JOSÉ MALANGA
MALANGA, José. Santa Melancolia. Versos de José Malanga. São Paulo: 1940. 195 p. Coleção “XI de Agosto”, vol. XI) 12x18 cm. Capa de Ourique. Prêmio “Álvares de Azevedo” da Academia Paulista de Letras. Composto e impresso da Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais”. Col. A.M. (EA)
MELANCOLIA*
Já se vão muitos anos, bem-amada,
Quando ao chegar a noite de mansinho,
Lampiões se acendiam na calçada
E o abajur se apagava em nosso ninho.
Na quietude da alcova perfumada,
Aconchegada nos lençóis de linho,
Vinhas tu para mim, ruborizada,
Doce brinquedo para o meu carinho.
Depois... O nosso amor, nosso segredo,
O nosso idílio comovente, imenso,
Ficou desfeito... E tudo está mudado!
Apagam-se os lampiões de manhã cedo,
E em nosso ninho, onde eu soluço e penso,
O abajur se conserva iluminado.
OUTROS TEMPOS*
Em outros tempos, nos serões passados,
Em nosso apartamento acolhedor,
Nós dois, serenamente sossegados,
Fomos vivendo nossa vida em flor.
Era um simples casal encantador
O mais simples casa de namorados.
Ficava a trançar os teus bordados,
Eu ficava a escrever versos de amor.
Correu o tempo e em nosso apartamento,
Teus dedos tremem... Já não bordas mais...
Têm a alvura da neve os teus cabelos...
E os versos que me vêm ao pensamento,
Tão dolorosos e sentimentais,
Ficam suspensos, deixo de escrevê-los.
*Ortografia atualizada.
Página publicada em março de 2012
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