LEANDRO RODRIGUES
nasceu em 06/01/1976 em Osasco-SP, onde ainda hoje reside. Formado em Letras - Pós-Graduado em Literatura Contemporânea. Professor de Literatura Brasileira. Leciona Língua Portuguesa e Literatura em Osasco – SP.
É colaborador do site Zona Da Palavra:
http://zonadapalavra.wordpress.com/2014/02/09/poemas-de-leandro-rodrigues/,
Páginas do autor:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/leandrorodrigues
http://www.nauseaconcreta.blogspot.com.br/
É autor do livro Digital: A T O N A L OU DAS DISTÂNCIAS DA APRENDIZAGEM CINZA
Que pode ser lido em: http://www.nauseaconcreta.blogspot.com.br/
POEMAS DO LIVRO
APRENDIZAGEM CINZA,
EDITORA PATUÁ, 2016
LOUVAIN
Quem estará frente ao espelho
na noite saqueada?
Quem despirá a escuridão
desses corpos turvos medidos mudos petrificados
sumidas silhuetas noites de perpétuas sombras/
ancestrais penas?
Quem decifrará a carta suicida não escrita
mas salpicada de sangue
lançada ao vento/ ao mar/ ao espaço
em folha vegetal tão recortável minúscula?
Quem?
Ao meio-dia ousou ser a metade de tudo
o quanto não foi, nem sequer será ao certo e
andando entre as ruas com sua meia-sombra
num dia inválido impróprio com gosto de
fuligem barroca abstrata cena se curvou
para ver as horas e viu um relógio sem
ponteiros e teve pressa de não chegar
Panas And Echo
Panas and Pytis
The Cult of Pan
des
ceu
os
de
graus
bebeu toda água da clepsidra
adornou bonecos entalhados de madeira
mastigou as velas e o curto pavio do desprezo
anotou endereços de antigos colegas mortos só para atirar
nos jardins sementes de ipê roxo branco amarelo ou mesmo
girassóis que irão nascer no crepúsculo.
O HOMEM DE PAPEL
Então acaba-se assim um homem
Num segundo – e já não existe mais.
O que fez; o que não fez – a tarde
O que faria; o que desejaria ainda.
Ponto final. Vira-se a página.
O homem é passado. Passou.
Recorte de recortes.
O livro fechado esquecido.
Mera ilusão. A noite
Empoeirada em estantes,
As revoltas (reviravoltas),
O sofrimento, a chama.
Sequer o adeus reservado.
Apaga-se.
ARESTAS
a noite pontuou
seus versos certeiros
pontiagudas arestas
farpas afiadas no
peito.
LAMINAÇÕES
Tenho uma faca
entre os dentes
pronta para cortar
a noite em palavra
FARPAS
uivo de sangue
a matilha estanca
a lua corada.
entre cortes e recortes
no farpado arame
dos dias
costuravas noites
com palavras despidas.
POEMAS VISUAIS DA ANTOLOGIA
HIPERCONEXÕES – realidade expandida poemas – volume 3
Editora Patuá
máqui máquina
galáxias
homo sapiens
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SONETO DAS EMBARCAÇÕES
São mares de mim bravios e remotos
Em que nenhuma embarcação resta
Em que caem portos, desmoronam naus
De fúrias e constelações, perdidas guias
E em cais não se ancoram, em nós soltos
De tempestades e atrozes símbolos
De carnes e sal que em bocas são água
Que no corpo é falsa sombra de espera
Turvam-se bússolas, perdem a proa
E singelas facas que desatam convés
Cortam a carne, atira-se ao fundo
Os mares de mim são profundos
Escondem dragões e cavernas,
De escureza perene, servil, de almas torpes
[e vícios.
SONETO DE INFÂNCIA
O país adormece. Tudo faz-se escuro...
Entre correntes e escombros,o menino desperta
Acuado sem saber onde, cercado por muro
E em toda a parte uma tristeza abstrata e incerta
O menino inventa o dia, as horas e inseguro
traça na folha tímidas rimas, compõe-disseca
nas sombras, os sonhos - verso mais duro
E segue em país adormecido com a porta aberta,
nas venezianas, o resto de ar - paisagem
no rosto do menino o soneto que não se faz
a dureza das noites mais frias e a imagem
de um lugar além, palavra distante
o punhal que corta não o corpo, mas a alma
na cicatriz e inerte, o menino adormece, confiante.
