JUÓ BANANÈRE
Juó Bananère (Pindamonhangaba, 11 de abril de 1892 — São Paulo, 22 de agosto de 1933) era o pseudônimo usado pelo escritor, poeta e engenheiro brasileiro Alexandre Ribeiro Marcondes Machado para criar obras literárias num patois falado pela numerosíssima colônia italiana de São Paulo na primeira metade do século XX, que aportava na capital em busca de oportunidades de trabalho, tornado a cidade o maior centro de imigração italiana do país. Muitos deles não conseguiam seu objetivo, amargando subempregos e uma sofrível condição social. Mas, pelo menos, contavam com alguém na imprensa para representá-los, escrevendo nos seus dialetos de origem. (...)
Criou versos paródicos de sonetos de poetas famosos como Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Luís de Camões e de poesias de Casimiro de Abreu e Guerra Junqueiro.
Com sua irreverência, incomodou diversas figuras proeminentes da política e do governo de sua época, como o prefeito de São Paulo Washington Luis e o presidente da República, marechal Hermes da Fonseca.
Utilizando-se de uma mistura de italiano e português recorrente nos bairros paulistanos de imigrantes, sua principal fonte de inspiração estava nas ruas da São Paulo pré-modernista da época, para onde retornavam também suas obras concluídas, motivo do seu enorme sucesso de época, com repercussões em textos de outros autores.
Fez ainda paródias de La Fontaine e Machado de Assis, mantendo sempre a mistura dos idiomas italiano e português.
Durante mais de duas décadas, Juó se fez presente no cenário cultural brasileiro com seus textos criativos e bem-humorados, utilizando os mais variados estilos literários, com enorme popularidade.
Sua principal obra foi o livro La Divina Increnca, paródia da Divina Comédia, de Dante, editado pela primeira vez em 1915 e reeditado em 1924, 1966 e 1993 (esta última edição, pela Escola Politécnica da USP, nos cem anos de sua fundação, em homenagem ao ilustre ex-aluno). Todos os seus textos eram marcados por uma linguagem satírica e auto-laudatória. Juó Bananère intitulava-se Candidato à Gademia Baolista de Letras (Candidato à Academia Paulista de Letras)
Caricatura de Juó Bananère desenhada por Lemmo Lemmi (Voltolino)
Paródia de Juó Bananère ao poema "Canção do exílio" de Gonçalves Dias
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Che tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Che non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rios di tuttas naçó;
I os matto si perde di vista,
Nu meio da imensidó.
Na migna terra tê parmeras
Dove ganta a galigna dangola;
Na migna terra tê o Vap'relli,
Chi só anda di gartolla.
[Extraído da Wikipédia, em 02/06/2017]
O LOBO I O GORDERIGNO
A FÁBULA DO BRÁS em "LA DIVINA INCRENCA"
Un dia n'um riberó
Chi tê lá nu Billezinho,
Bebia certa casió
Un bunito gorderinho.
Abebia o gorderinho,
Chetigno como um Juriti,
Quano du matto vizigno
Un brutto lobo saí.
O lobo assi che inxergô
O pobre gordêro bibeno,
O zoglios arrigalô
I logo giá fui dizeno:
— Olá! ó sô gargamano!
Intó vucê non stá veno,
Che vucê mi stá sujano
che io stô bibeno!?
— Ista é uma brutta galunia
Che o signore stá levantáno!
Vamos xamá as tistimúnia,
Fui o gordêro aparlano...
Non vê intó Incelencia,
Che du lado d'imbaixo stó io
I che nessum ribêro ne rio,
Non górre nunca p'ra cima?
— Eh! Non quero sabe di nada!
Si vucê non sugió a água,
Fui você chi a simana passada
Andó dizeno que io só un pau d'água.
— Mio Deuse! che farsidade!
Che genti maise mentirosa,
Come cuntá istas prosa,
Si tegno seis dia d'indade?!
— Si non fui você chi aparlô,
Fui un molto apparecido,
Chi també tigna o pelo cumprido,
I di certo chi é tuo ermô.
— Giuro, ó inlustre amigo,
Che istu tambê é invençó!
Perché é verdade so che digo,
Che nunca tive un ermô.
— Pois se num fuji tuo ermô,
Cabemos con ista mixida;
Fui di certo tuo avó
Che mexê c'a migna vida.
I avendo acussi parlato,
Apigó nu gorderigno,
Carregó illo p'ru matto
I cumeu illo intirigno.
MORALE: O que vale nista vida é o muque!
