraçada gente minha,

a gente do meu amor!

 

 

NOVO RUMO!

 

"Negro preto cor da noite",

nunca te esqueças do açoite

Que cruciou tua raça.

Em nome dela somente

Faze com que nossa gente

um dia gente se faça!

 

Negro preto, negro preto,

sê tu um homem direito

como um cordel posto a prumo!

É só do teu proceder

Que, por certo, há de nascer

a estrela do novo rumo!

 

 

URUCUNGO DE PAI JOÃO

 

Pai João, urubuzado,

Lá no fundo da tapera,

Vive soturno, o coitado,

Pai João, por quem espera?

 

Pai João, por quem suspira?

Por quem sofre, Pai João?

Por quem dedilha essa lira,

Lira de dor e aflição?

 

Urucungo companheiro

Do velho negro Pai João,

Que te diz teu companheiro,

Amigo da solidão?

 

"Urucungo companheiro,

Amigo de Pai João,

Quando diz que "sim" é sim,

Quando diz que "não" é não.

 

E o pobre do velho escravo,

Como se julga feliz,

Como ele se sente um bravo,

Quando o urucungo lhe diz:

 

"Preto do Congo, trazido

Lá do africano sertão,

Quando diz que "sim" é sim

Quando diz que "não" é não.

 

Mas quando Pai João pergunta

Quando virá seu amor,

Quando ele verá defunta

A visão da sua dor;

 

O velho urucungo estala,

Estica a corda e delira,

Quer mesmo falar, não fala,

Em vez de dizer, suspira;

 

"Urucungo nada sabe.

Pois mulher e coração,

Se dizem que "não" é sim,

Se dizem que "sim" é não. . .

 

 

O SORRISO DE PAI JOÃO

 

O sorriso de Pai João,

Saído do coração,

Onde viveu recalcado,

Fielmente reproduz

Quanto lhe pesa essa cruz

Sobre os ombros desgraçados.

 

Esse seu sorriso franco

Parece dizer ao branco:

— Ao invés de Pai João,

Me chame de "meu amigo!"

Assim esqueço o castigo

Que recebi de sua mão.

 

Se porventura mel fosse

Não seria assim tão doce

O sorriso de Pai João

Que, apesar de sofrer tanto,

De ninguém, tal como um santo,

Guarda rancor ou paixão!

 

Um ramo verde de paz,

Que grande consolo traz —,

E o sorriso de Pai João

Que importa que ele registe

Aquele tempo tão triste

Da cruel escravidão?

 

A lenda triste do Congo,

Criada em noites de jongo,

Quando sorria Pai João,

Aos nossos olhos desfia,

Dizendo com ironia:

— Que história linda, pois não? 

 

ANTOLOGIA DE POESIA AFRO-BRASILEIRA: 150 anos de consciência negra no Brasil.  Org. Zilá Bernd.  2ª. ed.  Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.   288 p.  16x23 cm.
ISBN  978-85-7160-552-7  Edição revisada e ampliada. Inclui
poetas dos  períodos abolicionista, pós-abolicionista e contemporâneos, além da presença feminina. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Duro com duro...

 

In: O canto do cisne preto, 1927.

 

Coisa que nunca se viu
Um preto de outro gostar;
Por isso eu não me admiro
De você me abandonar
Por aquela deslambida,
Que vive o rosto a pintar.

 

Pinta sim, reboca mesmo:
Mas vocês por uma branca
Dão tudo, tudo, até a vida.
Seja boa ou seja tranca.
Só pelo gosto de ouvir:

E casado c'uma branca.

 

— Não faz mal, da minha vida
Sorverei todo o seu travo,
Lamentando esse teu fraco
Meu único amor, meu bravo
Que deixa de ser senhor
Para viver como escravo!

 

 

 

Santo da terra

 

In: Negro preto cor da noite, 1932.

 

Largue mão de me atentar,
Seu cabeça de pelego
Para que eu finde os meus dias
De vida com algum sossego.
Eu já tenho a minha gente,
Só olho para galego!

 

Preto não é gente mesmo,
Seja aqui, seja onde for,
Quem já viu preto da terra
Andar falando de amor?
Preto nasceu, está visto,
Para carregar andor!

– Que há de fazer-se se a preta
Traz assim o coração:

— Galego é aqui... da pontinha!
Todo preto é bastião!
Nacional nada presta

Pois é de... carregação.

NOVO RUMO


Negro preto da cor da noite,
Nunca te esqueças do açoite
Que cruciou tua raça.
Em nome dela somente
Faze com que nossa gente
Um dia gente se faça!
Negro preto, negro preto,
Sê tu um homem direito
Como um cordel posto a prumo!
É só do teu proceder
Que, por certo, há de nascer
A estrela de um novo rumo!


(Do livro: NEGRO PRETO COR DA NOITE -1932)

 

O GRITO DE SÃO PAULO – CONSTITUIÇÃO DO MORTE! PELA LIBERDADE DO BRAZIL - 9 DE JULHO DE 1932        São Paulo: 1930?  20 p.  14 x 18,5 cm.  Inclui os poetas  Lino Guedes, Luiz Lucchesi, Luiz Lnnches, Suzanna de Campos, Judas Isgorogota, Domingos Margarinos, Fagundes Varella, Sargento  B. João Pedroso, Edmundo Russomano. Gravura dedo General Izidoro Dias Lopes. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

MARCHA DOS HENRIQUES

Dedicado a LEGIÃO NEGRA
da autoria do poeta negro LINO GUEDES

 

Soldados de Henrique Dias
nossa pátria é nossa luz!
Ella é a chama sacrossanta
Que à nossa frente reluz!
Ella é o cruzeiro que a novo
Guararapes nos conduz.

Estribilho

Soldados de Henrique Dias
A postos pelo Brasil!
São da pátria as energias
De nossa alma varonil!

Não receiamos a luta
Lutamos pelo ideal,
Pela impoluta grandeza
De nossa pátria natal
Escravos de toda vida
Da morte somos rival!

            Estribilho
Paulistas da mesma terra
Dos bravos da abolição
Ao lado de Borba Gato
Conquistamos o sertão!
Paulistas, vamos à luta
Pela lei, pela razão!

 

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HISTÓRIA DO BRASIL
HISTÓRIA DE SÃO PAULO

 

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Página publicada em julho de 2022


 

 

 

 

Página publicada em setembro de 2014; página ampliada em setembro de 2020


 

 

 
 
 
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