JOSÉ EDUARDO SIMÕES
MIMESIS. Poesia de imitação. Por que não? Ninguém cria no vazio, sem modelos, sem exemplos a seguir. Não é bem assim: tem quem contradiga, maldiga, tergiverse. Versar pelo avesso... Mas a nossa inteligência coletiva está calcada em exemplos, em estruturas que colhemos e incorporamos e, sem dar-nos conta, tomam conta de nós. No caso de José Eduardo Simões, ele não plagia, ele transcria ou faz a mimese pessoal, interpretativa. Caminho de todos, no caso dele, consciente. Mas é um caminho de pedras, como vaticinou. Podemos contorná-las. José Eduardo não quer evadir, quer possuí-las e remoldá-las. Refazê-las, mas sem fugir do sentido original. Perigo! Pode, sem querer, superá-las mas, no mais das vezes, corre o perigo de ficar aquém delas, contemplando-as sem conseguir expressá-las, ou fazê-lo frasalmente, falsamente, mente falsa... Mas vale conferir os resultados. Podem ser, muitas vezes, mais frasais que os originais, mas nunca, jamais, banais e triviais. Confiram.... (Comentário inoportuno de ANTONIO MIRANDA)
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SIMÕES, José Eduardo. Imitações. São Paulo: Scortecci, 2008. 101 p. 13x18 cm. “ José Eduardo Simões “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Quando eu morrer, não quero voltar*
Quando eu morrer, não quero voltar.
Não conte a ninguém, amigo,
mas já agora, nesta idade,
daqui não sinto saudade.
Meus pés, firmes outrora,
às vezes agora tropeçam,
mas dentro da minha cabeça,
ideias mil ainda acontecem.
Meus neurônios quase fundem,
quase me deixam insano,
mas vivo do pensamento,
sem ele é que viro defunto.
*Inspirado no poema. Quando eu morrer quero ficar, de Mário de Andrade.
Ubaldi*
Por mais que te celebre, não me basta.
Embora me esforce, a ti não me assemelho.
Quisera olhar-me num espelho
e ali perceber tua fronte basta.
Deponho a teus pés, meus pensamentos.
Ser fraco eco de tua voz, já me orgulho,
mas ausências preenchem os meus escritos,
tantas que penso serem apenas entulhos.
Todavia, este que te adora não quer silenciosa
a pobre voz que, em verso e prosa, se esforça para o imenso colocar no diminuto.
Se na Terra não brilha ainda tua estrela,
é porque somos insensíveis à beleza,
à profundidade de um pensamento que poucos escutam.
*Inspirado no poema 2° motivo da rosa, de Cecília Meireles.
Minhas tristes aventuras*
Não consegui manter o nobre pacto
entre o cosmos nascente e minha alma ainda pura.
Não acreditei poder ser verdade o facto
de a vitória ser destinada ao caos sob a vontade
revoltosa da nascente criatura.
Sim, fez-se luz, mas em meio à tempestade.
E agora luto pra voltar ao estado
de inocência que era meu antes desta triste aventura.
Joguei-me em um mar de sofrimentos...
Não sei quando terão fim, Telmah, mas assim
que conseguir findar todos os meus tormentos,
não mais agir como um cego Serafim,
tomar-me clarividente e também capaz de escutar o som,
a música do Universo que é a mais pura
sensação de Deus dentro de mim, então voltará
a inocência que era minha antes desta triste aventura.
* Inspirado no poema Balada, de Mário Faustino.
Página publicada em maio de 2015.
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