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BANANÉRE, Juó, pseud. Alexandre Marcondes Machado. La divina increnca. Reprodução integral da primeira edição de 195 acrescida de textos introdutórios de Otto Maria Carpeaux e Antônio de Alcântara Machado. São Paulo: Editora 34, 2017. 72 p. 13,5x22,5 cm. Capa e projeto gráfico: Baracher & Malta Produção Gráfico. Ex. bibl. Antonio Miranda
VERSIGNOS
Quano vejo uma minina,
Fico lógo paxonado!
Dô una ogliada p'ra ella,
I vô saino di lado.
Fui andáno pr'un gamigno,
Incontrê un piga-pau.
Fui guspi' nu passarigno
I guspi' nu Venceslau.
Barbuleta di aza adurada,
Minina da migna paxó!
Agiugué nu giacaré,
I perdi meu quinhentó!
O Hermeze tê xirigno,
O ratto morto tambê!
O capito tê caguira,
O migno saló tambê.
Atiré un lemó verdi,
Lá na torre du Belê;
Dê nu gravo, dê na rosa,
I no Capito tambê.
Lá vê a lua surgino,
Uguali c'oa pomarolla;
Si vucê non gazá cumigo,
Ti batto e'oa gaçarola.
Genti véglia non tê denti
Griança tambê non tê;
O Capito non tê dignêro
lo non tegno tambê.
Quano Gristo fiz o mondo,
Uguali come una bolla,
O Spensero Vapr'elli
Andava giá di gartolla.
Piga-pau é passarigno,
O pappagallo tambê.
Tico-tico non tê denti,
Migna avó tambê non tê.
TRISTEZZA
Io dexo a vita come un tirburêro,
I Chi dexa as rua sê cavá frigueiz;
Come un pobri d'un indisgraziato,
Chi giá andô na Centrale arguna veiz;
Come Gristo chi fui grueificato,
I assubí p'ru çéu come un rojó!
Só levo una sodade unicamente:
E' daquilla pinguigna lá du O'.
Só levo una sodades:—d'una sombra
Che nas notte di inverno mi cubria...
Di ti — ó Juóquina, goitadigna,
Che io amatê con tanta cuvardia.
Discançe migna cóva lá nu Piques,
N'un lugáro sulitário i triste,
Imbaxo d'una cruiz, i scrivan 'ella:
— Fui poeta, barbiére i giurnaliste!
POESIA - PIADA – Breve antologia da poesia engraçada. Organizador: Gregorio Duvivier. São Paulo: Ubu Editora: 2017. 10 x 15 cm col. Capa dura. ISBN 821.134-3-1. Inclui os autores: José Paulo Paes, André Dahmer, Alice Sant´Anna, Millor Fernandes, Bruna Beber, Juó Bananére, Pedro Rocha, Chacal, Vinicius de Moraes, Bith, Paulo Leminski, Bruno Brum, Mário Quintana, Gregorio Duvuvier, Cacaso, Gregório de Matos, Geraldo Carneiro, Hilda Hilst, Oswald de Andrade, Francisco Alvim, Alice Ruiz, Mano Melo, Leila Miccolis, Angélica Freitas, Eudoro Augusto, Zuca Sardan, Eduardo Kac, Glauco Mattoso. [ Poesia satírica, humorística ) Ex. bibl. Antonio Miranda
VERSOS
Ficas n'un ganto da sala
P'ra fingi chi non mi vê,
E io no ôtro ganto
Stô fingino tambê.
Ma vucê di veiz in veiz
Mi dá una brutta spiada,
E io tambê ti spio
Ma finjo chi non vi nada.
Cunversas co Bascualino
P'ra mi afazê a gelosia,
Ma io p'ra mi vingá
Cunverso tambê c'oa Maria.
Tu spia intó p'ra Maria
Con ar di querê dá n'ella;
P'ra evitá quarquére asnêra
Si afasto i vô p'ra gianella.
O firmamento stá scuro
I na rua os surdato apita,
Inguanto nu ganto da sala
Tu fica afazéno "fita".
Marietta non segia troxa,
Non faccia fita p'ra gente,
Perchê vucê quêra ô non quêra
Io ti quero internamente.
SOGRAMIGNA
Sogramigna infernale chi murré
Vintes quatro anno maise tardi che devia,
Fique aí a vita intêra e maise un dia,
Che io non tegno sodades di vucê.
Nu doce stante che vucê murrê
Tive tamagno attaque di legria
Che quasi, quasi, murri aquillo dia,
Co allegró chi apagné di ti perdê.
I oggi cuntento come un boi di carro,
I mais libero d'un passarigno,
Passo a vita pitáno o meu cigarro,
I maginando chi aóra inzatamente
Tu stá interrada até o piscocigno
Dentro d'un brutto taxo di agua quente.
Mais poemas deste autor em: www.escritas.org/pt/juo-bananere
Página publicada em junho de 2017. Ampliada em setembro de 2017. ampliada em maio de 2019