LATIF
Latif Abrão Junior nasceu em Franca (SP), em 1955. Administrador pela EAESP-FGV e bacharel em Direito pela USP. Artista plástico, poeta, vive em São Paulo.
De
Latif
CRIADO-MUDO
Poemas e imagens
São Paulo: Callis Ed., 2005. 124 p. ius.
isbn 85-7416-249-3
Descobri o livro de Latif numa estante da Livraria Cultura, de Brasília, que toda semana apresenta novidades. Li uns três poemas (curtos) e gostei. Comprei o livro, num lote, para manter-me atualizado com o que republicam ou lançam continuamente no campo da poesia no nosso mercado editorial. Muitas coisas, edições cada vez mais cuidadas, competindo com a internet... Depois vi que havia uma apresentação do poeta e artista plástico Latif na contra-capa escrita pelo nosso amigo Frederico Barbosa e fiquei mais convencido de ter feito uma aquisição de valor. Diz assim: "Textos e figuras se relacionam com independência no livro, nunca de forma meramente ilustrativa", depois de considerá-lo um "poeta meticuloso e artista plástico notável". E completa:"São formas de o poeta resistir contra o mundo da rapidez indiferente, da ganância exacerbada, da inconsciência. Assim, o Criado-Mudo de Latif desperta do sono do cotidiano insípido para o sonho da criação — palavras e cores formando um mundo muito mais interessante."
Sem dúvida. Poesia simples, sem ser banal. Detalhes, registros ao acaso, o fascínio das coisas corriqueiras numa relação íntima, sem grandes pretensões. Valendo-se de rimas! Sem preciosismos nem afetação.Usa até as renegadas reticências...Pura emoção.
Quem Sabe...
Quem sabe
Viver
Escrever
Ter alegria,
Quem sabe, poesia...
O poeta se auto-apresenta como um cambaio (que é mesmo um cambaio?!) e confessa:"Faltou capacidade para muito/ Que fosse este o meu intuito.". Modéstia.
Autobiográfico, confessional. Lírico, mas também irônico.
Entrevista
Queres saber o que penso?
Tudo de mim cabe num lenço,
Não sou nobre nem plebeu.
Queres saber o que sou?
Sabe que nem sei aonde vou
Carregando tão pesadas alegorias.
Queres saber sobre meu mundo?
Sabe que por ser pouco profundo
Em minha ignorância tropeço.
Que queres afinal de mim?
Sabe, pois. que sou assim:
Superficial e sempre com pressa.
Verseja sem constrangimento, e sem grandes pretensões, com epígrafes de suas leituras, reflexões e reflexos de vida corrente. Fica aqui, para encurtar — a lei do direito autoral não permite mais, ou quase nada... — mais este:
Descompasso
{Si, soy culpable de lo que no hice.
PABLO NERUDA
Hoje eu resolvi
O que ontem eu vi,
Chego sempre
Atrasado!
O amanhã, então,
Já terá sido apenas
Passado.
Nego meu instinto.
E, porque na hora
Não ajo, apenas viajo
Num trago de vinho tinto,
Meu hoje é (sempre) um furo:
Perto (demais)
Do passado.
Longe (demais)
Do futuro.
A.M. 28 Nov. 2010
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