LAURO SILVA
(1904-1978)
LAURO SILVA nasceu em Pindamonhangaba a 16 de março de 1904. Foi oficial farmacêutico da Fôrça Pública do Estado de São Paulo. Aposentou-se como Secretário do "Colégio Estadual e Escola Normal João Gomes de Araújo", de sua terra. Tem muitos poemas publicados em jornais e revistas, material excelente para um bom livro, que infelizmente ainda não veio.
CONSOLO ARITMÉTICO
O velhote Moscoso,
Um solteirão patusco,
Certo dia acordou ofegante, angustiado,
Como nunca estivera.
Pensando em desenlace,
Terrores suportando inenarráveis,
Disparou pressuroso
A procurar o Dr. Lusco Fusco,
Especialista em doenças incuráveis.
Pediu exame pormenorizado,
Que tudo revelasse,
Até mesmo a presença da Megera.
O esculápio mandou-o desnudar-se.
Pô-lo deitado.
Fê-lo sentar-se.
Dobrou-o para um lado.
Com o martelinho percutiu-lhe os joelhos.
Desconhecendo-lhe o civil estado,
Em palpação molesta
Vai-lhe sondando a testa,
À procura do início dos chavelhos.
Depois de muita cutucada,
Entrou a fase da interrogação;
E ao saber-lhe a vida segregada,
Diz-lhe o doutor:
"— Meu caro, não é nada;
Apenas o senhor
Já não suporta mais a solidão.
O homem é gregário,
Viver não pode sempre solitário:
Deve ter companheira.
Procurem, quando moços, mútua escora,
Passem os dois, embora,
Discutindo e brigando a vida inteira.
Seu Moscoso,
Sendo o senhor um pouco idoso,
Um brotinho, por certo, não lhe assenta.
Eu acho que o faria bem ditoso
Uma mulher... assim... de seus quarenta..."
"— De quarenta?! Que horror!...
O senhor na dureza tem requinte!
Escute aqui, doutor,
Eu não posso pegar duas de vinte?"
AMARGURA
Vida fora, vou só, despercebido,
Inútilmente, como um ser qualquer;
A escutar o responso de um gemido
A todas as palavras que eu disser.
Eterno insatisfeito e incompreendido,
pressinto a anulação do que fizer.
Não recebo um louvor, mesmo fingido;
Não me anima um sorriso de mulher.
A tropegar, sem fé, olhos errantes,
Tangido pela glória dos amantes,
Caminho para um têrmo que não sei.
E rolo como um seixo no declive,
Ansioso pelo bem que nunca tive
E saudoso do amor que não terei.
Página publicada em junho de 2017