LILIAN AQUINO
Lilian Aquino nasceu na cidade de São Paulo, em 1979. Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, tem poemas publicados nas revistas Inimigo Rumor, Mininas, Metamorfose e no jornal O Casulo.
Os poemas a seguir foram extraídos da obra ANTOLOGIA VACAMARELA : português, español, english. São Paulo: Edição dos autores, 2007. ISBN 978-85-905633-2-7, lançada em novembro de 2007 durante o Tordesilhas – Festival Iberoamericano de Poesia Contemporânea, realizado pelo Centro Cultural Caixa.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
CENA DE MESA
Senta na cadeira
á sua frente.
Tamborila os dedos
No tampo da mesa.
(ela suga pelo canudinho
o líquido vermelho
fazendo barulho.
e cruza as pernas)
Diz então
súbito
olhando fixo nos olhos dela
foi sem querer
eu te amei do avesso
prometo que da próxima vez
te visto
do lado certo.
URBANISMO
Lá onde morava
não tinha margem
nem esquinas:
era inteiro.
E se à noite pensava
via estradas, cruzamentos
canteiros
e flutuava sobre
a cidade aberta
traçando com giz
(um a um) seus limites
Delineava
zonas de silêncio.
NA VITRINE
Partes do corpo
e desvenda os dias
o consumo diário de calmantes,
de refrigerantes, de TV
teu ser egótico
quer um anúncio
publicitário
mas é com satisfação que vê todos os
membros
e sentencia:
limites.
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A IMINÊNCIA DO VERBO |
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É quase um frio
isso que passa por meus
pêlos eriçados
Esse vento fugido
das frestas de pensamentos
quase
sai
ressecando lábios
entreabertos
que não cantam
os poemas que
fiz. |
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción: Silvia Beatriz Adoue
ESCENA DE MESA
Se sienta en la silla
de enfrente.
Tamborilea con los dedos
sobre la mesa.
(Ella sorbe com pajilla
el líquido rojo
haciendo barullo.
y cruza las piernas)
Dice entonces
de repente
mirando fijo en los ojos de ella
fue sin querer
te ame al revés
prometo que la próxima vez
te visto
del lado derecho.
URBANISMO
Allá donde vivia
no había bordes
ni esquinas:
era entero.
Y si de noche pensaba
veía calles, bocacalles
canteros
y flotaba sobre
la ciudad abierta
trazando con tiza
(uno a uno) sus limites
Delineaba
zonas de silencio.
AQUINO, Lilian. Pequenos afazeres domésticos. São Paulo: Editora Patuá, 2011. 112 p. 15,5x23 cm. ISBN 978-85-64308-04-6 Tiragem: 150 exs. Editores: Aline Rocha e Eduardo Lacerda. Projeto gráfico, capa e ilustrações: Leonardo Mathias – flickr.com/leonardomathias. Col. A.M. (EA)
Efêmero
Ter tempo pra dourar
um assado no forno
que vai depois pra mesa
e acaba.
Nas cidades é quase sempre
assim, viver em estado
transitório
com tempo de durar
uma discussão de trânsito.
À noite notar
um reflexo na água
de um carro passando
bem devagar.
É um esforço querer
despetalar a memória
e deixar secando dentro
de um caderno
: por todo o tempo.
Urbanismo
Lá onde morava
não tinha margem
nem esquinas:
era inteiro.
E se à noite pensava
via estradas, cruzamentos
canteiros
e flutuava sobre
a cidade aberta
traçando com giz
(um a um) seus limites
delineava
zonas de silêncio.
Cena de mesa
Senta na cadeira
à sua frente.
Tamborila os dedos
no tampo da mesa.
(ela suga pelo canudinho
o líquido vermelho
fazendo barulho.
e cruza as pernas)
Diz então
súbito
olhando fixo nos olhos dela
foi sem querer
eu te amei do avesso
prometo que da próxima vez
te visto
do lado certo.
Audiência
A luz da tevê
ia mudando a cor
do rosto dela,
encostada ali no batente
da porta
enquanto dizia
é sério eu te amo
e as vozes se arranhavam
pendurando sorrisos
na antena da pirâmide
de plástico.
Era um programa popular
de auditório
mas eu posso passar
sem você
que de tão bestial
seduzia, sendo impossível
desgrudar os olhos
da tela.
Página publicada em novembro de 2007, ampliada e republicada em novembro de 2012.
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