JUDAS ISGOROGOTA
Judas Isgorogota (Agnelo Rodrigues de Melo) nasceu em Lagoa da Canoa, Alagoas, (1921) viveu em Maceió, mudou-se aos 23 anos para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo onde ganhou projeção internacional e veio a falecer em 1979. Publicou 15 livros de poesias, uma novela e cinco de poesias infantis. Parte de sua obra poética traduzida para vários idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, italiano, húngaro, árabe, checo e lituano).
TEXTO EN ITALIANO
MONJAS
Passam cedo, às manhãs ... É um tumulto a cidade ...
E aos pares vão, assim, tristes como as cegonhas,
Silenciosas, sutis, leves como a saudade ...
Eu amo a calma azul dessas almas bisonhas
Que áureas bênçãos dos céus pedem aos astros pelas
Almas boas que estão padecendo, tristonhas ...
Que de angústias nos vêm penalizar a vê-las
Pelas ruas seguir, mudas, apreensivas,
O olhar perdido além, na região das estrelas ...
Meu coração, também tem clausuras e ogivas
E tem sombras também, esquisitas, sedosas,
Sombras vagas, irmãs dessas monjas esquivas ...
Perfumam seus murais confidências e rosas
E tragédias sem par recordam vagamente
Os sombrios vitrais das celas silenciosas ...
Há mistérios assim na alma de toda gente ...
Todos, dentro de nós, sentimos, em verdade,
Que alguém vive a rezar, a sós, contritamente ...
Neste instante em que a luz do sol doira a cidade,
Vocês deixem-me aqui, um momento a pensar ...
Dentro em meu coração, leves como a saudade,
Compassivas irmãs, vão passando, a rezar ...
DIVINA MENTIRA
Pobrezinha da mãe que teve um filho poeta
E o viu partir para as bandas do mar ...
Nunca mais que ele volte à mansão predileta,
Nunca mais que ele deixe, um dia, de chorar ...
É como a água de um lago, inteiramente quieta,
A alma de toda mãe que vive a meditar:
O mais leve sussurro é-lhe um toque de seta,
A mais leve impressão basta para a assustar ...
Eu, por sabê-la assim, quando lhe escrevo, digo:
" — Minha querida mãe, não se aflija comigo.
Eu vou passando bem ... Jesus vela por mim ... "
É que assim, ela — a humana expressão da bondade —
Contente por saber que vou sem novidade,
Jamais há-de pensar que eu vá mentir-lhe assim ...
Extraídos de:
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm.
Saudade
.
Mudos, olhando o embalo das maretas
os dois homens pararam; junto ao cais,
balouçantes, enormes silhuetas
.
de velhos barcos setentrionais
faziam retinir, como grilhetas,
os elos das correntes colossais...
.
Foi olhando essas naus, à Ave Maria,
na hora em que tudo em solidão se vê,
.
que aqueles homens rústicos, um dia,
choraram muito sem saber porquê...
.
De
Judas Isgorogota
A ÁRVORE SEMPRE VERDE
São Paulo: Edição Saraiva, 1959
A ÚLTIMA LEGENDA
Aos paulistas de 32
Num gesto juvenil, tombou tal como um lutador olímpico:
— sobre a face risonha a expressão do herói helênico e esportivo
que lutou, golpe a golpe, ombro a ombro, a alma aberta, incendiada,
do mais alto ideal: — morrer pela Pátria que morre;
— o ultimo olhar preso ao gradil das sorridentes pálpebras
como ainda a lembrar a ação do lance decisivo:
a lâmina luzindo ao sol, os músculos retesas,
e, aureolada de tênue lua, florão de glória e sangue,
a cabeça a pender, feliz, diante da Eternidade;
— e à flor do lábio ingênuo e puro, iluminado e telo,
o sorriso de quem sangrou por amor à beleza
da vida, por amor do Ideal e por amor da luta,
dando o exemplo imortal: cair, sorrindo, como um símbolo, \
e não perder a fé, mesmo perdendo a derradeira lança.
Grande o povo a quem, a Morte inspirou apenas um sorriso.
TEXTO EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
L'EROE
"Papá, cos'è un eroe ?
Domando perche ho moita volontà
D'essere eroe anch'io ...
Sarà ch'io possa essere un eroe
Senza fare la guerra ?
Sarà ch'io possa essere un eroe
Senza odiare gli uomini,
Senza uccidere
IL somigliante mio ?
L'uomo, che avea sofferto
Le piú profonde angustie;
Le piu brutte miserie,
Lavorando l’aridezza delia terra infeconda,
Acciò non mancasse il pane
nella povera casa;
L'uomo, che la piu piccola illusione
Aveva perso nel quotidiano e ingrato lavorare,
Guell’uomo, al sentir la dom anda dei figlio :
"Papa, cos'è un eroe ?"
Nulla seppe dire, nulla seppe spiegare . . .
Prese la bisaccia
E se ne andò, cantando, a seminare !
RACCOMANDAZIONI
"Se per caso tu arrivi alia capanna
E la mamma dice : "Come sta mio figlio ?
Sara che sta bene o sarà che m'inganna ?"
Tu non le dirai che io cosi . . . m'abbiglio,
Ma, sorridendo : "Stia in pace, signora,
Ei vince, scherzando, il piu grave periglio ...
Ormai è un’altro, non si conosce piu ! . . ."
Se mia sorella ti dice : "E mio fratello ?
Ne parla la gente ? È molto ben voluto ?
Ei verrà quest’anno, piu forte e piu bello ?"
Tu non le farai la mia povera storia . . .
Ma, sorridendo, dirai : "Tuo fratello
Riceve ogni giorno l’amore e la gloria !
Ormai è un'altro ! . . . Non si conosce più"
Ma se, frattando, raggiungerai la casa
Che io un dì lasciai traballando e muto.
Come ala colpita ancor viva rimasa.
E una voce dica, accarezzante e lieve :
"Come sta, signore, il fidanzato mio ?"
Tu ! dirai appena : "Lei comprender deve,
Ormai è un'altro . . . non si conosce più ! . . ."
Página publicada em maio de 2010. Ampliada em janeiro de 2016. |