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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JOSÉ LUIZ AIDAR


26 anos, cursa atualmente [em 1980] pós-graduação em Engenharia Urbana na USP. Frequentou o Curso de Teatro do T. E. Macunaíma. Foi classificado no 1º. Concurso Mackenzie de Poesia Universitária. Participou das atividades do Grupo Peco, tendo, inclusive, colaborado nas antologia  — ensaios II e IV. Reside em São Paulo 

 

QUADRÍVIO: Fernando Aruta, Ivana de Arruda Leite, José Luiz Aidar, Waldemar Gaspar Jr.    Desenhos de May Shuravel.
São Paulo: Massao Ohno Editor, 1980.  s.p.  18x27 cm. 
Col. bibl.  Antonio Miranda.

 

A seguir, uma seleção de poemas do autor extraídas do livro Quadrívio:

 

         PLANISFÉRIO

“O canto é minha explicação
mesmo que diga o que não sei.
Sou o sentido do que se transforma,
do que resiste à purificação.”
Marly de Oliveira

 

         PROCURA

                   para Eucy

Vasculho a garagem
diariamente:
maldita carta
que não chega!
É uma palavra
que espero,
brocado silencioso,
sutil, escondidamente
hermético.
É um modo de dizer,
um tipo de letra,
é meu nome escrito
por aquela mão; esperança.
É determinada bronca
para passar angústia.

Olhar penetrante
de tanto peso
que a vida separou —
é sua dimensão,
o jeito que ocupa o mundo,
nos objetos do mundo,
é o jeito de respirar.
É a pele.



EUCARÍSTICA

       
para C. D. Andrade

 

No sertão há apenas
o espantalho
imóvel
seco
duro e forte

de tão pouco se faz pão.


SOPRO

insisto
confundo
indago

a célula nervosa desperta:
insônia

tua mão fria
me acorda
de noite
suor

infeliz perda:
canto extrapolado
além da vida

o coração já paira
sem tanta reviravolta

teimo com mais vagar

resta escolher
uma das unhas
(todas as luzes
é impossível)

a fixação desaparece
de minha saudade
tempo

 

PLANISFÉRIO

eu giroscópio na ponta
de minha indagação

projeto no branco
as fome de meus hemisférios


RELEVO

Sou quem sou.
Bagunça.
Agora: alegre.
Sempre: triste.
Meu vaso imóvel no escuro,
sem rosa.
Meu arco-íris disperso.
Minhas erosões.
O renovar: minha esperança secreta.
Minha sombras ao meu lado,
O amor noturno.
Meu Drummond de criado-mudo.
Meu calo no coração.
E vário e distribuído.


              ONTOLÓGICO

eu  em  eu-mesmo:
curiosa
maneira
de estar
em mim

como  cinza
que  está
em  cinzeiro
que   deveria
estar
limpo

 

 INUNDAÇÃO
(incomunicabilidade)

pontes  efêmeras:  distância
crises   de apoio:  discórdia
ausência  de  esteio: cansaço.

visão  apenas  estrutural
relações  sem  consonância
homens  truncados

mitos  que   se partem:  dor
bazófios  de  laboratório:  ludo
diretório  de  algaravias:  medo

alcalifa
sobre  a  verdade:      
ilhas

 

 

Desenho de MAY SHURAVEL:

 

 

Página publicada em julho de 2020


 


 


 

 

 
 
 
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