JOYCE CAVALCANTE
CAVALCANTE, Joyce. Livre & objeto. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1980. s.p. Poemas em prosa, eróticos, ilustrados com fotos do Templo dos Prazeres, na Índia. Tiragem: 1500 exs, papel couchê. 18x27 cm Col. A.M. (EE)
JOYCE CAVALCANTE
CAVALCANTE, Joyce. Livre & objeto. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1980. s.p. Poemas em prosa, eróticos, ilustrados com fotos do Templo dos Prazeres, na Índia. Tiragem: 1500 exs, papel couchê. 18x27 cm Col. A.M. (EE)
“É importante assinalar, todavia, o quanto a autora, nesta busca de situar-se e assumir-se como sujeito através do texto, vai deslizando da prosa para o campo da expressão poética, mostrando, mais uma vez, ser a poesia o veículo natural para todas as propostas liberadoras, para todos os questionamentos daquilo que nossa civilização tem de repressivo e limitador da individualidade e da plena explicitação do prazer.” CLAUDIO WILLER
Era tempo para que já um dos homens tivesse feito em mim o que meu corpo esperava quando se amanteigava e doía, inchava; preparado para receber, absorver, tragar. E, eu me lembro do
primeiro a me fazer no sexo uma sensação de quente e frio, de gostar e não. De querer que tire enquanto grito, reclamando, pedindo que bote.
Foi vez de pensar não poder aguentar, balanceada ao desejo mais forte de conhecer um movimento que me complementasse.
Me lembro de querer ter sido igual a ele, me expulsar como ele se fazia em cima de mim, mista de esperma e sangue, nojo e medo.
Independente do corpo exausto horizontal nos lençóis, os bigodes reimosos daquele homem que eu pretendi. Continuo a sentir me coçar pelo corpo a vontade que sempre me deixava o útero doído, após. Ele dormindo, ou quase murcho, abandonado. Eu queimando, tentando reativar seu lenho convexo inesgotável, justamente por ser meu côncavo nunca satisfeito. Debruço-me e peço mais. O sono. O gasto. Resposta alguma nele, a não ser em seus bigodes que numa profunda homenagem à vigília acordam preguiçosos, se embaraçam nos meus pêlos misturando líquidos. Exploram-me. Desabrocho as pernas e tremo o ventre e acalmo-me.
Página publicada em janeiro de 2012.
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