CONTRADIÇÃO - CENA 1
Bucólica
a manhã se despede.
Aparo as arestas da
barba rala,
dou-me por feito.
Na navalha ainda
um brilho espesso
de 40 anos calvos
escorridos
- lentamente...
ra
lo
a
d
e
n
t
r
o
Poemas de LEANDRO RODRIGUES
Traduções ao Catalão e ao Espanhol
pelo poeta JOAN NAVARRO (Valencia, Espanha)
1910
5 tiros de chumbo disparados
para a Lua
O gosto metálico cinza de fuligem
e pontiagudas arestas invertidas
Escombros/ restos de uma manhã
covarde
Os gritos expostos na paisagem aprisionada
- enquadrada janela em estilhaços
Um terço caído no chão
trêmulas mãos monitoradas
Mulheres com seus longos vestidos negros
habitam praças, leitos de rio, pátios
desgrenhados
e dão sua canção de ninar
ao vento.
1910
5 trets de plom disparats
a la Lluna
El gust metàl·lic cendra de sutge
i puntegudes arestes invertides
Runa/ restes d’un matí
covard
Els crits exposats en el paisatge empresonat
- enquadrada finestra en bocins
Un terç caigut pel terra
trèmules mans monitorades
Dones amb els seus llargs vestits negres
habiten places, llits de riu, patis
esbullats
i donen la seva cançó de bressar
al vent.
1910
5 tiros de plomo disparados
a la Luna
El sabor metálico ceniza de hollín
i puntiagudas aristas invertidas
Escombros/ restos de una mañana
cobarde
Los gritos expuestos en el paisaje aprisionado
- encuadrada ventana a trozos
Un tercio caído por el suelo
trémulas manos monitorizadas
Mujeres con sus largos vestidos negros
habitan plazas, lechos de río, patios
desgreñados
y dan su canción de acunar
al viento.
FARPAS I
uivo de sangue
a matilha estanca
a lua corada.
LLENGÜETES I
udol de sang
la canilla esgotada
la lluna enrojolada.
LENGÜETAS I
aullido de sangre
la jauría exhausta
la luna enrojecida.
FARPAS II
Entre cortes e recortes
no farpado arame
dos dias
Costuravas noites
com palavras despidas.
LLENGÜETES II
Entre talls i retalls
en el filferro espinós
dels dies
Cosies nits
amb paraules despullades.
LENGÜETAS II
Entre cortes y recortes
en el alambre de espinos
de los días
Cosías noches
con palabras desnudas.
METODOLOGIA DO NADA
estendo as palavras no curtume
as que ainda respingam sangue
servem para o poema.
METODOLOGIA DEL NO-RES
estenc les paraules en l’adob
les que encara esquitxen sang
serveixen per al poema.
METODOLOGIA DE LA NADA
extiendo las palabras en el adobo
las que todavía salpican sangre
sirven para el poema.
POEMAS DO LIVRO FAZ SOL MAS EU GRITO (Ed. PATUÁ, 2018)
FAZ SOL, MAS EU GRITO
Para Thiago de Mello
I
fartas horas inúteis
em que tragédias são recicladas
e se moldam por entre sombras e gestos desprezíveis
molduras da tarde disforme
ela diz:
“que tempo estranho...”
Estendo as mãos ao vento
algumas gotas ácidas corroem o meu desprezo
Reinvento uns versos esquecidos e ancoro tantas embarcações
em lugar nenhum
Enquanto a nova empresa americana ergue suas cercas
Modulo o tom de voz para não gritar
Mas antes pudesse gritar
II
ruas imóveis sangram
como essa lua vermelha
que escorre
entre os corpos desmedidos
estranhas estruturas de ossos
que sustentam ossos
aguda solidão
d’água cavando
o sólido chão
intacta simetria
de cada grito
moldado ao sol.
III
quartos, cômodos
corredores em espirais
bocas automatizam
cruas faces/membranas
em cruzes
sombras esquálidas
de meninos esquecidos
nos porões
frios
sem vista para o mar.
Página publicada em fevereiro de 2015, ampliada e republicada em fevereiro de 2016. Ampliada em setembro de 2O17,AMPLIADA em setembro de 2018.
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